CONTOS E FÁBULAS

Os contos e fábulas abordam diversos temas, como viver, amor, conflito, identidade, morte, fantasia, moralidade, isolamento, mistério, crescimento pessoal e aventura.
CONSEITO E DEFINIÇÃO
Contos: são narrativas curtas de ficção que apresentam uma história completa em um espaço restrito. Contos são histórias contadas há milhares de anos, de geração em geração, sendo de origem popular, são lendas, mitos, narrativas do folclore e histórias da literatura que, de tanto serem repetidas de geração em geração, têm importante papel na cultura brasileira, conto é um gênero literário marcado pela concisão. Tais narrativas têm, em geral, poucos personagens, espaço e tempo restritos e um conflito único por definição do abstrato.
Fábulas: são narrativas de caráter ficcional e que usa a alegoria para construir seus sentidos. Os animais todos eles, que são personagens, possuem características humanas ou fantasmagórica, como a ganância, a preguiça, a inveja, a sabedoria, a astúcia, o trabalho, as conquistas, os fracassos, os heróis e heroínas etc...
Confira estas histórias tradicionais que possuem lições valiosas, guardadas em cada parágrafo.
A expressão o Canto do Cisne é uma metáfora que se refere geralmente à última tentativa de fazer algo grandioso por parte de uma pessoa antes de sua morte. A expressão é utilizada para exprimir as grandes obras finais dos artistas, ou também alguma tentativa final de manter a grandiosidade em alguma carreira, ou em qualquer outra esfera social.
A Raposa e a Semente Dourada
Era uma vez, em uma floresta vasta e misteriosa, uma raposa chamada Ruvina, conhecida por sua sagacidade e rapidez. Certo dia, enquanto explorava um campo distante, encontrou uma pequena semente dourada brilhando sob a luz do sol.
Intrigada, Ruvina procurou a coruja anciã da floresta, que lhe revelou um segredo: aquela semente tinha um poder especial. Quem a cultivasse com paciência e cuidado veria sua vida prosperar, mas quem buscasse atalhos para seu crescimento poderia perder tudo.
Ruvina ficou dividida. Por um lado, queria o sucesso imediato, por outro, sabia que escolhas bem feitas exigem tempo e dedicação. Diante da decisão, viu o urso Brando passar e rogou-lhe um conselho:
— Se quer riqueza rápida, há um mercado no vale onde pode vender a semente. Mas lembre-se, o que cresce rápido, também pode desaparecer rápido o que se consegue rápido assim por outro lado, se perde.
A raposa hesitou, mas decidiu plantar a semente com cuidado e aguardar seu crescimento natural. Regava-a todos os dias, protegia-a do calor excessivo, do frio e do vento forte. Passaram-se meses, e de sua dedicação nasceu uma árvore majestosa, cujos frutos eram de ouro puro.
Enquanto isso, outros animais que venderam suas sementes logo gastaram suas moedas e voltaram à vida de escassez. Ruvina, porém, viveu próspera, pois sua escolha bem-feita lhe garantiu frutos contínuos, e não uma recompensa passageira, vale seguir os instintos, mas ouvir bons conselhos ajudam nas escolhas certas.
Moral da história: Escolhas bem-feitas exigem paciência e visão de longo prazo, pois o que se constrói com dedicação dura muito mais do que aquilo obtido por mero impulso momentâneo.
A Chama de Cádiz
Cádiz, julho de 1936. O sol queimava as pedras da Plaza de San Juan, onde Elena, uma jovem costureira de 22 anos, distribuía panfletos da CNT. O ar cheirava a sal e tensão. Há dias, os rumores de um golpe militar ecoavam, mas Elena acreditava na força do povo. Seus olhos brilhavam com a ideia de uma Espanha livre, sem reis ou generais.
Ao meio-dia, gritos romperam a praça. Soldados marchavam, fuzis em punho, liderados por um oficial de bigode ralo que gritava ordens. "Abaixo a Ditadura!" Elena sentiu o sangue gelar, mas suas mãos apertaram os panfletos. Ao seu lado, Miguel, um estivador barbudo, murmurou: "É agora, camarada. Ou lutamos, ou morremos."
A multidão se agitou. Trabalhadores, pescadores e mulheres como Elena ergueram barricadas com carroças e sacos de areia. Pedras voaram contra os soldados, que responderam com tiros. O som dos disparos misturava-se aos gritos de "No passaram!" Elena, sem arma, corria entre barricadas, levando mensagens, água, comida, remédios e bandagens.
Em um beco, viu um menino de dez anos, Pablo, segurando uma faca de cozinha, pronto para lutar. "Vai pra casa, pequeno," ela disse, mas ele balançou a cabeça negativamente. "Minha mãe tá lutando. Eu também." À noite, a praça era um campo de batalha. Miguel, ferido no ombro, ainda atirava com um fuzil roubado.
Elena, exausta, ajudava a carregar um companheiro baleado. De repente, uma explosão sacudiu o chão, granadas das tropas reacionárias. A fumaça subiu, mas a voz do povo não se calou. Cantavam "A Las Barricadas", e Elena, com lágrimas nos olhos, juntou-se ao coro.
Por três dias, Cádiz resistiu. Mas as tropas de Franco avançaram, com tanques e reforços. Elena e os sobreviventes fugiram para as montanhas, onde a luta continuaria. No último olhar para a cidade, ela viu Pablo, agora com um rifle maior que ele, marchando com os milicianos. A revolução ardia em seus corações, mesmo na derrota.
Anos depois, sob a ditadura, Elena, agora grisalha, contava a história em sussurros. "Perdemos Cádiz," dizia, "mas nunca a esperança." E, em segredo, ensinava às crianças as canções da liberdade, sabendo que a chama jamais se apagaria.e bandagens improvisadas.
Em um beco, viu um menino de dez anos, Pablo, segurando uma faca de cozinha, pronto para lutar. "Vai pra casa, pequeño," ela disse, mas ele balançou a cabeça. "Minha mãe tá lutando. Eu também." À noite, a praça era um campo de batalha. Miguel, ferido no ombro, ainda atirava com um fuzil roubado.
Elena, exausta, ajudava a carregar um companheiro baleado. De repente, uma explosão sacudiu o chão, granadas dos nacionalistas. A fumaça subiu, mas a voz do povo não se calou. Cantavam "A Las Barricadas", e Elena, com lágrimas nos olhos, juntou-se ao coro na resistência.
Por três dias, Cádiz resistiu. Mas as tropas de Franco avançaram, com tanques e reforços. Elena e os sobreviventes fugiram para as montanhas, onde a luta continuaria. No último olhar para a cidade, ela viu Pablo, agora com um rifle maior que ele, marchando com os milicianos. A revolução ardia em seus corações, mesmo na derrota.
Anos depois, sob a ditadura, Elena, agora grisalha, contava a história em sussurros. "Perdemos Cádiz," dizia, "mas nunca a esperança." E, em segredo, ensinava às crianças as canções da liberdade, sabendo que a chama jamais se apagaria.
NOTA: "Que Nós brasileiros não tenhamos de passar por esta possibilidade" (Igidio Garra)
O Mentiroso
Na vila de Pedra Branca, todos conheciam levava a sério. Lazejo, o mentiroso. Ele não mentia por maldade, mas por necessidade. Desde pequeno, suas histórias fantásticas o salvavam da solidão.
Contava que voara com pássaros gigantes, que encontrara um rio de ouro nas montanhas, que conversava com o vento. As crianças o adoravam, os adultos riam, mas ninguém levava a sério.
Lazejo vivia numa casa torta, no fim da rua, com um telhado que parecia prestes a desabar. Era pobre, mas suas mentiras o faziam rei em sua própria mente.
Certa vez, numa noite de tempestade, a vila entrou em pânico: o rio transborda, ameaçando engolir as casas. Enquanto os homens tentavam erguer barreiras de sacos de areia, levava a sério. Lazejo apareceu, gritando:
— Eu sei como parar o rio! Já vi isso antes, numa terra distante! Precisamos cavar um canal para desviar a água até a ravina seca!
Os moradores, desesperados, duvidaram. "Mais uma lorota", disseram. Mas o velho Matiazo, que sempre tivera um fraco pelas histórias de levava a sério. Lazejo, insistiu: "E se ele estiver certo? Não temos nada a perder!"
Sem escolha, a vila seguiu o plano de Lazejo. Homens, mulheres e até crianças cavaram sob a chuva torrencial, guiados pelas instruções precisas do mentiroso. Para espanto de todos, o canal funcionou.
A água rugiu para a ravina, poupando a vila e, não era que o mentiroso estava certo, mas sim que o destino, em sua ironia, decidiu brincar com a verdade!
Quando a tempestade passou, os moradores olharam para Lazejo com novos olhos. "Como tu sabias?", perguntou Matiazo. Lazejo sorriu, os olhos brilhando. "Eu vi... num sonho. Ou talvez numa outra vida."
Ninguém sabia se era verdade ou mais uma mentira. Mas, pela primeira vez, não importava. Lazejo, o mentiroso, salvara Pedra Branca. E, dali em diante, suas histórias ganharam um toque de respeito e um pouco de mistério.
Falar a Verdade no Brasil, Virou Crime: Um Fenômeno Social!
Era uma manhã qualquer no interior do Brasil, dessas com cheiro de café coado e som de passarinho disputando espaço com o ronco distante de um trator. Dona Mena, uma senhora de 60 anos, cabelos grisalhos e olhos que já viram de tudo, resolveu abrir o bico no grupo de WhatsApp da família. "Esse governo tá uma bagunça, ninguém aguenta mais tanta promessa furada", escreveu ela, com a coragem de quem já perdeu a paciência e o filtro. Mal sabia dona Mena que, naquele instante, estava pisando num terreno minado.
Não demorou cinco minutos para o sobrinho, aquele que vive postando foto com camisa da seleção e frases de efeito, responder: "Tia, cuidado com o que fala, isso é fake news! Vai acabar presa!". Presa? Dona Mena, que mal sabia ligar o Wi-Fi sozinha, ficou olhando o celular como se ele tivesse virado um bicho de sete cabeças. "Mas eu só disse o que penso", respondeu ela, ainda tentando entender onde tinha errado.
A história de dona Mena não é exceção, é quase regra. Falar a verdade no Brasil virou um esporte de alto risco, um fenômeno social que mistura medo, confusão e um punhado de leis que ninguém entende direito. Parece que a verdade, essa danada, resolveu virar criminosa de um dia por outro. Antes, era só abrir a boca e soltar o que estava entalado na garganta, hoje, é melhor pensar dez vezes, consultar um advogado e, de quebra, rezar pra não virar meme nas redes sociais.
No bar da esquina, o Seu Zéka, dono do estabelecimento e filósofo nas horas vagas, já tinha sua teoria: "É o tal do politicamente correto misturado com essa mania de querer calar todo mundo. Se você fala que o preço da gasolina tá um absurdo, já vem alguém dizendo que é desinformação. Se reclama do buraco na rua, vira caso de polícia. A verdade agora tem dono, e quem discorda leva chumbo!". Ele ria, mas o riso era amargo, de quem sabe que o papo é sério. E não é só no dia a dia que a coisa pega. Nas redes sociais, então, virou um campo de batalha. Outro dia, um rapaz postou no X que o rio da cidade tava mais sujo que fossa de chiqueiro.
Era verdade, qualquer um que passasse por lá sentia o cheiro a quilômetros. Mas não deu meia hora pra aparecerem os fiscais da internet: "Cadê a fonte? Isso é discurso de ódio contra o meio ambiente!". O coitado tentou explicar que era só um jeito de falar, mas já era tarde o cancelamento veio mais rápido que entrega de delivery. O curioso é que, no meio dessa confusão toda, a mentira anda de mãos dadas com a hipocrisia.
Políticos prometem mundos e fundos, empresas juram que o produto é "100% natural", e ninguém cobra recibo. Mas experimente apontar o dedo pra essa turma: vira crime contra a honra, difamação, ou qualquer outro nome pomposo que o advogado de plantão inventar. A verdade, coitada, fica ali, acuada, esperando alguém com coragem de defendê-la.
Dona Mena, depois do esporro no WhatsApp, resolveu se calar. "Melhor ficar quieta, vai que me botam na cadeia por causa de um desabafo", disse ela pro marido, que só balançou a cabeça, concordando em silêncio. Mas, lá no fundo, ela ainda pensa: "Que país é esse onde falar o que se vê e o que se sente virou caso de polícia?". Quando a defesa é cerceada de acesso às provas de uma denúncia da PGR, o julgamento nasce viciado.
A falta de transparência compromete o direito fundamental à ampla defesa, essencial para um processo justo. Talvez seja esse o maior crime: o silêncio que vai tomando conta, sufocando a verdade como quem apaga uma vela com os dedos. No Brasil de hoje, falar o que pensamos é um ato de rebeldia e, quem diria, um fenômeno social que não para de crescer, até quando!
Tomar o Poder, é Diferente de Ganhar Eleições!
Era uma manhã de sol tímido, daqueles que parecem pedir licença para brilhar. Uma eleição cheia de regras de ultima hora, um dos candidatos mal podia falar o trivial e ja era multado e propaganda retirada das mídias, o opositor retirado pelos amigos da cadeia "lavaram, a ficha dele".
Esse ah! tudo podia, falava mal de tido mundo numa campanha suja e sem regras sem ética sem nada, imoral, sabe-se lá, como foi eleito. A cidade ainda digeria os resultados estranhos das urnas, com bandeiras coloridas tremulando nas janelas e conversas acaloradas nas padarias.
ZéPilintra, um barbeiro de bairro com mais histórias do que fios de cabelo cortados, servia café enquanto comentava com os clientes: "Ganhar eleição é fácil, viu? Basta prometer o céu". Agora, tomar o poder... isso é outra conversa. "ZéPilintra não era de teorias complicadas, mas tinha o dom de enxergar a vida como quem lê um livro aberto. Ele se lembrava de dona Clarita, a vereadora eleita com uma campanha humilde, feita de porta em porta. Clarita prometia creches, asfalto novo e médicos nos postos de saúde. Ganhou com folga, carregada nos ombros do povo.
Mas, quando pisou na prefeitura, descobriu que o poder não estava na cadeira que ocupava. Estava nas mãos de quem controlava os contratos, as verbas, as alianças nos bastidores. "É como entrar num baile onde a música já tá tocando, e você não sabe a dança", ela desabafou certa vez, enquanto ZéPilintra cortava seu cabelo.Tomar o poder, ZéPilintra explicava, não é só vencer a eleição. É entender o jogo que acontece longe dos holofotes.
É saber que o voto te dá uma chave, mas a porta tem várias trancas e nem todas são suas. Clarita tentou. Brigou por suas creches, peitou os figurões, mas logo viu que, sem negociar com os donos do tabuleiro, suas promessas virariam apenas boas intenções. "Poder é uma corrente, ZéPilintra", ela dizia. "Se você não segura firme, ela te arrasta." Enquanto isso, do outro lado da cidade, o prefeito reeleito, seu Laumeidão, sabia bem disso. Ele não era de discursos bonitos, nem de carisma que enche praça. Mas conhecia os atalhos.
Fechava acordos com vereadores, distribuía favores, mantinha as engrenagens girando. Ganhava eleições, sim, mas, mais importante, tomava o poder a cada dia. Não era querido, mas era temido – e isso, para ele, bastava. ZéPilintra terminava o café, limpava a navalha e refletia. O povo vota com o coração, às vezes com a raiva, mas raramente com a frieza de quem entende o que está em jogo. Eleição é uma batalha de ideias, de sonhos, de gritos. Poder é uma guerra de silêncios, de conchavos, de paciência.
Clarita, com seus ideais, ainda resistia, aprendendo aos trancos que o voto é só o começo. Seu Laumeidão, com seus cálculos, reinava, sabendo que o poder não se ganha se toma. E assim, entre uma tesourada e outra, ZéPilintra concluía: "No fim, o povo acha que escolhe o rei, mas quem coloca a coroa é outro. E esse, meu amigo, não aparece no palanque." A campainha da barbearia tocou, e a vida seguiu, como sempre, entre promessas e realidades.
O Guardião da Liberdade
Autor: Igidio Garra
-Em um reino distante, onde o céu tocava as montanhas e os ventos sopravam com a melodia da esperança, existia um majestoso pássaro chamado Auros. Suas penas douradas brilhavam sob a luz do sol, e seu canto ecoava como um hino à liberdade. Auris não era apenas um pássaro comum, era o Guardião da Liberdade, aquele que protegia o direito de todos os seres voarem sem correntes.
-No coração do reino, um rei ganancioso, temeroso da voz dos ventos e dos pássaros livres, ordenou que todas as criaturas aladas fossem aprisionadas. Ele queria controlar o céu, calar o canto da liberdade, e transformar o voo em privilégio restrito apenas aos que obedecessem suas regras.
-Auros, porém, não se curvou. Mesmo vendo seus companheiros enjaulados, ele voou mais alto, cantou mais forte e desafiou a ordem imposta. Seu canto inflamava corações, despertava os presos e fazia os ventos se agitarem. As árvores sussurravam sua canção, e até os rios levavam sua mensagem para os cantos mais distantes.
-O rei, furioso, ordenou que capturassem Auros. Mas quando os guardas estenderam suas redes ao céu, o pássaro bateu suas asas com força, criando uma tempestade de vento e luz. As gaiolas se abriram, os pássaros retomaram seus voos, e o reino, antes silencioso, foi tomado pela melodia da liberdade.
-Os ventos carregaram a voz de Auros para cada canto do reino, despertando nos corações o desejo de liberdade. Diante da revolta dos pássaros e da coragem daqueles que se recusavam a viver enjaulados, o rei finalmente compreendeu que não poderia aprisionar o céu.
-Em um gesto inesperado, ele ordenou que todas as gaiolas fossem abertas, permitindo que os pássaros voltassem a voar. O reino, antes sufocado pelo silêncio, se tornou um lugar vibrante, onde o canto da liberdade ecoava por entre montanhas, vales e pela imensidão do céu.
-Auros, vendo que sua missão havia sido cumprida, pousou no alto da torre do castelo, olhando para o horizonte. O rei, arrependido, se aproximou e, com humildade, pediu ao Guardião da Liberdade que permanecesse no reino, não como um prisioneiro, mas como um símbolo da nova era que começava, a de consolidação de liberdade.
-E assim, sob um céu sem grades e com ventos que cantavam esperança, Auros permaneceu, não como um herói distante, mas como um amigo que ensinou a todos e fez entenderem que liberdade nunca deve ser negociada.
A Fábula do Gaúcho e o Brasileiro
(Igidio Garra)
Era uma vez, nas vastas terras do sul, um Gaúcho orgulhoso, montado em seu cavalo, com seu chapéu de aba larga, lenço maragato no pescoço e seu facão reluzente na cintura afivelado pela guaiaca. Ele cavalgava pelos pampas, cantando suas façanhas e carregando no coração o amor por sua tradição. Um dia, ao cruzar um rio, encontrou um Brasileiro, um homem da cidade, com roupas modernas e um jeito apressado, carregando uma bolsa cheia de livros e ideias inovadoras e complicadas.
O Gaúcho, com um sorriso desconfiado, perguntou:
— Bah Brasileiro, tu com teus livros e falas complicadas, o que sabes da vida de verdade? Aqui nos pampas, a sabedoria vem do vento, da terra, do lombo do cavalo e das trovas dos antigos da aldeia!
O Brasileiro, sem se abalar, respondeu:
— Gaúcho, respeito tua bravura e teu jeito, mas o mundo é grande, e os livros me ensinam o que está além do horizonte. A tradição é forte, mas o novo também tem seu valor.
Os dois, teimosos, decidiram apostar quem era mais sábio. O desafio? Atravessar uma floresta densa até o outro lado, onde havia um velho carvalho que guardava um segredo. Quem chegasse primeiro e descobrisse o segredo seria o vencedor e la foram eles mato a dentro.
O Gaúcho, confiante, lançou-se na floresta com seu cavalo, usando sua experiência para ler os rastros e desviar dos perigos. Cortava galhos com seu facão e seguia o instinto, guiado pelas estrelas. Já o Brasileiro, com seu mapa desenhado à mão e anotações de viajantes, planejava cada passo, estudando o terreno e evitando armadilhas com cuidado e muita atenção.
Ao longo da jornada em meio ao caminho, uma tempestade caiu. O Gaúcho, com seu poncho, resistiu ao frio, mas seu cavalo atolou na lama. O Brasileiro, com sua capa leve, tremia, mas usou seus conhecimentos para construir um abrigo improvisado. Foi então que algo inesperado aconteceu: o Gaúcho, vendo o Brasileiro em apuros, ofereceu seu poncho. E o Brasileiro, percebendo o cavalo preso, ajudou a desatolá-lo com o laço que estava no "lumbílio".
Juntos, chegaram ao carvalho. Lá, chegando leram o inscrito no tronco, era o tal segredo:
"A verdadeira sabedoria é a união do coração e da mente, da tradição e do moderno."
O Gaúcho e o Brasileiro riram, percebendo que nenhum era mais sábio que o outro. Voltaram sem pressa ainda mais amigos, compartilhando histórias, chimarrão e ideias, sabendo que a força do Brasil está na mistura de seus povos.
Moral da história: "Nenhum caminho é melhor que o outro quando se anda lado a lado sem contendas."
Redenção ou Conivência: O Resgate de Helenaria.
Na República de Solimaia, o governo lutava para manter a confiança do povo após décadas de escândalos. Helenaria, ex-ministra da economia, era a figura central de um dos maiores casos de corrupção da história recente. Condenada e exilada, ela estava sob o controle da embaixada da Brizuela, o governo preparou um resgate para libertá-la.
A revelação caiu como uma bomba no cenário político de Solimaia. Enquanto a mídia se deliciava em relembrar seus crimes e os desvio de bilhões que condenaram milhares à miséria, a questão maior emergiu: o governo da Brizuela deveria usar recursos públicos para salvar a vida de alguém que simbolizava a degradação moral do sistema?
O presidente, Álvarico Fuentes, eleito com a promessa de reformar a ética política, convocou uma reunião de emergência. Durante o encontro, um dilema pulsante dividiu o gabinete: garantir o resgate significava não só drenar recursos escassos, mas enfrentar a ira de uma população cansada de ser traída.
Por outro lado, abandonar Helenaria ao seu destino poderia desencadear uma crise internacional e revelar os fantasmas de governos anteriores e protegê-la, mesmo à desonrada. A sociedade estava em ebulição, grupos ativistas protestavam contra qualquer gasto público no resgate.
Enquanto outros, apoiados pela elite empresarial, advogavam que Helenaria sabia segredos demais para ser descartada. Por trás das cortinas, entretanto, conspiradores do próprio governo viam na tragédia uma chance de blindá-la por um tempo, antes que ela pudesse expor os aliados que ainda permaneciam no poder.
A decisão final de Fuentes foi histórica: ele simulou concordar com à estratégia, enquanto suas forças especiais orquestraram uma operação de resgate militar sigilosa. Helenaria foi libertada, apos se exilar na embaixada, mas o caos não terminou ali foi apenas o começo.
Em sua primeira declaração após o "asilo", em um gesto inesperado, ela revelou segredos comprometedores que envolviam nomes até então intocáveis, incluindo membros do gabinete atual, sua redenção veio à custa de um terremoto político que despedaçou a confiança do povo em seu líder e expôs a podridão enraizada do sistema.
O povo, mais uma vez, ficou à deriva em um mar de desilusão, enquanto as montanhas de Solimaia pareciam observar, silenciosas e imutáveis, o atual ciclo de poder e corrupção.
O Gaúcho e o Brasileiro: Tradição e Inovação
(Igidio Garra)
Era uma vez, numa planície vastamente intocada, onde os ventos embalavam o ritmo das tradições antigas, o Gaúcho cavalgava sob o céu azul anil. Ele portava a cuia seu mate, companheiro fiel nas reflexões solitárias nas paragens do sul, enquanto observava a paisagem imutável da pampa. Do outro lado, um brasileiro das metrópoles movimentadas, trajando roupas modernas e ideias fervilhantes, se aventurava em busca de conexão com suas raízes.
Os dois se encontraram sob uma grandiosa figueira, onde o tempo parecia desacelerar. O Gaúcho, de olhar sereno, ergueu seu mate e convidou o Brasileiro a experimentar a bebida. "É amargo," avisou o Gaúcho, "mas ensina a apreciar o simples e o essencial." O Brasileiro aceitou e, ao provar, fez uma careta, mas rapidamente sorriu. "Interessante... talvez pudéssemos adoçar com algo diferente, para ser mais atrativo ao paladar moderno."
O Gaúcho, sorrindo com respeito, respondeu: "O mate carrega mais que sabor; ele tem história, e algumas tradições imutáveis que devem permanecer, para não nos perdermos no novo por vaidade". Eles começaram a conversar, compartilhando experiências tão distintas. O Gaúcho relatava a vida nos campos, suas manhãs ao som do canto do quero-quero, galo e da passarada e o aprendizado de que tudo tem seu tempo certo.
Saindo da sombra caminharam pela trilha, quando precisaram enfrentar juntos um desafio inesperado, atravessar um rio caudaloso, suas diferenças revelaram-se forças complementares. O Brasileiro, com engenhosidade, utilizou cipós e galhos para construir uma ponte improvisada. O Gaúcho, com seu profundo conhecimento da terra, apontou o caminho seguro, evitando perigos ocultos.
Ao chegarem ao outro lado, ambos se deram conta de algo profundo. "Assim como a natureza e o progresso coexistem, nós também podemos," refletiu o Brasileiro. "O tradicional enriquece o novo, enquanto o novo preserva o tradicional num ciclo de renovação contante." O Gaúcho assentiu. "Juntos somos mais fortes. Nossas raízes nos sustentam, mas nossos galhos devem buscar o céu."
Moral da história: Tradição e inovação não precisam competir. Quando valorizamos nossas diferenças e unimos forças, criamos algo mais duradouro e significativo um futuro digno e promissor.
O Voo do Pavão Branco.
Em um distante reino tropical, vivia um pavão branco de plumagem imaculada, chamado Albor. Albor era admirado por todos os animais da floresta; sua beleza era única e parecia refletir a luz do luar. No entanto, por mais esplêndido que fosse, Albor carregava um grande pesar: ele não sabia voar como os pássaros que planavam livremente pelo céu.
Enquanto os outros pássaros deslizavam entre as nuvens, Albor sentia-se preso ao chão. Ele acreditava que seu peso e suas penas exuberantes o impediam de voar. Mas havia uma coruja sábia, chamada Orla, que vivia no topo de uma árvore centenária. Orla observava Albor com olhos atentos e sabia que o pavão tinha uma força interior desconhecida.
Uma noite, Albor subiu até a árvore da coruja e perguntou: "Por que os deuses me deram tanta beleza e não me concederam asas para voar?" Orla sorriu pacientemente e respondeu: "Querido Albor, o voo não está apenas nas asas, mas também na coragem de tentar. Você está destinado a algo grandioso, mas primeiro precisa acreditar em si mesmo."
Inspirado pelas palavras da coruja, Albor decidiu se preparar. Ele passou dias treinando, fortalecendo seus músculos e entendendo o vento. Embora cada tentativa de voo fosse seguida por quedas, ele se recusava a desistir. No dia do festival da luz na floresta, enquanto todos os animais celebravam sob o céu estrelado, Albor surpreendeu a todos. Com uma mistura de determinação e graça, ele bateu suas asas com força e, pela primeira vez, ergueu-se acima do solo.
Seu voo não era perfeito, mas era suficiente para mostrar que ele podia conquistar o céu que tanto desejava. Os animais vibraram de emoção. Albor aprendeu que, mais importante do que voar, era a jornada e a resiliência que o levaram até ali. Desde aquele dia, o pavão branco se tornou um símbolo de coragem e superação, e sua história foi contada por gerações. 🌟
O Buteco!
Na esquina esquecida da Rua das Sombras, onde as luzes da cidade pareciam hesitar, havia um boteco que ninguém sabia ao certo quando surgira. O letreiro desbotado dizia apenas "Buteco", mas os poucos que ousavam entrar o chamavam de enfeitiçado. Não por sua aparência, paredes rachadas, cadeiras tortas e um balcão que rangia sob o peso das garrafas. Era algo no ar, um sussurro que fazia o coração acelerar e os olhos enxergarem além do comum.
Dona Zefa, a dona, era uma figura peculiar. Cabelos grisalhos presos num coque frouxo, olhos que pareciam ler almas e um sorriso que misturava mistério e acolhimento. Ela nunca perguntava muito, mas sempre sabia o que servir. "Hoje é cachaça com mel pra ti, meu bem", dizia, sem explicar como adivinhava. E, de fato, era sempre o que a pessoa precisava.
Certa noite, entrou no Buteco um rapaz chamado Eliazeu, rosto cansado de quem carrega o mundo nas costas. Ele não era de falar muito, mas seus olhos contavam histórias de sonhos partidos. Sentou-se no canto, pediu uma cerveja e ficou olhando o copo como se ali estivesse a resposta para tudo. Dona Zefa, polindo um copo que já brilhava, observou-o por um instante antes de se aproximar.
"Essa cerveja não vai te contar nada, menino", disse ela, com voz suave como brisa. "Mas se quiser, o Buteco pode te mostrar algo."
Eliazeu franziu a testa, desconfiado. "Mostrar o quê?"
Dona Zefa apenas sorriu e deslizou um copo de um licor dourado na direção dele. "Beba. E escute."
Sem saber por que, Eliazeu obedeceu. O líquido desceu quente, doce, com um toque de algo que ele não identificava, talvez saudade, talvez esperança. Então, o mundo ao seu redor mudou. As paredes do Buteco pareceram se dissolver, e ele se viu numa estrada de terra, sob um céu estrelado. À sua frente, uma versão mais jovem de si mesmo corria, rindo, com uma pipa na mão. Era ele aos dez anos, livre, antes das contas, das perdas, do peso.
"Que lugar é esse?" murmurou Eliazeu, mas ninguém respondeu. A visão mudou. Agora ele estava numa praça, vendo uma mulher de cabelos castanhos dançar ao som de um violão. Era Claribela, seu grande amor, que partira anos atrás. Ela olhou para ele, e por um instante, Eliazeu sentiu o calor daquele amor novamente.
As cenas continuaram, memórias e momentos que ele havia esquecido ou enterrado. Cada gole do licor trazia mais: risadas com amigos, o orgulho de seu primeiro emprego, até os sonhos que ele jurava não ter mais. Quando o copo esvaziou, ele estava de volta ao Buteco, com lágrimas nos olhos e o peito leve.
Dona Zefa o encarava, o mesmo sorriso enigmático nos lábios. "O Buteco não mente, Eliazeu, Ele mostra o que Tu carregas, mesmo sem que saibas."
"Mas… como?" Ele gaguejou. "Isso foi real?"
"Real o bastante pra te lembrar quem és tu", respondeu ela, voltando a polir o copo. "Agora, o que vai fazer com isso?"
Eliazeu não respondeu. Pagou a conta, deixou uma gorjeta generosa e saiu. Naquela noite, pela primeira vez em anos, ele pegou um caderno velho e começou a escrever. Não sabia se era um livro, um poema ou apenas pensamentos, mas algo dentro dele havia despertado.
O Buteco continuou ali, na Rua das Sombras, recebendo almas perdidas. Alguns diziam que Dona Zefa era uma bruxa, outros, que o lugar era amaldiçoado. Mas aqueles que cruzavam sua porta sabiam a verdade: o Buteco não era sobre magia, era sobre lembrar. E, às vezes, lembrar é o maior encanto de todos numa vida e registar para que todos um dia venha a experimentar .
O Boteco Encantado
No coração de um bairro já esquecido pelo tempo, havia um pequeno boteco chamado "Cantinho do Zé". À primeira vista, era como qualquer outro: mesas de madeira gastas, um balcão marcado por copos que nunca descansavam e o cheiro de coxinha que parecia abraçar o lugar inteiro. Mas os moradores juravam que havia algo especial naquele boteco, algo era mágico.
Dizem que quem atravessava as portas do Cantinho do Zé saía diferente. Dona Marta, que sempre lamentava os dias tristes, encontrou inspiração para pintar quadros que até hoje são vendidos na feira da praça. Seu Tonho, que passava as noites sozinho, acabou descobrindo amigos para dividir histórias e risadas. E até os jovens desiludidos encontravam conselhos sábios na voz rouca do velho Zé, o dono do boteco.
Mas o segredo do lugar não estava nos conselhos, nas coxinhas ou na cerveja gelada, estava em um relógio antigo pendurado atrás do balcão. Quando alguém contava suas dores, o ponteiro do relógio parava, congelando o tempo para que Zé pudesse ouvir, sem pressa.
E quando o sorriso retornava aos lábios do visitante, o ponteiro voltava a girar. Zé nunca explicou o funcionamento do relógio, mas os frequentadores sabiam que, naquele boteco, o tempo se dobrava para curar corações.
O Gaudério Gaúcho e a Raposa Matreira
Numa vasta campanha do Rio Grande do Sul, onde o vento sussurra histórias e o chimarrão aquece as rodas de fogo de chão, vivia um vivente chamado Gaudério. Era um índio faceiro botas e esporas brilhantes, esporeado, com um jeito orgulhoso que gritava: "Ah! Eu sou gaúcho!".
Seu canto ecoava pelas coxilhas, acordando bichos e peões com a força de um trovão. Certa manhã, enquanto Gaudério se pavoneava no alto de uma cerca, veio a Raposa Matreira, de olhos espertos e fala mansa. Ela, sabendo da fama do gaúcho, queria enganar o bicho pra fazer dele seu almoço.
— Ó Gaudério, soberbo por demais desconfiado! — disse a raposa, com um sorriso ladino. — Dizem que teu canto é o mais valente dessas bandas, mas aposto que não tens coragem de cantar com os olhos fechados, provando que és gaúcho de verdade!
Gaudério, com o peito inchado de orgulho, não deixou o desafio passar. "Eu sou gaúcho, e gaúcho não foge da peleia!", pensou. Fechou os olhos, ergueu a cabeça e soltou um canto tão potente que até as nuvens pareceram tremer. Mas, no mesmo instante, a raposa avançou, de repente achando que o pegaria desprevenido.
O que ela não sabia era que Gaudério, além de orgulhoso, era esperto como um bugio no matagal. No meio do canto, abriu um olho, viu a raposa vindo e, com um salto, cravou as esporas no chão, levantando poeira. A raposa, assustada, tropeçou e caiu de focinho na lama.
— Aprende, raposa! — disse Gaudério, rindo. — Gaúcho tem orgulho, mas não é trouxa. Quem vive de manha acaba com o lombo na lama! A raposa fugiu, envergonhada, e Gaudério voltou a cantar, agora mais alto, celebrando sua terra e sua gente. O orgulho gaúcho é uma chama que aquece, mas é a esperteza que mantém o fogo aceso.
O Gaudério Gaúcho e a Raposa Matreira – Parte II
Depois do fiasco com Gaudério, a Raposa Matreira não se deu por vencida. "Um gaúcho pode ser esperto, mas eu sou mais!" pensou, lambendo o orgulho ferido. Decidiu então bolar um plano novo, usando o que sabia sobre o coração quente dos gaúchos: o amor pela tradição.
Numa tarde de sol dourado, quando Gaudério tomava seu chimarrão à sombra de um umbu, a raposa reapareceu, agora com um jeito humilde, carregando um lenço vermelho e uma viola desafinada.
— Ó Gaudério, grande cantador da campanha! — começou ela, com voz melíflua. — Ouvi dizer que gaúcho de verdade não resiste a uma boa trova. Que tal uma disputa de versos? Se eu ganhar, só peço um pouco da tua companhia pra um mate.
Se tu ganhares, prometo nunca mais te incomodar. Gaudério, com o mate na mão e o olho desconfiado, farejou a malícia. Mas o desafio mexeu com sua alma de gaúcho, criada nas rodas de vaneira e nas conversas de galpão. "Ah! Eu sou gaúcho, e gaúcho não recuo!", exclamou, aceitando a peleia de versos rimados.
A raposa começou dedilhando a viola:
"Sou raposa de manha fina,
Na campanha ninguém me adivinha.
Com meu verso, te faço parar,
E o teu canto vou logo calar!"
Gaudério riu, balançando as esporas,
Respondeu com um verso que fez:
Calar nem vento para pra te ouvir:
"Sou gaúcho, da lida campeira,
Minha alma é campanha vivida.
Tua viola não me engana não,
Teu plano cai como facão da mão"!
A raposa tentou retrucar, mas seus versos saíam tortos, e a viola parecia chorar de tão desafinada. Gaudério, por outro lado, cantava com tanta força que os pássaros se juntaram, os cavalos relincharam e até o velho umbu parecia dançar. A raposa, vendo que perdia feio, tentou fugir, mas escorregou no próprio lenço e caiu de novo, agora num charco.
— Vai-te, raposa! — disse Gaudério, tomando um gole de mate. — Gaúcho vive de verso e verdade, não de tramoia. Volta quando aprenderes a respeitar a tradição fandangueira!
E assim, a raposa sumiu na mata, jurando nunca mais desafiar um gaúcho. Gaudério, com seu canto e sua mateada, seguiu reinando na campanha, orgulhoso de sua terra e de sua gente. A tradição gaúcha é mais que verso e dança; é a força de quem vive com honra e nunca se deixa enganar por desavisos no rancho.
O Gaudério Gaúcho e a Raposa Matreira – Parte III
A Raposa Matreira, com o rabo ainda molhado do charco, não era de desistir fácil. "Se o orgulho e a tradição não dobram esse trovador gaúcho, vou apelar pra que tudo que ele ama: a união da campanha!" pensou, enquanto tramava seu plano mais ardiloso. Dessa vez, queria usar a fama de Gaudério contra ele próprio.
Numa noite de lua cheia, quando o vento trazia o cheiro de capim molhado, a raposa espalhou um boato pela coxilha. Disse aos bichos da redondeza que Gaudério, e gritava "Ah! Eu sou gaúcho!", estava desafiando todos pra uma grande carreirada em canha reta – uma corrida de fazer o chão tremer. O prêmio? Um banquete com o melhor churrasco da campanha, oferecido pelo próprio Gaudério. A raposa, claro, planejava se esgueirar no tumulto e finalmente pega-lo desprevenido.
A notícia correu como fogo no mato seco. Logo, vieram o Cavalo Crioulo, com seu trote elegante; a Ema Veloz, que parecia voar sem asas; e até o Tatu Bola, que, apesar de lento, queria mostrar coragem. Gaudério, ao saber do tal desafio, estranhou. "Eu não marquei carreirada nenhuma!", pensou, coçando a cabeça . Mas, vendo a animação dos bichos e sentindo o chamado da campanha, decidiu entrar na festa. "Se é pra correr, que seja com alma gaúcha!"
No dia da carreirada, a raposa se escondia num capinzal, esperando o momento de atacar. O sol ardia, e a poeira subia como fumaça. Gaudério, com suas esporas brilhando, alinhou-se com os outros, mas seus olhos varriam o horizonte, desconfiado. Quando o Sabiá deu o sinal, a corrida começou. O Cavalo disparou, a Ema ziguezagueava, e o Tatu... bem, ele rolava como podia. Gaudério corria com garra, mas não tão rápido a ponto de perder o controle.
No meio do caminho, a raposa pulou do capinzal, crente que Gaudério estava distraído. Mas o instinto do seu faro de gaúcho, já tinha sentido o cheiro da tramoia. Com um giro rápido, ele desviou, e a raposa acabou trombando com o Tatu Bola, que vinha rolando. Os dois rodaram juntos numa nuvem de poeira, enquanto os outros bichos riam alto.
Quando a poeira baixou, Gaudério cruzou a linha de chegada, não em primeiro, mas com um sorriso de quem venceu a verdadeira peleia. O Cavalo ganhou a corrida, mas todos se juntaram pra um churrasco de confraternização – sem a raposa, que, humilhada, fugiu pra nunca mais voltar.
— Gaúcho não corre só por glória — disse Gaudério, assando uma costela. — Corre pela união, pela campanha, pela verdade. E quem tenta enganar um gaúcho da terra acaba enroscado na própria cilada! A alma gaúcha brilha na união e na lealdade, e nenhuma tramoia resiste à força de quem vive com o coração aberto e os olhos atentos.
O Gaudério Gaúcho e a Raposa Matreira – Parte IV
A Raposa Matreira, agora com o pelo embaraçado e o orgulho mais amassado que capim pisado, lambeu suas feridas longe da campanha. Mas sua teimosia era maior que seu bom senso. "Se não venci Gaudério com orgulho, tradição ou união, vou tentar com o que nenhum gaúcho resiste: a hospitalidade!" pensou, enquanto arquitetava seu último plano.
Numa manhã fresca, com o orvalho ainda brilhando nas coxilhas, a raposa apareceu na porteira da estância de Gaudério. Desta vez, vinha disfarçada: usava um poncho remendado, um chapéu torto e carregava uma trouxa, fingindo ser uma viajante cansada. Com voz tremida, bateu as patas e chamou:
— Ó Gaudério, Tchê de fama! Sou só uma pobre andante, com fome e frio. Será que um gaúcho de coração me negaria um mate quente e um canto de galpão pra aquecer a alma?
Gaudério, que estava afiando as esporas, olhou a figura com um olho meio cerrado. Conhecia bem a fama da campanha, onde a hospitalidade é lei sagrada, mas também sabia que a raposa não era flor que se cheire. Ainda assim, seu coração gaúcho solidário falou mais alto.
"Ah! Eu sou gaúcho, e gaúcho não vira as costas pra quem pede ajuda!", disse, convidando-a pra entrar. Sentaram-se à sombra do galpão. Gaudério preparou um mate bem cevado e pôs a chaleira a chiar. A raposa, com seus olhos brilhando de malícia, tomou o mate e pediu:
— Conta-me uma história, Gaudério. Uma daquelas que fazem o coração da campanha pulsar. Quem sabe eu não me esqueço das agruras do caminho?
Gaudério começou a contar, com voz firme, uma história de domadores e tropeadas, de ventos que carregam sonhos pelas pampas. Mas, enquanto falava, notava a raposa se aproximando devagar, com as garras escondidas sob o poncho. Ele continuou, como se nada visse, até que, no clímax da história, gritou: "E o gaúcho nunca dorme no ponto!". Num salto, derrubou o mate quente no poncho da raposa, que deu um pulo, largando o disfarce.
— Chega de manha, raposa! — exclamou Gaudério, com as esporas prontas. — Hospitalidade é pra quem vem de peito aberto, jamais pra quem trama nas sombras!
A raposa, com o pelo chamuscado e o plano em frangalhos, correu tropeçando pelo campo, enquanto os outros bichos, que assistiam de longe, gargalhavam. Gaudério recolheu a cuia, limpou a chaleira e voltou ao seu mate, cantarolando uma velha milonga.
Daquele dia em diante, a raposa nunca mais ousou voltar. E Gaudério? Seguiu reinando na campanha, prova viva de que a hospitalidade gaúcha é grande, mas a esperteza é maior ainda. A hospitalidade gaúcha acolhe a todos, mas a vigilância nunca descansa. Quem vem com má intenção tropeça na própria cilada.
O Gaudério Gaúcho e a Raposa Matreira – O Grande Final
Após tantas derrotas, a Raposa Matreira finalmente entendeu que não podia vencer Gaudério com tramoias. Exausta, com o rabo baixo e o coração apertado, decidiu mudar. Num entardecer alaranjado, quando o sol pintava as coxilhas de fogo, ela voltou à estância de Gaudério, sem disfarces, sem planos, apenas com um pedido sincero.
— Gaudério, índio véio da campanha, eu errei — confessou, com a voz mansa. — Tentei te enganar com orgulho, tradição, união e até hospitalidade, mas só aprendi que gaúcho de verdade vive com honra. Peço uma chance de me redimir. Quero aprender o que é ser da campanha, de coração puro e sincero.
Gaudério, com seu olhar firme de quem já viu muitas peleias, mediu a raposa de cima a baixo. Podia mandar embora, mas viu nos olhos dela uma faísca diferente, um brilho de quem queria mudar. "Ah! Eu sou gaúcho, e gaúcho dá chance a quem se dispõe a aprender!", pensou.
— Tá bem, raposa — disse ele, passando a cuia de mate. — Mas aqui na campanha, a lei é clara: vive-se com verdade, trabalha-se com galhardia e respeita-se a terra. Se queres ser um de nós, começa varrendo o galpão e cuidando do fogo pro churrasco.
A raposa, sem reclamar, pegou a vassoura e se pôs a trabalhar. Com o tempo, aprendeu a matear, a dançar vaneira e até a cantar milongas, sempre ao lado de Gaudério e dos bichos da campanha. Nunca mais tramou, e sua malícia virou apenas histórias contadas nas rodas de mate, entre risadas.
Gaudério, orgulhoso, seguia cantando ao amanhecer, seu grito de "Ah! Eu sou gaúcho!" ecoando mais forte que nunca. E a campanha, agora com uma raposa de coração novo, ficou ainda mais viva, prova de que o espírito gaúcho não só vence ciladas, mas transforma até os corações mais matreiros da campina.
O verdadeiro gaúcho não só defende sua terra, mas acolhe e ensina quem escolhe viver com honra, mostrando que a campanha é grande o bastante pra todos que carregam a verdade no peito orgulho de viver na pampa!
O Último Voo
O céu de Brasília brilhava em um azul impecável, cortado apenas pelas elegantes trilhas de fumaça que desenhavam espirais e laços no ar. Era mais uma apresentação da lendária Esquadrilha da Fumaça, um espetáculo de coragem e precisão que arrebatava multidões.
Capitão Mendes, veterano da equipe, liderava a formação pela última vez. Depois de anos dedicados ao voo, ao treinamento incansável e à responsabilidade de inspirar futuras gerações, aquele dia marcaria sua despedida dos céus. Enquanto os aviões se alinhavam para o grande número final, Mendes respirou fundo.
O motor rugia sob suas mãos e, ao seu lado, os colegas de esquadrão seguiam cada movimento com sincronismo impecável. Subiram em perfeita harmonia e então começaram o grande mergulho em espiral. O público prendia o fôlego. A esquadrilha desenhou a bandeira do Brasil no céu, os rastros de fumaça formando um quadro de patriotismo.
Mas Mendes tinha um último gesto a realizar. Com um movimento calculado, separou-se da formação e desenhou no ar algo simples, mas profundo: um coração. O coração pairou por um instante antes de se dissipar na brisa, e ele soube que essa era sua despedida.
O avião voltou à formação, e ao pousar, foi recebido com aplausos e lágrimas dos companheiros e do público. Ali, naquele momento, compreendeu que a Esquadrilha da Fumaça não era apenas um espetáculo – era um símbolo. Um símbolo de paixão, dedicação e do eterno desejo de tocar o impossível.
A Raposa e o Riacho
Era uma vez uma raposa sedenta que vagava por uma floresta seca. O sol ardia, e suas patas pesavam na terra quente. Após dias sem água, ela encontrou um riacho cristalino, mas tão estreito que mal dava para molhar a língua.
— Ó riacho, por que és tão pequeno? — gemeu a raposa. — Não vês que estou morrendo de sede?
O riacho, com sua voz suave como o murmúrio da correnteza, respondeu:
— Sou pequeno, é verdade, mas dou o que tenho. Beba o que puder, e talvez encontre mais adiante.
A raposa, frustrada, bufou e partiu, certa de que encontraria um rio grandioso. Caminhou, caminhou e caminhou, mas só achou poças lamacentas e pedras secas. Exausta, voltou ao riacho, agora com humildade no coração.
— Perdoe-me, riacho. Desprezei sua oferta, mas agora vejo que sua bondade, mesmo pequena, é sincera.
O riacho gorgolejou, como se sorrisse.
— Não guardo mágoas, amiga. Beba, e que minha água te dê forças.
A raposa bebeu, e cada gole parecia renovar sua alma. Refrescada, ela seguiu viagem, mas nunca esqueceu a lição: a bondade, por menor que pareça, sempre carrega um valor incomparavelmente, imenso.
Moral: A verdadeira bondade não se mede pelo tamanho do gesto, mas pela pureza do coração.
O Último Lanceiro
Em meio à poeira dos campos gaúchos, João, um jovem lanceiro negro, via sua vida mudar com a Revolução Farroupilha. Filho de escravos, ele encontrou na luta uma esperança de liberdade. Sob o comando de Bento Gonçalves, João aprendeu a manejar a lança com destreza e a cavalgar como um verdadeiro guerreiro.
Os anos de batalha foram duros, mas João nunca perdeu a esperança. Ele sonhava com um Rio Grande livre, onde todos pudessem viver com dignidade. Em uma noite fria, acampado com seus companheiros, ouviu rumores de um ataque imperial. Sabia que seria uma luta decisiva.
Ao amanhecer, o combate começou. João lutou bravamente, defendendo seus irmãos de armas. Mas, no Massacre de Porongos, muitos lanceiros negros foram traídos e mortos. Ferido, João foi resgatado por um grupo de revolucionários que ainda resistiam. Com o fim da guerra, a República Rio-Grandense não se concretizou, mas João nunca desistiu de sua luta por justiça.
Anos depois, já velho, ele contava sua história para os netos, lembrando que a verdadeira revolução acontece no coração daqueles que nunca deixam de sonhar com um mundo melhor. Essa história reflete a bravura dos combatentes da Revolução Farroupilha e a luta por liberdade e justiça. Gostaria que eu adicionasse mais detalhes ou criasse outra versão?
Os anos passaram, mas a chama da Revolução Farroupilha ainda ardia no coração de João. Após sobreviver ao massacre, ele se uniu a pequenos grupos que continuavam a resistir contra o Império. Mesmo sem a República Rio-Grandense, João acreditava que sua luta não havia sido em vão.
Com o tempo, conseguiu comprar um pequeno pedaço de terra e começou uma nova vida como agricultor. Ele nunca esqueceu os irmãos de batalha que perdera e honrava sua memória contando histórias sobre sua coragem e determinação. Seus netos, fascinados, ouviam cada detalhe com olhos brilhantes, aprendendo sobre a importância da liberdade e da justiça.
Certa noite, diante de um céu estrelado, João sentiu que sua missão estava completa. O Rio Grande não havia se tornado independente, mas sua terra prosperava, e sua família vivia em paz. Com um sorriso sereno, ele olhou para o horizonte e sentiu orgulho por ter sido um lanceiro, por ter lutado por algo maior que si mesmo.
Assim, João não foi apenas um sobrevivente da Revolução, mas um símbolo de resistência, esperança e força. Seu legado viveu através de sua família e das histórias que ecoavam pelos pampas, provando que, mesmo diante da derrota, aqueles que sonham com um mundo melhor nunca morrem verdadeiramente.
A Revolução Farroupilha chegou ao fim em 1º de março de 1845, com a assinatura do Tratado de Poncho Verde. Após dez anos de conflito, os farrapos aceitaram um acordo com o Império do Brasil, garantindo anistia aos revoltosos e a incorporação dos oficiais farroupilhas ao Exército Imperial.
Embora a República Rio-Grandense não tenha sido reconhecida como um estado independente, os líderes farroupilhas conseguiram algumas concessões, como a redução de impostos sobre o charque gaúcho. No entanto, a promessa de liberdade aos lanceiros negros, que lutaram bravamente ao lado dos revolucionários, não foi cumprida, e muitos deles permaneceram escravizados.
O fim da guerra marcou um período de pacificação no Rio Grande do Sul, mas o espírito de resistência e identidade gaúcha permaneceu forte, influenciando a cultura e a história da região até os dias atuais.
A Formiga e a Cigarra
Enquanto a formiga trabalhava, recolhendo alimentos durante o verão inteiro, sua companheira cigarra estava mais preocupada em cantar. Quando chegou o frio e a chuva do inverno, a primeira tinha garantido o seu sustento. Já a segunda não tinha o que comer.
Foi aí que a cigarra procurou a formiga, pedindo que dividisse com ela aquilo que recolheu. A formiga respondeu: Tu não passaste o verão todo cantando, enquanto eu trabalhava? Então agora se vire sozinha. Precisamos ser independentes e garantir o nosso futuro, sem depender do trabalho dos outros.
A cigarra, com as asas encharcadas e o estômago vazio, olhou para a formiga com um misto de vergonha e desespero. "Eu sei que errei", disse ela, a voz tremendo sob o vento gelado. "Não pensei no amanhã, mas agora vejo o quanto fui tola. Não peço muito, apenas o suficiente para sobreviver. Prometo que, se o próximo verão chegar, trabalharei tão duro quanto a ti."
A formiga hesitou. Parte dela queria virar as costas, manter sua reserva intacta e seguir sua filosofia de independência. Mas outra parte, mais suave, lembrava das vezes em que ela própria quase desistira sob o sol escaldante, carregando grãos pesados. "Independência é importante", pensou, "mas será que deixar alguém sofrer é realmente a resposta?"
Após um longo silêncio, a formiga suspirou e disse: "Não vou te dar tudo o que pedes, cigarra, porque cada um deve aprender com suas escolhas. Mas dividirei o suficiente para que passes este inverno, com uma condição: quando a primavera chegar, quero te ver ajudando a coletar, não apenas cantando. Teu canto pode alegrar o trabalho, mas não substitui o esforço."
A cigarra, com lágrimas nos olhos, assentiu vigorosamente. "Você tem minha palavra", prometeu. E assim, naquele inverno, a formiga abriu sua despensa, mas também seu coração, ensinando à cigarra que o equilíbrio entre trabalho e alegria poderia garantir não só a sobrevivência, mas uma vida mais plena.
Quando a primavera despontou, algo novo aconteceu no campo. A cigarra, fiel à sua promessa, juntou-se às formigas, carregando pequenos grãos com um entusiasmo desajeitado, mas sincero. E, nos momentos de pausa, seu canto ecoava, trazendo leveza ao labor. As formigas, antes tão sérias, começaram a sorrir mais, e até a formiga que a ajudara ensaiava um zumbido tímido.
O campo nunca mais foi o mesmo — agora, era um lugar onde trabalho e música caminhavam juntos. À medida que os ciclos das estações avançavam, a amizade entre a formiga e a cigarra crescia. A cigarra, agora mais sábia, não apenas ajudava a coletar alimentos, mas também descobriu que seu canto tinha um poder especial: ele inspirava as formigas a trabalharem com mais energia e alegria.
O campo, antes silencioso exceto pelo farfalhar das folhas, tornou-se um lugar vibrante, onde o zumbido do trabalho se misturava às melodias da cigarra. Num certo verão, porém, uma seca inesperada castigou a região. As fontes de alimento escassearam, e até as formigas, com toda sua organização, começaram a temer pelo inverno que se aproximava. A formiga, agora líder de sua colônia, sentia o peso da responsabilidade.
"Trabalhamos tanto", pensava, "mas a natureza é maior que nossos planos." Foi então que a cigarra teve uma ideia. "Minhas canções já viajaram longe", disse ela à formiga. "Conheço outros campos, outras criaturas. Posso chamar ajuda." A formiga, embora desconfiada, confiava na amiga. "Vá", respondeu. "Mas volte logo. O tempo é curto."
A cigarra voou, cantando uma melodia diferente, uma que não era apenas bela, mas carregava um pedido urgente. Seu chamado ecoou por vales e florestas, alcançando abelhas, joaninhas e até esquilos distantes. Tocados pela história da colônia que unia trabalho e música, esses vizinhos decidiram ajudar. Voltaram com a cigarra, trazendo pólen, sementes e até algumas nozes escondidas.
Quando a cigarra pousou de volta no campo, a formiga mal pôde acreditar no que via: um pequeno exército de aliados, cada um trazendo algo para compartilhar. A colônia não só sobreviveu à seca, mas prosperou, armazenando o suficiente para passar o inverno com fartura.
Naquela noite, sob um céu estrelado, as formigas organizaram uma celebração. A cigarra cantou como nunca, e até a formiga, sempre tão reservada, arriscou alguns passos de dança, rindo como uma criança. Os anos passaram, e a história da formiga e da cigarra virou lenda entre os insetos.
Contavam como o trabalho árduo e a música, juntos, podiam superar qualquer dificuldade. A formiga aprendeu que compartilhar e confiar também faziam parte da força, enquanto a cigarra descobriu que sua arte tinha valor quando aliada ao esforço.
Vivendo em harmonia, elas transformaram o campo num lar onde ninguém passava fome, e todos tinham motivos para sorrir. E assim, com trabalho, amizade e canções, a formiga e a cigarra viveram felizes para sempre, provando que o equilíbrio entre responsabilidade e alegria é o segredo de uma vida plena.
Fábula A Lamparina:
Uma lamparina cheia de óleo gabava-se de ter um brilho superior ao do Sol. Um assobio, uma rajada de vento e ela apagou-se. Acenderam-na de novo e lhe disseram: -Ilumina e cala-te. O brilho dos astros não conhece o eclipse.
A história ensina que a arrogância e a presunção podem levar ao fracasso. E que é importante ser humilde. A lamparina se gabava de seu brilho, mas quando confrontada com uma força maior, como a rajada de vento, sua luz foi apagada. Por outro lado, os astros, como o Sol, mantêm seu brilho constante e não são afetados por eventos temporários, como eclipses.
A lamparina, agora reacendida, tremeluzia com um brilho hesitante. Envergonhada pela lição, ela refletia em silêncio sobre suas palavras arrogantes. Decidiu então observar o mundo ao seu redor com humildade. Notou que, enquanto sua luz alcançava apenas o canto da sala, o Sol, lá fora, aquecia campos inteiros, fazia flores desabrocharem e guiava os passos de viajantes. Mesmo à noite, as estrelas e a Lua, com sua luz suave, inspiravam poetas e sonhadores sem jamais se vangloriar.
Com o passar dos dias, a lamparina encontrou seu propósito: não competir com os astros, mas oferecer sua pequena chama àqueles que precisavam de luz na escuridão. Ela iluminava as mãos de um escriba que escrevia histórias, aquecia o coração de uma criança que temia o escuro e guiava os passos de um velho que buscava seu lar. Sua luz, embora modesta, tornou-se indispensável à sua maneira.
Certa noite, quando uma tempestade apagou todas as luzes da casa, a lamparina permaneceu firme, sua chama dançando com coragem contra o vento que entrava pelas frestas. Todos na casa se reuniram ao seu redor, e ela, sem dizer uma palavra, sentiu orgulho de seu papel. Não precisava ser o Sol, nem as estrelas. Bastava ser ela mesma.
Final: Anos depois, a lamparina, já desgastada pelo tempo, foi colocada numa prateleira alta, onde não mais seria acesa. Mas, em vez de tristeza, ela sentiu paz. Olhando pela janela, viu o Sol nascer, majestoso como sempre, e as estrelas brilhando ao longe.
Sorriu para si mesma, sabendo que, à sua maneira, também havia deixado um rastro de luz no mundo. E assim, em silêncio, a lamparina descansou, eternamente grata pela lição que a fez compreender que toda luz, por menor que seja, tem seu valor quando brilha com propósito.
Acauã, a deusa das mulheres:
Segundo a lenda, Acauã é uma espécie de uma fada pássaro que enfeitiça as mulheres. Além disso, essa deusa possui penas com cores encantadoras que funcionam como arma para seduzir as moças e levá-las embora. Ela é associada também à maternidade, à fertilidade e à proteção das mulheres em todas as fases de suas vidas, desde o nascimento até a maturidade. Acauã é venerada como uma figura que personifica a essência feminina, inspirando confiança, resiliência e poder às mulheres que a invocam em suas jornadas.
Em uma vila encravada entre montanhas e florestas densas, onde o canto dos pássaros ecoava como uma sinfonia eterna, a lenda de Acauã era mais do que um conto sussurrado à noite — era uma presença viva. As mulheres da vila, em especial, sentiam sua energia pulsar nas águas do rio, no vento que acariciava as folhas e nos sonhos que as visitavam sob a luz da lua. Dizia-se que, quando uma moça estava perdida, em dúvida ou enfrentando um grande desafio, Acauã aparecia, não como uma figura visível, mas como um sentimento profundo, uma chama que acendia a coragem adormecida em seu coração.
Certa vez, uma jovem chamada Lívia, conhecida por sua timidez e por raramente erguer a voz, enfrentou um momento de grande provação. Sua família, assolada por uma colheita fraca, dependia dela para negociar com comerciantes de uma cidade distante, uma tarefa que a aterrorizava. Na véspera da viagem, Lívia, tomada pelo medo, caminhou até a beira do rio, onde as anciãs diziam que Acauã escutava os pedidos das filhas da terra. Com os pés na água fria e o coração apertado, ela fechou os olhos e sussurrou: "Acauã, deusa dos ventos e das penas brilhantes, me dê força para carregar o fardo que não sei suportar."
Naquela noite, Lívia sonhou com um pássaro de asas reluzentes, cujas penas mudavam de cor a cada movimento — do vermelho ardente ao azul sereno, do dourado vivo ao verde que lembrava as matas. O pássaro não falou, mas seus olhos, profundos como o céu noturno, pareciam dizer: "Você já carrega tudo o que precisa." Ao acordar, Lívia sentiu algo diferente. Uma confiança nova, como se as penas de Acauã tivessem roçado sua alma, deixando um brilho que ela não podia ignorar.
Na cidade, Lívia negociou com firmeza, sua voz ecoando como o canto de um pássaro que não teme ser ouvido. Os comerciantes, surpresos com sua determinação, ofereceram mais do que ela esperava, garantindo o sustento de sua família por meses. Quando voltou à vila, as mulheres a receberam com sorrisos, como se soubessem que Acauã havia caminhado com ela.
Mas a lenda também guardava mistérios. Algumas diziam que Acauã não apenas protegia, mas testava aquelas que a invocavam. Em noites de lua nova, quando a escuridão era mais densa, contava-se que ela aparecia para desafiar as mulheres a enfrentarem seus medos mais profundos. E foi numa dessas noites que Lívia, agora uma líder respeitada na vila, sentiu o chamado de Acauã novamente — um convite para uma jornada que mudaria não apenas sua vida, mas o destino de todas as mulheres que ela conhecia.
Naquela noite de lua nova, a vila parecia envolta em um silêncio sobrenatural. Nem o vento ousava soprar forte, e os únicos sons eram o crepitar distante de uma fogueira e o murmúrio do rio. Lívia, agora uma mulher de olhos firmes e passos decididos, sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto caminhava para a clareira sagrada, um círculo de pedras antigas onde as mulheres da vila se reuniam para honrar Acauã. Ela não sabia por que seus pés a guiavam até lá, mas algo em seu peito — uma mistura de inquietação e certeza — dizia que a deusa a chamava.
Ao chegar, Lívia viu algo que nunca havia presenciado. No centro da clareira, uma pena solitária flutuava a poucos centímetros do chão, brilhando com cores que pareciam dançar: vermelho como o fogo, azul como o amanhecer, dourado como o sol. Ela se aproximou, hesitante, e, ao tocar a pena, uma rajada de vento a envolveu, trazendo consigo uma voz que não era ouvida com os ouvidos, mas sentida nos ossos: "Lívia, filha da terra, o tempo de provação chegou. A força que te dei é apenas o começo. Para proteger as tuas irmãs, deves encontrar a fonte do meu poder."
A visão que se seguiu no sonho de Lívia foi tão vívida que parecia mais real que a própria clareira. Ela viu uma montanha distante, coberta por uma floresta tão densa que a luz mal a atravessava. No coração dessa floresta, havia uma árvore colossal, cujas raízes pareciam abraçar o próprio mundo. De seus galhos pendiam penas como as de Acauã, mas maiores, pulsando com uma energia que fazia o ar vibrar. A voz voltou, agora mais firme: "A Árvore das Origens guarda o segredo da minha essência. Mas cuidado, filha: o caminho é traiçoeiro, e nem todas que o buscam retornam."
Quando Lívia abriu os olhos, a pena havia desaparecido, mas suas mãos tremiam com uma energia nova. Ela sabia que não podia ignorar o chamado. Ao amanhecer, reuniu as mulheres da vila e contou o que havia visto. Algumas a olharam com temor, outras com admiração. Uma anciã, cujos olhos pareciam carregar séculos de histórias, segurou sua mão e disse: "Acauã não escolhe as fracas. Se ela te chamou, é porque o destino da nossa gente está em tuas mãos."
Lívia partiu sozinha, levando apenas uma mochila com mantimentos, um punhal de osso herdado de sua avó e a memória da pena brilhante. O caminho até a montanha era longo, atravessando pântanos onde as sombras pareciam vivas e ravinas que testavam seu equilíbrio. À noite, ela ouvia sussurros — às vezes doces, como cantigas de ninar, às vezes cruéis, zombando de suas dúvidas. Sabia que eram os truques de Acauã, testando sua determinação.
Após dias de viagem, Lívia chegou à floresta da visão. As árvores eram tão altas que seus topos se perdiam nas nuvens, e o ar parecia carregado de segredos. Ela seguiu um rastro de penas brilhantes caídas no chão, cada uma pulsando com uma cor diferente, até que, finalmente, encontrou a Árvore das Origens. Era ainda mais majestosa do que no sonho, com raízes que se entrelaçavam como rios e galhos que pareciam tocar as estrelas. No centro do tronco, havia uma cavidade que emitia um brilho suave, como se convidasse Lívia a entrar.
Mas antes que ela pudesse dar um passo, uma figura emergiu da sombra da árvore — uma mulher com asas de pássaro, olhos que refletiam todas as cores do mundo e uma presença que fazia o chão tremer. Era Acauã, não como a deusa gentil das lendas, mas como uma força indomável, selvagem e antiga. "Por que vieste, Lívia?" perguntou a deusa, sua voz ecoando como trovão e sussurro ao mesmo tempo. "Queres meu poder para ti ou para tuas irmãs? Escolhe com cuidado, pois o preço será alto."
Lívia sentiu o peso da pergunta como uma montanha sobre seus ombros. Ela sabia que sua resposta definiria não apenas seu destino, mas o de todas as mulheres que confiavam nela. Lívia respirou fundo, os olhos fixos nos de Acauã, que pareciam enxergar cada canto de sua alma. O silêncio da floresta era tão denso que ela ouvia o próprio coração batendo, rápido, mas firme. "Não quero teu poder para mim," disse, sua voz clara apesar do tremor em suas mãos. "Quero que ele viva em todas as mulheres da minha vila — nas que nasceram, nas que estão por vir, nas que duvidam de si mesmas. Que elas sintam tua força, como eu senti, para enfrentar o que vier."
Acauã inclinou a cabeça, as penas de suas asas brilhando com uma intensidade que iluminou a clareira. Por um momento, Lívia temeu que sua resposta não fosse suficiente. Então, a deusa sorriu — um sorriso que era ao mesmo tempo gentil e feroz. "Muito bem, filha da terra. Mas o poder não é dado sem sacrifício. Para que minhas penas floresçam em tuas irmãs, deves deixar uma parte de ti comigo."
Lívia não hesitou. Ela sabia o que Acauã pedia. Estendeu a mão e tocou a cavidade brilhante no tronco da Árvore das Origens. Uma onda de calor a envolveu, e ela sentiu algo ser puxado de dentro dela — não sua vida, mas suas dúvidas, seus medos, as correntes invisíveis que um dia a prenderam. Em troca, a cavidade liberou uma chuva de penas minúsculas, cada uma pulsando com as cores de Acauã, que voaram ao vento como sementes carregadas de magia.
A deusa desapareceu sem dizer mais nada, e Lívia caiu de joelhos, exausta, mas leve como nunca antes. A floresta parecia cantar ao seu redor, um hino de vida e renovação. Quando ela finalmente se levantou, sabia que sua tarefa estava cumprida.
De volta à vila, Lívia foi recebida com olhares curiosos e preocupados. Ela não contou tudo o que viu, mas as mulheres notaram a mudança em seus olhos — uma chama que não apagava. Nos dias que se seguiram, algo extraordinário aconteceu. As mulheres da vila começaram a relatar sonhos com penas brilhantes, momentos em que sentiam uma coragem inesperada, uma conexão profunda com suas próprias forças. As jovens enfrentavam desafios com ousadia, as mães encontravam paciência infinita, e as anciãs sorriam como se soubessem um segredo antigo.
Lívia nunca mais viu Acauã, mas não precisava. A deusa estava em cada riso compartilhado, em cada mão que ajudava outra, em cada passo dado com confiança. A vila prosperou, não apenas em colheitas, mas em histórias, canções e laços que nada podia romper. E, nas noites sem lua, quando o vento soprava suave, as mulheres juravam ouvir um canto distante — o canto de Acauã, a fada pássaro, celebrando suas filhas que haviam aprendido a voar com as próprias asas. Fim.
Sumá, o deus da agricultura:
De acordo com a lenda, Sumá teria aparecido de forma misteriosa e se tratava de um homem branco, que andava ou flutuava no ar e possuía longos cabelos e barbas brancas. Então, o deus começou a ensinar o povo da selva a arte da agricultura. Em seguida, ensinou habilidades como a de transformar mandioca em farinha, além de regras morais. Além disso, ele é uma espécie de curandeiro que cuida dos povos da floresta.
A lenda de Sumá, figura mítica presente em diversas culturas indígenas da Amazônia, é rica em simbolismo e reflete a cosmovisão dos povos da floresta. Sumá é descrito como um ser enigmático, frequentemente associado a um homem branco com longos cabelos e barba, características que o diferenciam dos habitantes locais e reforçam sua aura sobrenatural. Sua capacidade de flutuar ou andar pelo ar sugere uma conexão com o divino, transcendendo as limitações humanas e o posicionando como um mensageiro ou emissário dos deuses.
De acordo com a tradição, Sumá não apenas surgiu de forma misteriosa, mas também trouxe consigo conhecimentos fundamentais para a sobrevivência e o desenvolvimento das comunidades indígenas. Ele é reverenciado como o introdutor da agricultura, ensinando os povos a cultivar a terra de maneira sustentável, respeitando os ciclos da natureza. Entre suas contribuições mais significativas está o ensino do processamento da mandioca, raiz essencial na alimentação amazônica, transformando-a em farinha, base de muitas dietas locais. Esse ato de compartilhar saberes agrícolas simboliza a generosidade de Sumá e sua missão de promover a harmonia entre o homem e a floresta.
Além de agricultor e mestre, Sumá também é visto como um guia moral. Ele teria transmitido às comunidades regras éticas e valores que fortaleceram a coesão social, como o respeito mútuo, a solidariedade e a reverência pela natureza. Esses preceitos refletem a importância de viver em equilíbrio com o ambiente, uma filosofia central para os povos indígenas que enxergam a floresta como um espaço sagrado.
Outro aspecto marcante da lenda é o papel de Sumá como curandeiro. Ele é descrito como um protetor dos povos da floresta, utilizando seus poderes para tratar doenças, aliviar sofrimentos e promover o bem-estar. Sua habilidade de cura, muitas vezes associada a rituais e ao conhecimento das plantas medicinais, reforça sua ligação com o mundo espiritual e com os segredos da natureza. Para as comunidades, Sumá não é apenas um curador físico, mas também um guardião da alma coletiva, ajudando a manter a harmonia entre os mundos visível e invisível.
A figura de Sumá também pode ser interpretada como um arquétipo de transformação. Sua chegada misteriosa, seus ensinamentos e sua partida eventual (em algumas versões da lenda, ele desaparece tão enigmativamente quanto surgiu) sugerem um ciclo de renovação. Ele representa a ideia de que o conhecimento, seja prático, moral ou espiritual, é um presente que eleva as comunidades e as conecta com algo maior.
Em diferentes etnias, Sumá pode assumir outros nomes ou características, mas sua essência permanece: um ser que une o humano ao divino, o prático ao sagrado. A lenda sobrevive nas narrativas orais, nos rituais e na relação profunda dos povos indígenas com a Amazônia, servindo como um lembrete da importância de preservar tanto a cultura quanto o meio ambiente. Assim, Sumá não é apenas uma figura do passado, mas uma presença viva na memória e nas práticas das comunidades que continuam a honrar seus ensinamentos.
O Casarão
No alto da colina, imponente e sereno, ergue-se o casarão, guardião do tempo antigo. Suas paredes de pedra, marcadas pelo vento, contam histórias de amores, de risos e sigilo.
As janelas, como olhos, veem o mundo mudar, Presenciam a chegada e a partida do sol. Nas noites de luar, parecem suspirar, lembrando dos bailes e do eco de um violão.
Nos corredores largos, ecoam passos de outrora, De famílias que ali viveram, sonharam e amaram. Cada quarto, um segredo, cada porta, uma era, O casarão é um livro cujas páginas se desfolham.
O jardim, agora silente, outrora foi palco de festas e encontros, de vida e de regozijo. As rosas ainda sussurram, num tom quase mago, Das mãos que as plantaram, de um tempo sem relógio.
E quando a chuva cai, o telhado chora baixo, lamentando as ausências, as vozes que se foram. Mas no coração do casarão, um fogo ainda arde, guardando a esperança de um novo amanhecer.
Assim, o casarão, com sua graça e seu mistério, É mais que pedra e madeira; é história viva, Um testemunho do tempo, de amor e de ser, Um monumento à vida que, em silêncio, sobrevive resiliente. (Igídio Garra®)
O Encanto dos Presentes de Natal
Sob a luz das estrelas, na noite de Natal, Os presentes embrulhados em brilho e detalhe Ribbon dourado, papel de seda tão real, Trazem alegria, esperança, um novo alento. Cada caixa, cada laço, um mistério a se desvendar, Um presente de amor, de carinho, de afeto, Na manhã fria, o coração a pulsar, Ao ver o sorriso de quem amamos refletido.
A criança com olhos cheios de encanto, Abre o presente, um brinquedo, um livro, um sonho, no ar, o cheiro de pinho e chocolate quente, Nos lembra que o Natal é tempo de renascimento.
Não é o valor do que está dentro, Mas o gesto, o amor, a intenção, Que faz do presente um tesouro imenso, Um símbolo de união e devoção. Que nestes presentes, vejamos mais que coisas, Vemos laços, memórias, histórias a contar, então, não é só de dar e receber, Mas de juntos ser, amar, celebrar Feliz Natal. (Igidio Garra®)
Ser Feliz, Compartilhar Alegria
— Dona Rosa, o que posso fazer para alegrar seu dia?Dona Rosa, com um olhar cansado, respondeu:
— Meu querido João, tu já fazes muito ao perguntar. Mas, se quer saber, eu adoraria um jardim cheio de flores, como o que tinha na minha juventude.
João, sem hesitar, passou os próximos dias cavando, plantando e cuidando de um pequeno jardim ao lado da casa de Dona Rosa. Um tempo depois quando ela viu o jardim florido, seus olhos brilharam com uma alegria antiga.
— Você realmente sabe como agradar, João — disse ela, agradecida.
Inspirado por esse sucesso, João decidiu continuar sua missão. No dia seguinte, encontrou o Sr. Luís, um ferreiro solitário cujas mãos estavam sempre manchadas de fuligem. João perguntou:
— Sr. Luís, como posso alegrar seu dia?
O ferreiro, surpreso com a pergunta, pensou um momento antes de responder:
— Faz anos que não toco uma música. Se ao menos eu tivesse um violino...
João, determinado, gastou quase todas as suas economias para comprar um violino em uma cidade vizinha. Quando entregou o instrumento ao Sr. Luís, as notas que o ferreiro extraiu do violino ecoaram pela vila, trazendo alegria não só a ele, mas a todos que ouviram.
Mas João não parou por aí. Ele visitou cada morador, perguntando como poderia alegrar seus dias. Para uns, trouxe livros; para outros, preparou refeições quentes; para alguns, simplesmente ofereceu companhia. Cada gesto, por menor que fosse, era feito com todo o coração.
Um dia, enquanto descansava sob uma árvore, João foi abordado pela jovem Marta, que ele secretamente admirava. Com um sorriso tímido, ela disse:
— João, você já agradou a todos na vila, mas como eu posso te agradar?
João, surpreso e feliz, respondeu com simplicidade:
— Marta, Sua presença aqui já é o bastante para me alegrar, como um raio de sol que aquece um dia frio.
E assim, com o simples fato de estar ao meu lado, o mundo parece ganhar cores mais vivas, como se cada instante se tornasse uma tela pintada com os tons suaves da sua luz, encerrando cada dia com a promessa silenciosa de um amanhã ainda mais brilhante.
A Colina dos Ventos Uivantes
No alto da Colina dos Ventos Uivantes, onde a brisa se transformava em lamentos que ecoavam por quilômetros, vivia uma mulher chamada Elara. Os aldeões do vale abaixo raramente subiam até lá. Diziam que os ventos carregavam as vozes dos mortos, e que, Elara, com seus cabelos grisalhos esvoaçantes e olhos que pareciam enxergar além do horizonte, era uma guardiã daqueles sussurros.
A colina era um lugar estranho. Não havia árvores, apenas um tapete de ervas rasteiras que tremiam sob a força do vento. No centro, erguia-se uma pedra solitária, alta como um homem, marcada por sulcos que ninguém sabia explicar a origem. Elara passava horas ali, sentada em silêncio, como se ouvisse algo que os outros não podiam captar e nem mesmo sentir.
Certa noite, um jovem chamado Tomás, movido por curiosidade e desafiado pelos amigos, decidiu enfrentar os ventos e subir a colina. Carregava uma lanterna e um coração acelerado. Quando chegou ao topo, encontrou Elara de pé, os olhos fixos na pedra.
"Por que você veio?" perguntou ela, sem se virar. Sua voz era firme, mas parecia entrelaçada aos uivos do vento.
"Quero saber a verdade", respondeu Tomás, hesitante. "Dizem que os ventos falam. Que você os entende."
Elara virou-se lentamente, e pela primeira vez ele viu seu rosto à luz da lanterna. Não era velho como imaginava, mas carregava uma tristeza profunda. "Os ventos não falam", disse ela. "Eles gritam. Carregam o peso do que foi esquecido no universo".
Tomás franziu a testa. "Esquecido por quem?"
Ela apontou para a pedra. "Aproxime-se. Toque-a."
Ele hesitou, mas a curiosidade venceu. Ao encostar a mão na superfície fria, um arrepio percorreu seu corpo. De repente, o som do vento mudou. Não era mais um uivo indistinto, eram vozes. Centenas delas, sobrepondo-se em um coro de angústia. Ele ouviu pedidos de socorro, nomes gritados em desespero, promessas quebradas. Recuou, o coração na garganta.
"O que é isso?" perguntou, ofegante.
Elara baixou os olhos. "Há muito tempo, esta colina foi um campo de batalha. Homens lutaram aqui por poder, por terra, por ouro. Morreram aos montes, e seus corpos foram deixados ao vento. Ninguém os enterrou. Ninguém os lembrou. Agora, eles gritam para quem os que ouvir."
Tomás sentiu um frio que não explicava. "E Tu? Por que fica aqui?"
"Porque alguém precisa ouvir", respondeu ela. "Alguém precisa carregar, escutar o lamento de suas vozes. Se eu for embora, quem os escutará?"
O jovem não soube o que dizer. Mas no seu íntimo sabia que também teria de ser um ouvinte dos Ventos Uivantes. Olhou para a pedra, para os sulcos que agora pareciam cicatrizes, e depois desceu a colina, para o vale abaixo, onde as luzes da aldeia brilhavam em paz. Pela primeira vez, sentiu o peso daquele silêncio egoísta que os vivos, impunham aos mortos.
Naquela noite, algo nele havia mudado. Os ventos uivantes o seguiram, e por muitos anos depois, ele acordava com os ecos das vozes em seus sonhos. Elara permaneceu lá, guardiã não mais solitária, enquanto a Colina dos Ventos Uivantes continuava a gritar para um mundo que preferia, ou não sabia ouvir o lamento tristonho dos esquecidos.
A Revolução do Batom: Um Ato de Anistia!
Era uma manhã cinzenta na pequena cidade de Santa Lúcia, onde o silêncio parecia pesar mais que o orvalho sobre as folhas. As ruas estreitas, de paralelepípedos gastos, ecoavam apenas os passos apressados de Dona Clara, uma mulher de meia-idade que carregava no rosto as rugas de uma vida dura e nos lábios um batom vermelho-vivo, seu único luxo. Naquele dia, 6 de abril de 2025, ninguém imaginava que aquele pequeno detalhe o batom seria o estopim de uma revolução.
Santa Lúcia vivia sob o jugo do Prefeito Anselmo, um homem de punho firme e coração frio. Ele governava com decretos absurdos, como o infame "Edital da Austeridade", que proibia qualquer forma de "excesso estético" maquiagem, roupas coloridas, até mesmo sorrisos largos eram considerados afrontas à ordem. Para Anselmo, a beleza era uma distração perigosa, um luxo que os cidadãos não mereciam. A população, exausta e acuada, obedecia em silêncio. Exceto Dona Clara.
Naquela manhã, ela caminhava em direção à praça central, onde o prefeito faria seu discurso anual. Em sua bolsa surrada, levava não apenas o batom, mas uma determinação que fermentava há anos. Quando Anselmo subiu ao palanque, com seu terno cinza e voz monocórdia, Clara parou bem à frente dele. Sem dizer uma palavra, abriu a bolsa, pegou o batom e, com um gesto lento e desafiador, passou-o nos lábios. O vermelho brilhou como uma chama contra o céu opaco.
A multidão prendeu o fôlego. Anselmo interrompeu o discurso, o rosto contorcendo-se de raiva. "O que pensa que está fazendo, mulher?" gritou ele, apontando um dedo trêmulo. Clara ergueu o queixo e respondeu, com uma calma que cortava como faca: "Estou me perdoando. E perdoando todos nós por termos esquecido quem somos." O gesto foi um fósforo aceso em um campo seco. Uma jovem na multidão,
Ana, tirou do bolso um batom rosa escondido e passou nos lábios. Logo, Seu João, o padeiro, pegou um lenço colorido e amarrou no pescoço. Dona Margarida, a costureira, arrancou o avental cinza e revelou um vestido florido que guardava em segredo. Em minutos, a praça explodiu em cores batons, fitas, chapéus, tudo que havia sido reprimido por anos emergiu como um grito coletivo.
Anselmo chamou os guardas, mas até eles hesitaram. Um dos soldados, Miguel, baixou o cassetete e murmurou: "Minha mãe também gostava de batom." A repressão desmoronou ali, naquelas palavras simples. O povo avançou, não com violência, mas com uma força que Anselmo não podia combater: À alegria.
No fim do dia, o prefeito fugiu, deixando para trás seu palanque e seus decretos. A praça, agora cheia de música e risos, tornou-se o coração de uma nova Santa Lúcia. Clara, com seu batom vermelho ainda impecável, foi aclamada não como líder, mas como a mulher que lembrou a todos o poder de um ato simples. Eles chamaram aquilo de "A Revolução do Batom" não uma guerra, mas um perdão coletivo, uma anistia que libertou a cidade de suas próprias correntes.
E, dali em diante, ninguém mais escondeu suas cores. A praça de Santa Lúcia, outrora um lugar de silêncios forçados, transformou-se em um mosaico vivo de rostos pintados, tecidos vibrantes e vozes que não temiam se erguer. O batom de Dona Clara, aquele vermelho audacioso, passou a ser guardado em uma pequena caixa de vidro no centro da cidade, como um símbolo de que a liberdade podia nascer de um gesto pequeno, mas carregado de verdade.
As crianças cresciam ouvindo a história da revolução, e os mais velhos, com lágrimas nos olhos, pintavam os lábios em segredo antes de dormir, um ritual de gratidão por terem reencontrado a si mesmos. Anselmo nunca voltou, mas dizem que, em algum lugar distante, ele também aprendeu a perdoar, ainda que em silêncio.
Um Dia Todos Seremos Memórias!
Era uma manhã de outono, daquelas em que o vento sussurra segredos entre as folhas douradas e o sol parece hesitar antes de aquecer a terra. Clarilda, uma mulher de cabelos grisalhos e olhos que carregavam o peso de muitas histórias, sentou-se no banco de madeira no quintal. Em suas mãos, um álbum de fotos amarelado, cujas bordas denunciavam o passar dos anos. Ela o abriu com cuidado, como quem manuseia um tesouro frágil, e deixou que as lembranças a envolvessem.
A primeira foto mostrava um piquenique à beira do rio. Lá estavam ela, ainda jovem, rindo ao lado de Pedrusko, seu marido, enquanto os filhos, Ania e Jony, corriam atrás de uma bola desajeitada. O cheiro de grama molhada e o som das gargalhadas pareciam saltar da imagem, tão vivos que Clarilda quase podia tocá-los. "Éramos tão felizes", murmurou, um sorriso tímido desenhando-se em seu rosto enrugado.
Folheou mais algumas páginas. Havia o dia do casamento de Ania, com seu vestido branco esvoaçante, e a formatura de Jony, o orgulho estampado em seu olhar. Mas também havia silêncios nas fotos que não estavam ali: os dias de despedida, as lágrimas que não foram capturadas, os momentos em que a vida insistiu em seguir, mesmo quando o coração pedia uma pausa.
Clarilda fechou o álbum e olhou para o horizonte. O vento trouxe o aroma das flores que plantara com Pedrusko, décadas atrás. Ele se fora há dez anos, mas as flores continuavam a brotar, teimosas, como se carregassem um pedaço dele. Ania e Jony, agora adultos, viviam suas próprias vidas, distantes, com filhos que mal conheciam a avó. E Clarilda sabia: um dia, ela também seria apenas uma memória, uma foto desbotada em um álbum que alguém, talvez, abriria com o mesmo carinho.
Levantou-se devagar, apoiando-se na bengala, e caminhou até a árvore onde Pedrusko gravara suas iniciais 70 anos antes. Passou os dedos sobre as letras tortas – "C & P" – e sentiu uma paz estranha. "Um dia", pensou, "todos seremos memórias. Mas, enquanto houver alguém para lembrar, ainda estaremos aqui."
O sol finalmente venceu a timidez e banhou o quintal em luz. Clarilda voltou para casa, o álbum sob o braço, carregando o peso e a beleza de saber que a vida, no fim, é feita de instantes que ecoam além de nós em nossas memórias e de quem nos suceder!
O Homem Sem Deus e a Raiz do Mal
Num vilarejo encravado entre montanhas, vivia Elias, um homem de olhos fundos e coração seco. Ele não acreditava em nada além do que podia tocar: o peso das moedas, o calor do fogo, o sabor do pão. Deus, para ele, era invenção de fracos. "Se existe um criador, que prove sua força", dizia, cuspindo no chão.
O povo o evitava. Não por medo, mas por pena. Elias carregava uma sombra que ninguém explicava, uma frieza que gelava o ar ao seu redor. Diziam que ele nascera assim, com a alma arrancada, mas outros juravam que fora escolha dele, um pacto silencioso com o vazio.
Certa noite, uma tempestade rasgou o céu. Raios caíam como chicotes, e o vento uivava como um lamento. Elias, indiferente, saiu de casa para buscar lenha. No caminho, tropeçou numa raiz exposta, negra e retorcida, que parecia pulsar sob a terra molhada. Curioso, ele a arrancou com as mãos. O solo gemeu, e um cheiro fétido subiu ao ar.
Naquela mesma hora, o vilarejo mudou. As galinhas pararam de botar, o leite azedou nas tetas das vacas, e as crianças começaram a sussurrar coisas que não entendiam. Elias, segurando a raiz, sentiu algo crescer dentro de si não era fé, nem remorso, mas um vazio ainda mais fundo, um buraco que engolia até a pouca luz que restava em sua alma.
Dias depois, encontraram-no sentado no mesmo lugar, a raiz ainda na mão, os olhos fixos no horizonte. Não falava, não se movia. Ao redor dele, a terra secava, as plantas murchavam, e o ar parecia sufocar quem se aproximasse. O padre do vilarejo, um homem simples, tentou rezar por ele, mas as palavras morriam na garganta. "Ele não rejeitou Deus", disse o velho, trêmulo. "Ele cavou algo pior."
Elias ficou ali, um marco vivo do que acontece quando o homem corta todas as raízes, não as divinas e as humanas, abraçam o mal que brota do nada. A raiz, dizem, ainda está com ele, esperando quem mais duvide do invisível. Os anos passaram, e Elias tornou-se uma lenda sombria no vilarejo. A raiz negra, dizem, fincou-se na terra onde ele caiu, crescendo numa árvore torta, de galhos que nunca floresciam.
Ninguém ousava se aproximar, mas os mais velhos contavam que, em noites sem lua, ouviam sussurros vindo dela, não de Elias, mas de algo mais antigo, algo que ele libertara ao arrancar sua origem do solo. Certa vez, um forasteiro, descrente como Elias fora, riu das histórias e resolveu cortar a árvore. Com um machado, golpeou o tronco. O primeiro golpe ecoou como um grito, e do corte jorrou um líquido escuro, viscoso, que queimou a terra ao tocar o chão.
O homem fugiu, e nunca mais foi visto. A árvore permaneceu, intocada, um lembrete cruel de que o mal existe. Elias, ou o que restava dele, dissolveu-se no tempo, mas o vilarejo aprendeu: o mal não precisa de Deus para existir, e sim de apenas de um coração disposto a cavar onde não deve. A raiz do mal, afinal, não estava na terra, mas no vazio que ele, Elias, escolheu chamar de lar. Autor: Igidio Garra!
O Levante de Pipoko na Jumentaiada
Era uma vez o país da Jumentaiada, uma terra distante onde os jumentos governavam com casco de ferro e relinchos estridentes. Lá, o sol queimava as planícies secas, e o povo, acostumado ao trote lento da vida, seguia as ordens do Grande Jumento Cinzento, um líder de orelhas longas e ideias curtas.
Numa manhã empoeirada, o jovem Juamento, um lavrador de pés calejados, resolveu questionar o decreto mais recente: todos deveriam carregar fardos de palha dobrados, pois, segundo o Grande Jumento, "o peso fortalece o espírito". Juamento, com seu burrinho magro chamado Pipoko, foi até a praça central e gritou:
— Por que carregamos tanto se os jumentos do poder só comem capim fresco?
Os jumentos conselheiros, de crinas bem penteadas, olharam-no com desdém. "É a lei da Jumentaiada", disseram, balançando os rabos. Mas Pipoko, com um relincho rebelde, derrubou um fardo no chão, e o povo, rindo, começou a imitar. O caos se instalou: fardos voavam, jumentos tropeçavam nas próprias patas, e o Grande Jumento Cinzento, furioso, berrou:
— Isso é traição!
Juamento, porém, já subia num monte de palha, com Pipoko ao lado. "Se o peso é tão bom, carreguem vocês!", exclamou. A multidão aplaudiu, e os jumentos, sem saber como responder, fugiram em debandada, deixando para trás suas leis absurdas.
Dizem que a Jumentaiada nunca mais foi a mesma. Juamento e Pipoko viraram lendas, e o país, aos poucos, aprendeu que nem todo peso merece ser carregado, especialmente quando quem manda só sabe zurrar.
LENDA DA ILHA
A Lenda da Ilha do Eco Eterno. Em um oceano distante, onde o mar sussurra segredos antigos, existe uma ilha conhecida apenas pelos mais corajosos ou mais tolos: a Ilha do Eco Eterno. Diz a lenda que esta ilha foi criada pelos deuses como um lugar de provação e sabedoria.
A história começa com um jovem pescador chamado Alvaro, que, em uma tempestade terrível, foi levado para longe de seu vilarejo. Quando acordou, estava na costa desta ilha misteriosa. A primeira coisa que notou foi uma peculiaridade estranha: todos os sons que fazia eram repetidos infinitamente, mas cada eco trazia uma variação, como se a ilha estivesse conversando com ele.
Alvaro começou a explorar, guiado pelos ecos. Cada passo, cada palavra, retornava com novas informações, conselhos ou advertências. Ele logo aprendeu que os ecos eram as vozes dos antigos habitantes da ilha, almas que haviam se fundido com a própria terra e agora queriam compartilhar suas histórias e sabedoria.
No coração da ilha, encontrou um lago cristalino, onde a água refletia não apenas o céu, mas também os pensamentos mais profundos de quem a olhava. Alvaro, ao se aproximar, viu não apenas seu reflexo, mas também suas dúvidas, medos e desejos. Ao tocar a água, uma voz clara e poderosa emergiu do lago:
"Tu, que chegaste até aqui, deves escolher. Levarás contigo o conhecimento de todos os ecos ou permanecerás aqui, guardião da sabedoria eterna?" Alvaro, refletindo sobre sua vida humilde e o desejo de ajudar seu povo, escolheu o conhecimento. À medida que os ecos se fundiam em sua mente, ele percebeu que havia ganhado não apenas sabedoria, mas também a habilidade de entender e curar as almas.
Com esse novo poder, Alvaro voltou para seu vilarejo, onde usou seu conhecimento para trazer prosperidade e paz. A Lenda da Ilha do Eco Eterno passou de geração em geração, um lembrete de que às vezes, o maior tesouro não é o ouro, mas o conhecimento e a sabedoria que carregamos dentro de nós. Esta lenda é uma criação fictícia, mas reflete o espírito de muitas histórias que exploram a busca por conhecimento, o sacrifício e a interação entre o humano e o divino ou o desconhecido. Por: Igidio Garra®
O GAUDERIO
Prefácio
Ao abrir as páginas deste conto, o leitor adentra um universo de histórias que celebram a essência do Rio Grande do Sul, a terra dos gaúchos, onde o vento pampeano sussurra segredos antigos e o horizonte se estende como um convite à aventura. Este prefácio é uma porta para um mundo onde a tradição e a bravura se entrelaçam em narrativas que têm o cheiro do campo, o gosto do chimarrão e o som do galope.
Neste conjunto de contos, exploramos não apenas paisagens, mas também os corações e almas dos personagens que as habitam. Cada história é um testemunho da cultura gaúcha, rica em valores como a hospitalidade, a camaradagem e a resiliência contra as adversidades. Aqui, você encontrará laços de amizade forjados no calor do fogo de chão, amores que resistem ao tempo como as coxilhas ao vento, e atos de coragem que ecoam na vastidão do pampa. Ao escrever estas palavras, meu desejo é que você, leitor, sinta-se não apenas um observador, mas parte integrante dessas histórias.
Que cada página o leve a um novo encontro com a simplicidade e a grandeza do ser gaúcho. Este livro não é apenas um registro de passagens, mas uma homenagem ao espírito de um povo que sabe viver com intensidade cada momento, seja na lida diária ou nas festas da tradição. Espero que este prefácio seja o início de uma jornada literária que aqueça seu coração como um chimarrão bem preparado, e que ao fechar este livro, você carregue consigo um pouco mais da alma do Rio Grande.
Bom proveito das palavras e das emoções aqui contidas.
Era uma vez, lá nas vastas planícies do Rio Grande do Sul, um gauchão conhecido por todos como Gaudério. Gaudério era um homem de poucas palavras, mas de coração grande e coragem inabalável. Ele vestia bombachas, usava um lenço no pescoço, uma faca no cinto e um chapéu de feltro que já vira dias de sol e chuva. Gaudério era um homem de poucas palavras, mas de coração grande e coragem inabalável. Ele vestia bombachas, usava um lenço no pescoço, uma faca no cinto e um chapéu de feltro que já vira dias de sol e chuva.
Havia algo de enigmático em Gaudério, uma quietude que falava mais alto que qualquer discurso. Com ele, as palavras eram como moedas raras, usadas apenas quando necessário, mas cada frase, quando proferida, carregava um peso de sinceridade e sabedoria. Era como se ele entendesse que o verdadeiro diálogo se dava mais no silêncio, na observação da natureza e na compreensão dos corações ao seu redor.
Seu coração grande não se media apenas pela generosidade com que compartilhava seu mate ou pela mão estendida a quem precisasse de ajuda. Era também pelo amor profundo pela terra, pelos animais e pela cultura gaúcha que carregava consigo. Gaudério tinha uma capacidade inata de fazer com que todos se sentissem acolhidos, como se pertencessem a uma grande família sob o céu do pampa.
A coragem de Gaudério era algo lendário. Não era a coragem imprudente dos impetuosos, mas a de quem conhece os perigos e, ainda assim, enfrenta-os com determinação e serenidade. Ele era o primeiro a enfrentar uma tempestade para proteger o gado, o último a desistir de um amigo em necessidade. Essa coragem não vinha de uma busca por glória, mas de um sentido inato de dever e honra.
Sua vestimenta era um reflexo de sua vida. As bombachas, confortáveis para a lida no campo, eram a marca do peão autêntico. O lenço no pescoço, além de um detalhe estético, servia para proteger do sol e do frio, um testemunho de sua praticidade. A faca no cinto não era apenas uma ferramenta de trabalho, mas também um símbolo de defesa e honra, pronta para ser usada em momentos de necessidade, seja para cortar o assado para proteger o que era justo.
E o chapéu de feltro, ah, o chapéu! Era como um diário de sua vida. Cada rachadura, cada mancha, cada forma que o feltro tomou ao longo dos anos contava uma história. Era o testemunho silencioso de dias de sol escaldante e noites de chuva torrencial, de rodeios, invernadas e de todas as aventuras que Gaudério vivenciou. Esse chapéu não era apenas um acessório; era parte dele, uma segunda pele que contava ao mundo quem ele era sem precisar de palavras.
Gaudério, com sua simplicidade, seu silêncio eloquente e sua valentia, era, em essência, a personificação do que significa ser um gaúcho, um guardião das tradições e um exemplo vivo de que as verdadeiras virtudes brilham mais intensamente na discrição e na ação.
Gaudério vivia na estância do Seu Joaquim, onde era o peão mais respeitado. Seu trabalho era cuidar das vacas, dos cavalos e guiar o gado durante as invernadas. Mas o que mais amava era o chimarrão, que tomava ao cair da tarde, sentado na porteira do campo, olhando o horizonte se tingir de laranja.
Um dia, uma grande tempestade se abateu sobre a região, trazendo ventos fortes e uma chuva torrencial que ameaçava levar tudo pela frente. As águas subiram rápido, e o gado da estância começou a se dispersar, tomado pelo pânico. Seu Joaquim, desesperado, sabia que sem o gado, a estância não sobreviveria ao inverno.
Foi então que Gaudério, sem hesitar, montou seu cavalo mais fiel, um baio chamado Tordilho, e saiu na tempestade. Ele conhecia cada palmo daquelas terras, e mesmo com a água pela cintura, guiou o gado de volta para o pasto seguro. A chuva caía como se o céu estivesse chorando, mas Gaudério, com sua determinação, não parou até que o último boi estivesse seguro.
Quando a tempestade passou, todos na estância ficaram maravilhados ao ver o gado reunido. Seu Joaquim, emocionado, foi ao encontro de Gaudério, que estava encharcado, mas com um sorriso de satisfação no rosto.
"Tu és um verdadeiro gaudério, meu amigo," disse Seu Joaquim, oferecendo-lhe um mate quente. "Não sei o que seria de nós sem tua coragem."
Gaudério, com seu jeito calmo, apenas respondeu: "É o que um gaudério faz, patrão. Cuida do que é seu e do que é dos outros como se fosse seu."
E assim, a história de Gaudério se tornou uma lenda na região, contada de geração em geração nos rodeios, nos fogões a lenha, entre um mate e outro, como um símbolo da bravura e da hospitalidade gaúcha. Ela não se limitava aos limites da estância de Seu Joaquim; ela se espalhou como o vento, atravessando coxilhas, rios e estradas, até alcançar todos os cantos do Rio Grande do Sul. Em cada festa de peão, em cada fandango, seu nome era mencionado com respeito, sua história contada com um brilho nos olhos dos narradores.
Nos rodeios, onde a cultura gaúches se celebra em sua plenitude, Gaudério era lembrado durante as provas de laço, no momento em que a destreza e a coragem se faziam necessárias. Os mais jovens ouviam, atentos, enquanto os mais velhos contavam como ele, com sua calma e precisão, conseguia laçar o mais arisco dos bois, ensinando que a verdadeira mestria vem da paciência e do conhecimento da natureza.
À volta dos fogões a lenha, onde o calor das chamas era igualado apenas pelo calor humano, a história de Gaudério era compartilhada como um presente. O crepitar do fogo parecia acompanhar a narrativa, adicionando uma trilha sonora de autenticidade à lenda. Aqui, seu nome era sinônimo de hospitalidade, de como ele sempre tinha lugar para mais um, espaço para mais um chimarrão, e como seu coração era grande o suficiente para acolher qualquer um que chegasse à estância.
Entre um mate e outro, a lenda ganhava vida. O chimarrão, essa tradição milenar, era mais do que uma bebida; era um ritual de comunhão, de compartilhar histórias e sabedoria. Cada cuia passada de mão em mão carregava um pouco da alma de Gaudério, seu espírito de camaradagem e a lição de que a verdadeira riqueza está na simplicidade e no carinho pelo próximo.
A bravura de Gaudério se tornou um emblema para todos os gaúchos, um lembrete de que a coragem não é medida pela agressividade, mas pela habilidade de enfrentar as adversidades com dignidade e sem perder o senso de justiça. Sua história ensinou que ser valente é também saber cuidar, proteger e respeitar, valores que definem a essência do povo gaúcho.
E assim, Gaudério deixou seu legado não em monumentos de pedra, mas no coração do seu povo, nas palavras que ecoam através do tempo, e na maneira como cada gaúcho vive sua vida, sempre com um pé na tradição e outro na bravura. Ele se tornou mais do que um homem; tornou-se um símbolo, um farol de virtudes que guia gerações a serem melhores, mais unidas e mais verdadeiras à sua cultura. Ele viveu muitos anos mais, sempre com o mesmo tipo chapéu, do estilo da mesma bombacha, e do mesmo amor pela terra e pelas tradições do Rio Grande.
Epílogo:
E assim, ao fecharmos as páginas deste conto, deixamos para trás as aventuras e os dramas que ecoaram pelas coxilhas e charqueadas do Rio Grande do Sul. As histórias aqui contadas, como o vento pampeano, não se detêm; elas seguem vivas na memória e na tradição, passadas de geração em geração como o mate entre amigos.
Os personagens que conhecemos, quer tenham sido corajosos gaúchos, sábios estancieiros ou amáveis prendas, deixaram um legado de valores que transcendem o tempo. Eles nos ensinaram sobre lealdade, amor à terra e ao trabalho, respeito pelas tradições, e acima de tudo, sobre a força do espírito humano.
Ao terminarmos nossa jornada literária, esperamos que você, leitor, carregue consigo um pedaço desta cultura vibrante e resiliente. Que as palavras aqui escritas sirvam não só como entretenimento, mas como um convite para refletir sobre nossa própria história e identidade.
A vida no pampa continua, com seus dias de sol e de chuva, com suas festas e lutas, com seu chimarrão e sua música. E assim, ao dizer adeus a estas narrativas, não estamos realmente nos despedindo, mas sim, dando um "até breve". Pois a essência do gaúcho, como a própria terra do Rio Grande, é eterna e sempre nos convida a voltar, a celebrar e a recordar.
Obrigado por compartilhar este tempo conosco. Que as lições e os momentos vividos nestas páginas sejam uma companhia constante, como uma fogueira que aquece a alma nas noites frias do sul.
Com o coração gaúcho! Por: Igidio Garra®
O Asno
Era uma vez, numa pequena aldeia no interior do Brasil, um asno chamado Zézo. Zézo era conhecido por todos na vila por sua teimosia e, ao mesmo tempo, por sua força e lealdade. Ele pertencia a um fazendeiro de nome Junecildo , que o utilizava para transportar cargas pesadas de um lado para outro da fazenda.
Certa manhã, enquanto Junecildo preparava o carregamento de frutas para o mercado da cidade vizinha, Zézo estava particularmente inquieto. Ele sacudia as orelhas e batia os cascos no chão, como se estivesse tentando comunicar algo. Junecildo, no entanto, estava muito ocupado para notar o comportamento do asno e insistiu que ele começasse a jornada.
Ao saírem da fazenda, o céu começou a escurecer rapidamente. Nuvens densas se formaram, prenunciando uma tempestade iminente. Junecildo, preocupado, decidiu acelerar o passo, mas Zézo, ao contrário do que esperava, parou abruptamente no caminho entre montanas, perto do rio.
Junecildo, irritado, tentou forçá-lo a continuar, mas Zézo não se movia. Foi então que uma chuva torrencial começou a cair, transformando o caminho em um lamaçal. Junecildo percebeu que se tivessem continuado, ambos poderiam terem se afogado ou ficado presos na lama. Em vez disso, encontraram abrigo em uma caverna próxima, que Zézo parecia conhecer bem.
Dentro da caverna, Junecildo refletiu sobre a teimosia de Zézo. Ele percebeu que o que antes via como obstinação, teimosia na verdade, era uma forma de sabedoria e cuidado. Zézo sabia dos perigos e tinha protegido `à ambos.
Quando a chuva cessou, Junecildo
e Zézo voltaram para casa, até as águas baixarem com uma nova compreensão entre eles. Junecildo
passou a prestar atenção atentamente os sinais de Zézo, respeitando sua sabedoria. E Zézo, por sua vez, continuou sendo o fiel e forte companheiro que sempre fora, mas agora, com o reconhecimento e o respeito que merecia.
E assim, a história de Zézo, o asno, se tornou uma lenda na aldeia no decorrer do tempo, ensinando a todos que, às vezes, aquilo que parece ser obstinação ou teimosia provou ser apenas uma forma de proteção e sabedoria silenciosa. (Igidio Garra)
Como Agradar
Em uma pequena vila encravada entre colinas verdejantes, vivia um jovem chamado João. Ele era conhecido por sua bondade e desejo incessante de fazer os outros felizes. Mas havia um problema: João não sabia como agradar as pessoas ao seu redor. Certa manhã, enquanto caminhava pelo mercado, João encontrou Dona Rosa, uma senhora idosa que sempre parecia triste. Com um sorriso, ele se aproximou dela e perguntou:
— Dona Rosa, o que posso fazer para alegrar seu dia?Dona Rosa, com um olhar cansado, respondeu:
— Meu querido João, tu já fazes muito ao perguntar. Mas, se quer saber, eu adoraria um jardim cheio de flores, como o que tinha na minha juventude.
João, sem hesitar, passou os próximos dias cavando, plantando e cuidando de um pequeno jardim ao lado da casa de Dona Rosa. Um tempo depois quando ela viu o jardim florido, seus olhos brilharam com uma alegria antiga.
— Você realmente sabe como agradar, João — disse ela, agradecida.
Inspirado por esse sucesso, João decidiu continuar sua missão. No dia seguinte, encontrou o Sr. Luís, um ferreiro solitário cujas mãos estavam sempre manchadas de fuligem. João perguntou:
— Sr. Luís, como posso alegrar seu dia?
O ferreiro, surpreso com a pergunta, pensou um momento antes de responder:
— Faz anos que não toco uma música. Se ao menos eu tivesse um violino...
João, determinado, gastou quase todas as suas economias para comprar um violino em uma cidade vizinha. Quando entregou o instrumento ao Sr. Luís, as notas que o ferreiro extraiu do violino ecoaram pela vila, trazendo alegria não só a ele, mas a todos que ouviram.
Mas João não parou por aí. Ele visitou cada morador, perguntando como poderia alegrar seus dias. Para uns, trouxe livros; para outros, preparou refeições quentes; para alguns, simplesmente ofereceu companhia. Cada gesto, por menor que fosse, era feito com todo o coração.
Um dia, enquanto descansava sob uma árvore, João foi abordado pela jovem Marta, que ele secretamente admirava. Com um sorriso tímido, ela disse:
— João, você já agradou a todos na vila, mas como eu posso te agradar?
João, surpreso e feliz, respondeu com simplicidade:
— Marta, sua presença aqui já é o bastante para me alegrar.
E assim, através de pequenos atos de bondade e atenção, João não só aprendeu como agradar os outros, mas também descobriu que o segredo para a verdadeira felicidade está em dar sem esperar nada em troca. A vila, agora mais alegre e unida, prosperava, e João, com seu coração cheio de amor e gratidão, encontrou sua própria felicidade na alegria dos outros. (Igidio Garra)
A Fábula do Vento Minuano
Nos vastos campos do Rio Grande do Sul, onde o céu se encontra com a terra numa dança eterna, vivia o Vento Minuano. Este não era um vento qualquer; era conhecido pela sua força, frio e pela habilidade de mudar o clima em um piscar de olhos. Certa vez, o Minuano, orgulhoso de sua potência, decidiu provar que era o mais poderoso de todos os ventos. Desceu das serras, varrendo tudo em seu caminho, com um sopro gélido que fazia os galhos das árvores se dobrarem e as folhas dançarem ao seu comando.
Ao chegar à planície, encontrou o Sol, que brilhava com toda a sua majestade, aquecendo a terra e trazendo vida à vegetação. "Sol," disse o Minuano com um tom de desafio, "vejo que tentas aquecer o mundo com teu brilho. Mas eu, com meu vento frio, posso fazer os homens tremerem e as plantas se curvarem." O Sol, sempre sereno, olhou para o Minuano e respondeu com um sorriso caloroso: "Querido Minuano, força não é tudo. Se você realmente quer provar sua superioridade, vamos fazer um teste. Vê aquele gaúcho lá embaixo, o que está com o seu poncho ao sol? Quem conseguir fazer com que ele tire seu poncho primeiro, será o mais poderoso."
O Minuano, confiante, iniciou o desafio. Soprou com toda a sua força, tentando arrancar o poncho do gaúcho com rajadas geladas. Mas quanto mais ele soprava, mais o gaúcho apertava seu poncho contra o corpo, resistindo ao frio. O Minuano, exausto, finalmente parou, reconhecendo sua derrota momentânea. Então, foi a vez do Sol. Ele não usou força bruta; ao invés disso, começou a brilhar mais intensamente, envolvendo o gaúcho em um abraço de calor.
Pouco a pouco, o gaúcho sentiu o conforto do calor, e sem resistência, tirou o poncho, colocando-o sobre o braço, desfrutando da agradável temperatura. O Minuano, observando a cena, ficou pensativo. "Como pode ser?" perguntou-se, "Eu usei toda minha força, e você, com sua suavidade, venceu."
O Sol, com sabedoria, respondeu: "Minuano, a verdadeira força não está apenas na potência, mas na gentileza, na paciência e na compreensão. A força bruta pode intimidar, mas é o calor da bondade que realmente transforma." Desde então, o Minuano aprendeu uma lição valiosa.
Ele continuou a soprar forte e frio, mas agora, em certos momentos, suavizava seu vigor, trazendo não apenas o frio das serras, mas também um frescor que complementava o calor do sol, mostrando que até mesmo o vento mais impetuoso pode aprender a dançar com a vida de uma maneira mais harmoniosa.
E assim, a fábula do Vento Minuano se espalhou pelas coxilhas, ensinando a todos que a verdadeira força reside na combinação de poder com sabedoria e gentileza.
João e o Natal
Era véspera de Natal em um pequeno vilarejo brasileiro, e todos estavam empolgados para a grande festa. No entanto, o protagonista desta história era João, um homem conhecido por sua bondade, mas também por sua notória falta de sorte e habilidade em preparativos festivos. João decidiu que este ano seria diferente. Ele se propôs a fazer o melhor peru de Natal que o vilarejo já tinha visto.
Comprou todos os temperos, o peru mais gordo do mercado e, com muita determinação, começou a preparação. Mas, como era de se esperar, as coisas começaram a dar errado assim que ele colocou o peru no forno. Primeiro, ele esqueceu de tirar o plástico que envolvia o peru. Quando percebeu, o cheiro de plástico derretido já havia tomado conta da cozinha. Desesperado, ele abriu todas as janelas, e o cheiro se espalhou pela rua, fazendo os vizinhos pensarem que alguém estava queimando pneus.
Depois de limpar tudo e começar de novo, João decidiu que precisava de uma ajuda divina. Colocou uma vela acesa ao lado do forno para "abençoar" o peru, mas a vela, claro, caiu sobre a toalha de mesa, quase causando um incêndio na cozinha. O bombeiro local, que já estava acostumado com os incidentes natalinos de João, chegou em poucos minutos para apagar o pequeno incêndio.
Para piorar, quando João finalmente conseguiu assar o peru sem mais desastres, ele o deixou esfriar na varanda, onde o cachorro da vizinha, o travesso Rex, decidiu que aquele seria o melhor presente de Natal para ele mesmo. Em questão de minutos, o peru desapareceu, levando com ele os sonhos de João de ser o melhor cozinheiro natalino. No fim, João acabou comprando uma pizza congelada, que serviu de jantar para a família e amigos. A reunião foi cheia de risadas, não pela comida, mas pelas histórias do Natal desastrado de João.
Todos concordaram que, na verdade, o Natal não é sobre o peru perfeito ou a ceia impecável, mas sobre estar juntos, rir das próprias desventuras e celebrar o amor e a união. E assim, João, apesar de sua falta de sorte, acabou proporcionando o Natal mais memorável e engraçado que o vilarejo já tinha visto, provando que às vezes, os melhores momentos nascem das situações mais inesperadas.
O Camponês
Era uma vez, num pequeno vilarejo no interior do Brasil, um camponês chamado João. João era um homem simples, de rosto curtido pelo sol e mãos calejadas pelo trabalho na terra. Sua vida girava em torno de sua pequena propriedade, um pedaço de chão que herdara de seus pais e que ele cultivava com amor e dedicação. Todos os dias, antes do nascer do sol, João levantava-se para acompanhar o canto dos galos.
Ele começava seu dia com um café preto, forte como o solo que trabalhava, e saía para o campo. Seus dias eram ritmados pelo som das enxadas cavando a terra, pelo ranger das carroças cheias de milho e pelo murmúrio das folhas ao vento. João plantava feijão, milho e mandioca, além de cuidar de algumas galinhas e de um porco que seria a festa de fim de ano da família.
A vida de João não era fácil. Havia anos em que a chuva era escassa e a terra se tornava dura e infértil, outros em que a chuva vinha em demasia, lavando embora suas esperanças junto com a terra. Mas João era um homem de fé e perseverança. Ele acreditava que, com trabalho duro e a bênção dos céus, as coisas melhorariam. Nos domingos, João deixava de lado o chapéu de palha e vestia suas melhores roupas para ir à igreja. Lá, encontrava-se com os vizinhos, compartilhava histórias e conselhos sobre plantio, e às vezes, até encontrava tempo para um sorriso ou uma risada.
Era no convívio com a comunidade que João encontrava forças para continuar. João tinha uma esposa, Maria, e dois filhos, Lucas e Ana. Maria trabalhava ao lado dele no campo, mas também cuidava da casa, transformando o pouco em muito com suas mãos habilidosas. Lucas, já adolescente, começava a aprender os segredos da terra com seu pai, enquanto Ana, mais nova, sonhava com um futuro além das plantações.
A vida de João era simples, mas rica em momentos de beleza e simplicidade. Ele vivia para ver o sorriso de sua família, para sentir o cheiro da terra molhada após a chuva, para ouvir o som da colheita sendo celebrada. Cada ano que passava, João sentia um orgulho silencioso pelo que conseguira manter e construir. Quando envelheceu, João passou a olhar mais para o horizonte do que para o chão.
Ele via seus filhos crescerem, casarem e, quem sabe, um dia, retornarem à terra que ele tanto amava. E, no final de tudo, João sabia que sua história, como a de tantos camponeses, era uma história de amor à vida, à terra e ao trabalho honesto. E assim, João, o camponês, viveu seus dias, deixando um legado de simplicidade e resiliência, ensinando que a verdadeira riqueza está no coração, na família e na terra que nos sustenta. [IgiPatriota]
O MENESTREL
Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! (Veronica Shoffstall)
Cisnes
A expressão tem origem na crença de que o cisne branco cygnus olor vivia toda sua vida a gorjear sem muita beleza ou mesmo sem emitir sons, realizando essa ação apenas antes de morrer. Nesse momento derradeiro, um belo canto ecoava do cisne antes de sua morte. Por isso, refere-se à obra de final de um grande artista, que teria acumulado inspiração durante sua vida para no final conceber uma bela obra de arte.
Uma possível primeira menção a essa expressão teria sido feita por Sócrates, antes de se suicidar com a ingestão de cicuta, em 399 a.C.. Platão, no diálogo Fédon, apresenta uma última frase de Sócrates, na qual o grande filósofo grego havia feito referência aos cisnes: "Quando sentem a hora da morte se aproximar, essas aves, que durante a vida já cantavam, exibem então o canto mais esplêndido, mais belo; eles estão felizes de ir ao encontro do Deus do qual são os servidores. (...)
Eu, pessoalmente não acredito que eles cantem de tristeza; acredito, ao contrário, que, sendo as aves de Apolo, os cisnes possuam um dom divinatório e, como presentem as alegrias que gozariam no Hades, cantam, nesse dia, mais alegremente do que nunca." Durante muito tempo, acreditava-se ser verdade essa ação do cisne branco. Vários foram os poetas ou mesmo músicos que se referiram a ela. (Tales Pinto)
Nota: Porém, os cientistas desmentiram a história. Os cisnes brancos não são mudos, pois grunhem e assoviam durante toda sua vida. Também não realizam nenhum canto ao morrer. Essa situação mostra como as expressões quando criam raízes culturais são difíceis de serem utilizadas, valendo mais seus sentidos metafóricos, que sua verdade científica. (OÁSIS Para José Cláudio Abreu, Luiz Carlos Moura e o negrinho Jorge)
A brincadeira
Não era difícil: bastava que nos concentrássemos o suficiente para conseguirmos transformar tudo que havia em volta. E treinados como estávamos nas imaginações mais delirantes, era relativamente fácil avistar um deserto na rua comprida e um oásis no arco branco do portão do quartel, lá no fundo. Algumas vezes tentamos iniciar um ou outro guri da nossa idade, mas eles não conseguiam nunca chegar até o fim.
Os mais persistentes alcançavam a metade do caminho, mas era mais comum rirem de saída e irem cuidar de outra coisa. Talvez porque, ao contrário de nós três, nunca houvessem visto o quartel por dentro, com seus lagos, cavalos, alamedas calçadas, eucaliptos, cinamomos, soldados. Acho mesmo que foi naquela tarde em que visitamos o quartel pela primeira vez que a brincadeira nasceu.
Absolutamente fascinados, sentimos necessidade de vê-lo mais e mais vezes, principalmente ficamos surpresos por não termos jamais imaginado quantas maravilhas se escondiam atrás daquele portão branco, e tão tangíveis, ali, no fim da rua de nossa casa. Não sei de quem partiu a idéia mas, seja de quem foi, ele foi muito sutil ao propô-la, disfarçando a coisa de tal jeito que não suspeitamos tratar-se de apenas um pretexto para visitar mais vezes o quartel.
Claro que não confessaríamos claramente nosso fascínio, tão empenhados andávamos em, constantemente, simular um fastio em relação a todas as coisas. Fastio esse que, para nós, era sinônimo de superioridade. Era preciso bastante sol para brincar, fazíamos questão de ficar empapados de suor e de sentirmos sobre as cabeças aquela massa amarela quase esmagando os miolos.
Era preciso também que não houvesse chovido nos dias anteriores, pois por mais hábeis que fôssemos para distorcer pequenos ou grandes detalhes, não o éramos a ponto de aceitar um deserto lamacento. Quando todas essas coisas se combinavam, a proposta partia de qualquer um de nós. Brincar de oásis era a senha, e imediatamente caíamos no chão, ainda desacordados com o choque produzido pela queda do avião onde viajávamos, depois lentamente abríamos os olhos e tateávamos em volta, no meio da rua, tocando as pedras escaldantes da hora de sesta.
Quase sempre Jorge voltava a fechar os olhos dizendo que preferia morrer ali mesmo do que ficar dias e dias se cansando à toa pelo deserto. E quase sempre eu apontava para o arco no fim da rua, dizendo que se tratava de um oásis, que meu avião já havia caído lá uma vez e que, enfim, tinha experiência de caminhadas no deserto. Em seguida Luiz investigava os bolsos e apresentava algum biscoito velho, acrescentando que tínhamos víveres suficientes para chegar lá.
Convencido Jorge, tudo se passava normalmente. Aos poucos nossas posturas iam decaindo: no fim da primeira quadra, tínhamos os ombros baixos, as pernas moles, já na altura do colégio das freiras começávamos a tropeçar e, para não cair, nos segurávamos no muro de tijolos musguentos. A partir do colégio as casas rareavam, e além de algumas pensões de putas não havia senão campo, cercas de arame farpado e a poeira solta e vermelha do meio da rua.
Então, sem nenhum pudor, andávamos nos arrastando enquanto algumas daquelas mulheres espantosamente loiras nos observavam das janelas por baixo das pálpebras azuis e verdes, pintando as unhas e tomando chimarrão em baixo das parreiras carregadas. Tudo se desenvolvia por etapas que eram vencidas sem nenhuma palavra, sem sequer um olhar. Raramente alguém esquecia alguma coisa.
Apenas uma vez Jorge não resistiu e, interrompendo por um momento a caminhada, pediu um copo d'água para uma daquelas mulheres. Eu e Luiz nos entreolhamos sem falar, escandalizados com o que julgávamos uma imperdoável traição. Mas a tal ponto nos comunicávamos que, mal voltou, a água ainda pingando do queixo, Jorge justificou-se com um sorriso deslavado: Foi uma miragem. A partir de então as miragens se multiplicaram, vacas que atravessavam a rua, pitangueiras no meio do campo, alguma pedrada num passarinho mais distraído.
Chegávamos no portão e ficávamos olhando para dentro, sem coragem de entrar, com medo dos dois soldados de guarda. Lá dentro: o paraíso. Mas era como se tivéssemos entrado: voltávamos novamente eretos, bem-dispostos, com as peças para consertar o avião caído e que, sem a menor explicação, tínhamos encontrado entre duas palmeiras. Houve uma versão de seca tão intensa, sol, poeira, sede e crepúsculos esbraseados, que brincávamos quase todos os dias. Acabamos fazendo amizade com um soldado que ficava de guarda às segundas, quartas e sextas.
Aos poucos, então, começamos a suborná-lo, usando os métodos mais sedutores, adestrando-nos em cinismos. Começamos por mostrar a ele figurinhas de álbum, depois levando revistas velhas, biscoitos, rapaduras, pedaços de galinha assada do almoço de domingo, garrafas vazias e, finalmente, até mesmo alguma camisa que misteriosamente desaparecia do varal de casa. Mas a vitória só foi consumada quando Dejanira, a empregada, entrou em cena.
Com muito tato, conseguimos interessar o soldado numa misteriosa mulata que espiava todos os dias a sua passagem para o quartel, de manhã cedinho, escondida atrás da janela da sala. Era uma mulata tímida e lânguida, que fazia versos às escondidas e pensava vagamente em suicídio nas noites de lua cheia. Dejanira parecia um nome muito vulgar para uma criatura de tais qualidades, então tornamos a batizá-la de Dejanira Valéria e, pouco a pouco, fomos acrescentando mais e mais detalhes, até conseguir enredar o soldado a um ponto que ele chegava a nos convidar para entrar no quartel.
Antes do avião cair nos esmerávamos em forjar bilhetes cheios de solecismos e compor versos de pé quebrado em folhas de caderno, sensualmente assinados por docemente tua, Dejanira Valéria, numa caligrafia que Luiz caprichosamente enchia de meneios barrocos altamente sedutores. E na hora do banho Dejanira não entendia por que a tratávamos com tanto respeito, chamando-a candidamente de doce Valéria, até que nos enchia de cascudos e palavrões.
Mas a confiança do soldado estava ganha: já agora se empenhava em nos agradar, atraindo-nos para dentro do quartel e permitindo que ficássemos horas zanzando pelo pátio calçado, as árvores pintadas de branco até a metade, os cavalos de cheiro forte e crina cortada, apitos, continências, bater de pés e outras senhas absolutamente incompreensíveis e deslumbrantes em seu mistério. Coisas estranhas se passavam ali, e tínhamos certeza de estarmos lentamente ingressando numa espécie de sociedade mágica e secreta.
Foi quando, uma tarde, tudo se passando exatamente como das outras vezes, nos encontramos os três parados à frente de um portão sem guarda. Não conseguimos compreender, mas estávamos tão habituados a entrar e a passar despercebidos que, como das outras vezes, entramos. Havia um movimento incomum lá dentro: carroças se chocavam, armas passavam de um lado para outro, soldados corriam e gritavam palavrões, o chão estava sujo de estéreo, os cavalos todos enfileirados.
Conseguimos passar mais ou menos incógnitos pelo meio da babilônia, até chegarmos numa sala onde nunca estivéramos antes. Examinamos as paredes vazias, depois descobrimos num canto, sobre uma mesa, um estranho aparelho cheio de fios. Jorge descobriu um microfone e, por algum tempo, ficamos ali parados, sem compreender exatamente o que era aquilo, mas certos de que se tratava de uma peça importantíssima para o funcionamento de toda a organização.
Estávamos tão entretidos na descoberta que não percebemos quando entraram dois soldados com fardas diferentes das dos outros, com penduricalhos coloridos nos ombros. Fui o primeiro a vê-los, mas não foi possível avisar os outros: os soldados já avançavam sobre nós, vermelhos, segurando-nos pelos ombros e nos sacudindo até que Jorge começasse a chorar e a chamar pela mãe. Falavam os dois ao mesmo tempo, aos berros. Depois, com mais alguns trancos, nos jogaram num canto.
Um deles, de enorme bigode preto, avançou para nós e, com uma voz que me pareceu completamente hedionda, disse que ficaríamos presos até aprendermos a não nos meter onde não era da nossa conta. Ainda discutiu um pouco com o outro, que parecia estar do nosso lado, pelo menos torcemos para que fosse assim. Mas não adiantou nada: o de bigode enorme disse que era só um susto, e saiu nos empurrando até a prisão.
Era um quartinho ainda menor que o de Dejanira, infinitamente mais sujo e frio, apesar de todo o calor que fazia lá fora, com uma janelinha gradeada na altura do teto. Ficamos ali durante muito tempo, incapazes de dizer qualquer palavra, num temor tão espesso que não era preciso evidenciá-lo através de um grito. Jorge chorava, eu e Luiz nos encolhíamos contra as paredes. Pensamentos terríveis cruzavam a minha cabeça, pelotões, fuzilamentos, enquanto uma dor de barriga se tornava cada vez mais insuportável, até escorregar pelas pernas numa massa visguenta.
Já era noite quando vimos com alívio a porta se abrir para dar passagem ao soldado nosso conhecido. Sem falar nada, fomos levados para casa num jipe militar. Mamãe estava descabelada, as vizinhas todas em volta, as luzes acesas: entramos na sala pela mão do soldado, que falou rapidamente coisas que não conseguimos entender, enquanto todo mundo nos envolvia em beijos e abraços, logo contidos quando perceberam meu estado lastimável.
Mamãe disse que a culpada era Dejanira, que não cuidava de nós; papai disse que a culpada era mamãe, que nos entregava a Dejanira; Dejanira disse que os culpados éramos nós, uns demônios capazes de enlouquecer qualquer vivente; mamãe disse que Dejanira era uma china desaforada, e que demônios eram os da laia dela, e que o culpado era papai, que achava que em criança não se bate;
Dejanira disse que não ficava mais nem um minuto naquela casa de doidos; papai disse que mamãe não nos dava a mínima; mamãe disse que era uma verdadeira escrava e que os homens só queriam mesmo as mulheres para aquilo; papai disse que não podia dar atenção a seus faniquitos na hora em que o país atravessava uma crise tão grave. E acabaram os três gritando tão alto quanto os dois soldados de farda diferente, com penduricalhos coloridos nos ombros Depois do banho assistimos à partida de uma Dejanira nem um pouco Valéria e muito menos lânguida: jogava as roupas na mala e resmungava desaforos em voz baixa.
Doía vê-la ir embora, mas as chineladas e a vara de marmelo doeram muito mais. Fomos postos na cama sem jantar. Ficamos muito tempo acordados no escuro, ouvindo o som do rádio que vinha da sala e os passos apressados na rua. Antes de dormir ainda ouvi a voz de Jorge perguntando a Luiz c que era uma revolução, e um pouco mais tarde a voz de Luiz, apagada e hesitante, dizer que achava que revolução era assim como uma guerra pequena.
Mais tarde, não sei se sonhei ou se pensei realmente que os aviões não
caíam no meio das ruas, e que as ruas não eram desertos e que portões
brancos de quartéis não eram oásis. E que mesmo que portões brancos
de quartéis fossem oásis e cinamomos pintados de branco até a metade
fossem palmeiras, não se encontraria nunca uma peça de avião no meio
de duas palmeiras. E por todas essas coisas, creio, soube que nunca
mais voltaríamos a brincar de encontrar oásis no fim das ruas. Embora
fosse muito fácil, naquele tempo.
Conto do livro O ovo apunhalado.
Conto: Boneco de neve.
A primeira vez e única que visitei a Escandinávia em 1982 uma cena me chamou atenção. Era inverno. E a noite começava a partir das 14 h da tarde. Um frio e muita neve no chão. Um sol ralo sem vida esquentava aquela cidade. Entrei em um bar cheio. E vou revelar para vocês outra coisa que me chamou atenção. Estava silencioso. Não se ouvia nada. Parecia que estava entrando em uma dimensão totalmente diferente.
Parecia que estava dentro do museu de cera Madame Tussauds. Lembro-me que um amigo em tom de piada me disse: O carnaval existencial dos noruegueses é animado, não? Era fim de janeiro, perto do carnaval no Brasil. Essa foi a imagem que ficou de mais impressionante marcada em minha memória sobre aquela cidade chamada Oslo. Não falo isso para desmerecer o povo norueguês, de maneira alguma. Adorei a viagem. Pessoas educadas, lindas. Mas senti algo que nunca tinha visto em lugar algum. Nem em Copenhagen. Uma melancolia infinita.
É bom que se diga que a existência da violência dos nórdicos tem uma característica muito particular, mas nada que se compare a nossa carnavalesca e feliz violência. Um dado que verifiquei no Google é que no Rio de Janeiro entre 1990 e 2013, um número assustador de pessoas desapareceu. Agora se preparem para estatística cruel. Preparados? Foram mais de 90 mil desaparecidos no estado nos últimos 23 anos, mas não se sabe quantos estavam sob custódia policial, afirma o sociólogo Fábio Araújo. Em outras palavras, somadas todas as ditaduras latino-americanas, nos "chamados" anos de chumbo, não cobrem esse número avassalador.
Portanto, ao ler os livros sobre os crimes cometidos nos romance policiais nórdicos, recomenda-se não ter complexos de superioridade com os nossos, ok? O livro Boneco de Neve do escritor Jo Nesbo definitivamente não deve ser lido por aqueles que sofrem de doenças cardíacas. O livro é macabro e perturbador. Com um roteiro ágil, hábil e com sequências de ações repletas de adrenalina e uma série de questões sociais levantadas ao longo das páginas que se sucedem. O protagonista dessa trama tem no inspetor Harry Hole um homem de difícil trato principalmente com os seus superiores. Harry Hole tem pavio curto, não é daqueles que chegam na hora certa no trabalho.
As mulheres de sua vida gostam dele, mas não o admiram. A única coisa que pode ser dita a seu favor que ele é o melhor na profissão. Outro detalhe que pode ser dito a seu favor é que ele persegue os assassinos com um fervor quase mítico, uma fúria desmedida de um descendente de Thor. Ele não dá descanso. E muito menos descansa. Ele obedece aos seus instintos primários básicos. Mas é com a inteligência que ele se locomove e apura os fatos. Sempre pronto para dar o bote final.
É uma lenda no departamento de polícia em Oslo, na Noruega. Em Boneco de Neve Harry Hole vai ter que se deparar com um assassino em série. Só que esse psicopata faz questão de deixar a sua marca indelével. E qual é a sua marca? Um boneco de Neve. Suas vítimas são mulheres. E tudo começa numa noite de novembro em Oslo, a neve começa a cair. Um menino acorda e não vê sua mãe, ele descobre pegadas molhadas na escada. E na medida em que o sentimento de horror vai crescendo, e cada frase vai sendo lida, o menino olha na janela do quarto.
Um lenço de sua mãe de cor rosa envolta em um boneco de neve sob a luz do luar. Após essa abertura que é de gelar o sangue, fica a questão como vou sair desse livro? Não há jeito. Você já foi pego. Harry Hole tem um novo desafio, dessa vez no interior do próprio Departamento de Polícia. Sua nova parceira Katrine Bratt, que pode ser tudo aquilo que Harry Hole está precisando, ou seja, uma pessoa que goze do respeito desse policial cheio de paranoias. Será?
Pela primeira vez em sua carreira Harry se vê confrontado com um assassino em série que opera em seu território, assassino que vai levá-lo à insanidade que o transforma em um peão de um jogo mortal. Mas se você pensa que o assassinato narrado foi apenas um caso isolado, é bom "take the little horse from rain."Mães e esposas podem desaparecer em dia de nevascas. Mas dessa vez ele recebe uma carta do suposto assassino, um assassino que se autointitula, e assina suas obras como boneco de neve. Alguns dias depois, outra descoberta macabra é feita: a cabeça decepada de outra mulher, colocado em cima de um boneco de neve. (deconheço o autor) se souberem me avisem para dar o crédito!
Conto Ciclo da Vida:
A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.
Aí tu curtirás tudo, beberá bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Tu vais para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando.
E... nesses nove meses, Tu flutua em um oceano morno de possibilidades, onde o tempo não tem rédeas. Tu sonhas com estrelas distantes, cada uma pulsando com segredos antigos, suas luzes dançando em sua consciência como reflexos em um lago tranquilo. O universo murmura para ti, uma canção suave tecida por vibrações cósmicas, um coro de galáxias girando em harmonia, envolvendo sua alma em um abraço eterno.
Aos poucos, tua essência começa a se condensar, como orvalho se formando ao amanhecer. Não é uma perda, mas uma transformação de algo vasto e indefinido para uma faísca brilhante de potencial, uma semente de vida carregada de promessas. Tu já não és mais um corpo, nem mesmo uma forma distinta, mas uma ideia pura, um sussurro de vida que ressoa nos ventos invisíveis do cosmos, entrelaçando-se com nebulosas e cometas errantes. Finalmente, tu, te dissolves na eternidade, não como um fim, mas como uma entrega serena.
Livre de formas, você se torna apenas uma parte do todo, uma nota na sinfonia infinita, um fio na tapeçaria do ser. E ali, na quietude do não-ser, tu repousas, sabendo que não há fim, apenas a espera paciente pelo momento de brilhar novamente, em outro ciclo, em outra história, talvez como um novo sonho, uma nova alma, ou apenas uma brisa que acaricia o rosto de alguém em um mundo ainda não nascido ...e então tu terminas como uma centelha de luz, um brilho nos olhos de alguém, antes de se liquefazer no universo, completo, sem começo nem fim, apenas sendo.
Contos do Poente:
Conheci Rita Paschoalin, uma das autoras do livro em questão, através do Facebook. Nunca conversamos, mas ao saber que eu tinha o blog, me enviou gentilmente o livro para que eu o conhecesse. Bem, "Contos do Poente" chegou lá em casa e eu li –e gostei. No primeiro contato com o texto, percebe-se uma grande sintonia entre Luciana Nepomuceno e Rita Paschoalin, escritoras, e Joana Faria, ilustradora, que pontua o texto com seu traço fino e bem humorado.
Os contos são assinados e intercalados pelas autoras que possuem cada uma o seu próprio estilo, que mesmo assim não quebra a unicidade do livro, mas se tornam próximos em função da sensibilidade de ambas em narrar algumas lembranças e tecerem tão bem as linhas entre a prosa e a poesia. Foram 190 páginas que passaram voando por minhas mãos, através de contos que me conduziram, em alguns trechos, às minhas próprias lembranças. E é nesses momentos que a profissão de Livreiro se torna um presente diário: descobre-se bons livros e escritores a todos momentos.
Então, para quem indicar essa obra? Pergunta que sempre me faço quando encerro um livro e o considero bom. "Contos do Poente" é para todos que apreciam, antes de tudo, as palavras e a delicadeza de tudo que não se retém na memória, mas exige seu registro. Um livro onde a identificação com algumas passagens se dará naturalmente. E isso faz parte da história. O livro foi editado pelo grupo Ediouro, com o selo da Sinergia, apresentado por Jeanne Callegari, da biografia de caio Fernando Abreu, e recomendado por Fal Vitielo Azevedo e Maria Thereza Gonçalves – agora pelos Bons Livros para ler. Alguns pontos me chamaram atenção: a primeira, como já disse, é a fusão entre a prosa e a poesia.
E logo no primeiro conto percebo algo musical: "os dias cada vez mais curtos e as noites cada vez mais longas" é o refrão do primeiro conto: Palavras. O conto é comovente pelas rememorações da narradora e da solidão cravada por impossibilidades. "Conto do Poente" nos remete as nossas memórias. Nossas memórias não se apresentam habitualmente como recordações na ordem cronológica, mas como um reflexo onde está alterada a ordem das partes, e, só muito mais tarde, lembradas com seus detalhes, podendo chamá-las até de impressões.
A memória é incapaz de fornecer a lembrança dessas múltiplas impressões que a compõe. Segundo Henri Bergson: "a memória sob estas duas formas, enquanto recobre com uma camada de lembranças um fundo de percepção imediata, e também enquanto ela contrai uma multiplicidade de momentos, constitui a principal contribuição da consciência individual na percepção.
O passado em forma de imagens aparece constantemente nos contos narrados, para isso as narradoras descrevem suas lembranças como imagens de impressões anteriores no sentido de recriar o passado como um processo criativo. E o valor do presente consiste em valorizar "as pequenas coisas" e sonhar. "Para Aninha, o tempo da festa e da vida pairava nos diálogos imaginários enquanto fazia e desfazia o laço com o qual embrulhara, aprisionara em um pequeno pacote, seu roteiro inventado." Nesse trecho, fica clara a postura tomada sobre o conceito de lembrança.
Esta não seria uma "cópia", "repetição", mas um processo "criativo", dinâmico que tem como princípio a construção de algo. O passado se encontra em nós sem que precisemos conhecê-lo. Contos do poente têm algumas preciosidades como "Bagagem", "Memória", "Esquecimento," "Palavras". Um livro de prosa delicada que merece um lugar na sua estante. Perguntei a um sábio, a diferença que havia entre amor e amizade, ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível, a Amizade mais segura. O Amor nos dá asas, a Amizade o chão. No Amor há mais carinho, na Amizade compreensão. O Amor é plantado e com carinho cultivado, a Amizade vem faceira, e com troca de alegria e tristeza, torna-se uma grande e querida companheira. Mas quando o Amor é sincero ele vem com um grande amigo, e quando a Amizade é concreta, ela é cheia de amor e carinho. Quando se tem um amigo ou uma grande paixão, ambos sentimentos coexistem dentro do seu coração.
Faraós e Rainhas
Conta a lenda que ele dava forma aos recém-nascidos antes de colocá-los no ventre de suas mães e que ajudava a rainha do Egito no momento de dar à luz o futuro faraó, descreve a obra de García García. Finalmente, elenca o auts, a terceira teoria conta que Ptah foi um dos criadores do mundo, concebendo os homens, os animais e as plantas primeiro em seu coração. Para os egípcios, o coração carrega o pensamento, a inteligência e os sentimentos".
Em seguida, pronunciando seus nomes, deu vida aos seres e as plantas. A Lua também tinha seu próprio deus representante: Jonsu ou Khonsu. O Guia Mitológico do Antigo Egito relata que tal deus lunar era representado, geralmente, por uma forma humana com o cabelo arrumado em um cacho lateral indicando juventude. O texto também esclarece que Jonsu podia ser associado a uma forma de múmia, assim como Hórus, Ptah ou Thot. Em quanto ao significado, García García revela que Khonsu parecia representar o vagabundo, o errante.
A lenda prossegue narrando que Khonsu, o deus lunar, não apenas vagava pelos céus, mas também desempenhava um papel vital na proteção dos viajantes noturnos e na cura de enfermidades. Segundo García García, acreditava-se que Khonsu possuía poderes de renovação, associados às fases da Lua, que simbolizavam o ciclo de morte e renascimento. Em algumas representações, ele carregava um cetro com os símbolos do ankh, da vida, e do djed, da estabilidade, reforçando sua conexão com a regeneração e a eternidade.
Outra teoria mencionada por García García sugere que Ptah, além de criador, era também o patrono dos artesãos, especialmente dos escultores e ourives, que viam nele a inspiração para moldar a matéria bruta em formas divinas. Sua habilidade de conceber o mundo no coração antes de materializá-lo com palavras era reverenciada como o ápice da criação consciente.
Assim, templos dedicados a Ptah, como o de Mênfis, tornaram-se centros de aprendizado e arte.Enquanto isso, o Guia Mitológico do Antigo Egito destaca que Jonsu, em sua forma de errante, também era invocado em rituais para afastar espíritos malignos, especialmente durante a lua nova, quando a escuridão prevalecia. Associado à juventude e à vitalidade, ele contrastava com a sabedoria madura de Thot, outro deus lunar, que registrava o tempo e os feitos dos homens. Juntos, esses deuses formavam um equilíbrio cósmico, onde criação, renovação e conhecimento se entrelaçavam na visão egípcia do universo.
Conto Boi chamado Blimundo:
Era grande, forte e amante da vida e da liberdade. Além disso, era muito amado e respeitado por todos, pois sabia pensar por si próprio, além de ser muito gentil com todos. Ao saber da existência de que ousava ser tão livre em seus posicionamentos e fazendo com que os outros bois lhe seguissem o exemplo. Se ele continuasse assim criatura tão autêntica.
Senhor Rei perguntou-se que boi seria esse, q, quem faria, depois, o trabalho pesado do reino? Ordenou, então, que Blimundo fosse pego morto ou vivo, a trazido até a sua presença. Os homens do Senhor Rei saíram em busca do boi, mas este os encontrou primeiro e deu um fim neles. Ao saber da notícia, Senhor Rei reuniu os homens mais valentes do reino e os mandou capturar Blimundo, e os homens partiram.
O boi, novamente, deu cabo dos homens. Quando recebeu tão triste notícia, Senhor Rei desesperou-se, porém logo ouviu falar de um rapaz que fora criado no borralho da cinza e que se prontifica a ir buscar Blimundo. O menino pediu um cavaquinho, um "bli" d'água e uma bolsa de "prentém". Além disso, quando retornasse queria a metade da riqueza do reino e a mão da princesa. Senhor Rei concordou e o jovem partiu.
Então o jovem sai em busca do boi cantando uma canção que deixa Bilmundo encantado, na qual o jovem diz que, se Blimundo for com ele, casará com a Vaquinha da Praia. O boi pergunta se é verdade, o rapaz responde que sim. O jovem pede a Blimundo que o deixe montar, pois o caminho é muito longo. Ele deixa com a condição de que o rapaz continue cantando.
Senhor Rei colocou a tropa em pontos estratégicos para receber Blimundo. Ao ver o boi chegar, carregando o rapaz no lombo, cansado e feliz, Senhor Rei não acreditou. À porta do palácio, o rapaz pediu para descer do lombo de Blimundo a fim de fazer a barba antes de ser apresentado à Vaquinha da Praia. O jovem conta o seu plano ao Senhor Rei e leva até o boi um barbeiro com seus instrumentos. Atrás deles, Senhor Rei.
O barbeiro, enquanto Blimundo sonha com o amor da Vaquinha da Praia, corta-lhe a garganta com a navalha. Antes de morrer, o boi atinge o rei com uma patada que o mata. O rapaz e o barbeiro fogem, mas jamais esquecem o último olhar de revolta de uma criatura cujo único erro foi acreditar na harmonia, na justiça e na liberdade. (deconheço o autor) se souberem me avisem para dar o crédito!
Índia Naiá
Conta a lenda que uma bela índia chamada Naiá apaixonou-se por Jaci (a Lua), que brilhava no céu a iluminar as noites. Nos contos dos pajés e caciques, Jaci de quando em quando descia à Terra para buscar alguma virgem e transformá-la em estrela do céu para lhe fazer companhia. Naiá, ouvindo aquilo, quis também virar estrela para brilhar ao lado de Jaci.
Durante o dia, bravos guerreiros tentavam cortejar Naiá, mas era tudo em vão, pois ela recusava todos os convites de casamento. E mal podia esperar a noite chegar, quando saía para admirar Jaci, que parecia ignorar a pobre Naiá. Mas ela esperava sua subida e sua descida no horizonte e, já quase de manhãzinha, saía correndo em sentido oposto ao Sol para tentar alcançar a Lua.
Corria e corria até cair de cansaço no meio da mata. Noite após noite, a tentativa de Naiá se repetia. Até que ela adoeceu. De tanto ser ignorada por Jaci, a moça começou a definhar. Mesmo doente, não havia uma noite que não fugisse para ir em busca da Lua. Numa dessas vezes, a índia caiu cansada à beira de um igarapé. Quando acordou, teve um susto e quase não acreditou: o reflexo da Lua nas águas claras do igarapé a fizeram exultar de felicidade! Finalmente ela estava ali, bem próxima de suas mãos.
Naiá não teve dúvidas: mergulhou nas águas profundas e acabou se afogando. Jaci, vendo o sacrifício da índia, resolveu transformá-la numa estrela incomum. O destino de Naiá não estava no céu, mas nas águas, a refletir o clarão do luar. Naiá virou a Vitória Régia, a grande flor amazônica das águas calmas, a estrela das águas, tão linda quanto as estrelas do céu e com um perfume inconfundível. E que só abre suas pétalas ao luar. (Igidio Garra)
Conto: As Areias Escaldantes
Atravessei as areias escaldantes. Caravanas caminharam ao meu lado com cargas de ouro, marfim, especiarias e sal. Meu corpo, sob o manto de lã branca, desafiava as temperaturas amplas que iam do calor ao frio enregelante. Desviei dos escorpiões da maldade, das víboras da inveja e dos chacais da perdição. O medo de morrer de uma picada, de um vírus invisível, era grande, mas não me paralisava. Montada entre as corcovas gordurosas de meu camelo, algo vindo no vento fortalecia minhas mãos fracas e firmava meus joelhos frementes.
O camelo, eu confiava, conhecia as rotas onde havia água e me guiava pelas estrelas, pelos cheiros, pela textura das dunas. Súbito, diante de mim, estava o oásis. Um oásis misterioso, todo feito de esperança. Um oásis de paz encravado no meio das montanhas. O lago parecia um lençol esticado e azul. As palmeiras vergavam os galhos pesados de tâmaras, entre canas e juncos. Ah! Como eu precisava desse oásis, desse descanso sagrado, desse repouso, desse momento de me reconciliar com minha origem e sonhar com meu destino.
Foram tantas lutas, trevas, ânsias e velórios que já não achava possível um pouco de prazer, de alegria. Não acreditava que no ermo floresciam rosas. E elas exultam. Seria uma miragem? Dirijo-me à fonte que desliza pelas laterais das rochas úmidas, cobertas de mofo e líquens. Bebo sofregamente os goles coletados da névoa. Fiz da fé um oásis no coração. Na verdade, aprendi desde a infância a percorrer os meus desertos para encontrar esse oásis.
Meu mestre foi Malba Tahan, o escritor árabe que viveu em Meca, visitou a Rússia, antes da guerra, ressurgiu na Pérsia, na Índia, em Xangai e no Brasil. Um estranho árabe, "de grandes olhos pestanudos", como descreveu o poeta Olegário Mariano. Graças ao seu poder de imaginação, ao seu sentimentalismo, sorvi a magia das palavras, dos grandes ensinamentos. Convenci-me de que "quando Allah quer bem a um dos seus servidores, abre para eles as portas da Inspiração." Senti-me poeta e tuaregue.
Sei que Malba Tahan era apenas o heterônimo do professor de matemática, Júlio César de Melo e Sousa (1895-1974), dono de personalidade original, que estudou a fundo a cultura oriental. Mas gosto de fantasiá-lo como um discípulo de Sherazade, contando mil e uma histórias de monarcas, príncipes, sultões, xeiques, rabinos, dançarinas hindus, odaliscas entre véus, poderosos governantes, humildes servos, todos escravos de amores proibidos. Um universo onde as injustiças e corrupções são punidas, as aparências não iludem e a ética e a sabedoria sempre prevalecem. (Raquel Naveira)
Conto Negrinho do Pastoreio.
Por: Daniela Diana Professora licenciada em Letras
O Negrinho do Pastoreio é um personagem do folclore brasileiro muito conhecido na região sul do país. De origem africana e cristã, a lenda do negrinho do pastoreio surgiu provavelmente no século XIX. Reza a lenda que, ainda no tempo da escravidão no país, essa personagem foi um pequeno escravo que sofreu muito com os maus tratos de um fazendeiro. Num determinado dia, o senhor pediu-lhe que cuidasse de alguns cavalos, porém um deles acabou fugindo.
Quando retornou, seu dono sentiu falta do cavalo baio e, com isso, resolveu castigar o negrinho. Após sair em busca do cavalo perdido, o negrinho chega a encontrá-lo, porém, não conseguiu capturá-lo. Dessa maneira, o senhor resolve castigar o garoto com muitas chibatadas e, além disso, lança-o num formigueiro. Perto da morte, o fazendeiro resolve deixar o garoto ali no formigueiro, certo de que já estava morto.
Entretanto, no dia seguinte, o próprio fazendeiro se depara com o garoto e fica perplexo, pois a criança não apresentava nenhum ferimento no corpo. Além disso, ele estava montado no cavalo perdido, e ao seu lado, estava a Virgem Maria, padroeira do garoto órfão. Muito arrependido, o fazendeiro resolve pedir perdão, todavia, o negrinho sai galopando feliz e livre no cavalo baio.
Noutra versão da lenda, o fazendeiro foi avisado por seu filho sádico que o negrinho, responsável por cuidar de 30 cavalos, deixou um deles fugir. Isso porque ele estava muito cansado e decidiu dormir. Ao acordar, o pequeno escravo sentiu falta do cavalo, porém, o fazendeiro já sabia do ocorrido e resolveu castigar o negrinho. Atualmente, na região sul do país, acredita-se que se algum objeto está perdido, o Negrinho do Pastoreio pode ajudar a encontrá-lo. Basta acender uma vela perto de um formigueiro e pedir com muita fé que objeto reaparecerá.
História e origem da lenda do Boitatá: Por Daniela Diana Professora licenciada em Letras.
O Boitatá, protetor das florestas, é um personagem do folclore brasileiro. A lenda do Boitatá descreve esse personagem folclórico como uma grande serpente de fogo. Ele protege os animais e as matas das pessoas que lhe fazem mal e, principalmente, que realizam queimadas nas florestas. Na narrativa folclórica, essa serpente pode se transformar num tronco em chamas, com o intuito de enganar e queimar os invasores e destruidores das matas. Acredita-se que a pessoa que olhar o Boitatá torna-se cega e louca.
A lenda do Boitatá é de rigem indígena, e a palavra Boitatá, na língua Tupi-Guarani, significa cobra (boi) de fogo (tata). Apesar de ser oriunda da língua indígena, a lenda do Boitatá encontra-se num texto do século XVI do Padre Jesuíta José de Anchieta, baseou-se nos relatos dos indígenas para compor seu texto: "Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados "baetatá", que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo.
Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933 O Boitatá no folclore brasileiro:: lenda do Boitatá sofreu muitas modificações ao longo do tempo e, portanto, reúne diversas versões.
Assim, dependendo da região do Brasil, o nome do personagem pode variar: Baitatá, Biatatá, Bitatá e Batatão. Numa das versões da lenda, uma grande cobra vivia adormecida num imenso tronco e ao despertar, faminta, resolveu comer os olhos dos animais. Cada vez mais, ela emitia uma grande e intensa luz, tornando-se uma cobra de fogo. Ao proteger a floresta, ela assustava as pessoas que iam às matas durante à noite.
No norte e nordeste do Brasil, a imensa cobra de fogo vive nos rios, e sai no momento em que há invasores nas florestas para queimá-los. Segundo alguns nordestinos, o boitatá, conhecido como "Alma dos Compadres e das Comadres", representa as almas penadas malignas que passam queimando tudo. Já no sul do país, a versão que prevaleceu advém da história bíblica do Dilúvio. Nela, muitos animais morreram, e as cobras que sobreviveram tiveram como castigo o fogo. Há ainda uma versão, em que o Boitatá não é uma grande cobra, e sim um touro feroz que solta fogo pela boca.
O Lago Congelado
Numa vila esquecida entre montanhas cobertas de neve, havia um lago que nunca descongelava. O Lago Congelado, como o chamavam, era um espelho de gelo tão claro que refletia as estrelas mesmo durante o dia. Os mais velhos diziam que ele guardava segredos antigos, sussurros de um tempo em que o mundo era mais selvagem e os espíritos caminhavam entre os homens. Ninguém ousava atravessá-lo, exceto por uma lenda: quem encontrasse a coragem de patinar até o centro e ouvir os murmúrios do gelo seria agraciado com um desejo, portanto, todavia fora a um custo que ninguém sabia ao certo.
Lia, uma garota de olhos inquietos e coração faminto por respostas, cresceu ouvindo essas histórias. Sua mãe morrera jovem, e seu pai, um lenhador de poucas palavras, nunca falava do passado. A vila a tratava com desconfiança, sussurrando que ela era "tocaada pelo vento", por sua mania de vagar sozinha e falar com as árvores. Mas Lia não se importava. Ela sentia o lago chamá-la, como se o gelo soubesse seu nome.
Numa noite de inverno, quando a lua cheia transformava a neve em prata, Lia decidiu que era hora. Calçou seus patins antigos, herdados da mãe, e caminhou até a margem do lago. O ar estava tão frio que parecia cortar a pele, mas ela não hesitou. O primeiro passo sobre o gelo fez seu coração disparar. O lago gemeu, um som grave e profundo, como se estivesse vivo. Ela patinou, lenta no início, depois mais rápido, os patins riscando linhas que brilhavam sob a luz da lua.
No centro do lago, ela parou. O silêncio era absoluto, exceto por um leve crepitar sob seus pés. Lia fechou os olhos e ouviu. Primeiro, veio o vento, depois vozes, não humanas, mas algo mais antigo, como ecos de um sonho. Elas contaram a história de uma mulher que amava demais, que selou seu coração no gelo para proteger quem amava, pagando com sua própria vida. Lia sentiu lágrimas quentes escorrerem pelo rosto. Era sua mãe. O lago guardava o sacrifício dela.
As vozes ofereceram o desejo. Lia podia trazer sua mãe de volta, mas o preço seria sua própria liberdade, ela ficaria presa no gelo, como guardiã eterna do lago. Por um momento, ela quis dizer sim. Quis sentir o abraço da mãe, ouvir sua voz. Mas então pensou no pai, nas árvores que conversavam com ela, na vida que ainda queria viver. Com a voz trêmula, ela recusou o desejo.
O lago rugiu, o gelo rachou ao seu redor, mas não a engoliu. As vozes silenciaram, e Lia patinou de volta à margem, o coração pesado, mas inteiro. Na vila, ninguém acreditou na história, mas ela não precisava que acreditassem. O lago a mudou. Ela carregava agora a força da mãe, a certeza de que o amor, mesmo perdido, nunca desaparece.
E, às vezes, quando a lua cheia brilhava, Lia jurava ver uma sombra patinando no centro do Lago Congelado, livre, dançando no gelo para sempre.
CONTO LENDAS AMAZÔNICAS:
Desde que o explorador espanhol Vicente Pinzón descobriu o Mar Dulce, primeiro nome do Rio Amazonas, em 1500, aqueles labirintos amazônicos foram cenário de viagens em busca de riquezas escondidas. Até hoje, aquelas terras isoladas, entre o Brasil, o Peru e a Bolívia, seguem inspirando expedições, sabe-se lá onde, até ruínas lotadas de ouro trazido pelos incas. A mais intrigante delas é a de Akakor, uma suposta cidade subterrânea em algum lugar da Amazônia que ganhou fama internacional a partir dos relatos de Hans Günther Hauck.
Mais conhecido como Tatunca Nara, esse alemão de sotaque carregado ainda tenta convencer o mundo que é um indígena brasileiro, príncipe de Akakor, capaz de conduzir expedicionários em buscas das lendárias cidades-irmãs Akakor e Akahim. Se viajantes curiosos chegaram a ver pirâmides na maior floresta tropical do planeta ou cruzaram complexos sistemas de túneis, ninguém sabe, ninguém viu. Para quem fica do lado de cá, porém, a única certeza é que de lá ninguém volta.
Conto Vitoria Regia, a lenda da estrela d'agua:Reza a lenda que a lua, Jaci, assim era seu nome entre os índios da região amazônica, era um deus muito namorador e que de tempos em tempos descia a terra e escolhia uma jovem para se tronar uma estrela ao seu lado. Com o que a lua não contava era com o amor da índia Naiá, que sonhava um dia se tornar uma estrela, para ficar junto se seu grande amor.
Todas as noites a bela jovem aguardava para se juntar a Jaci, mas ele nunca veio buscá-la, triste por não ser uma das escolhidas, Naiá correu seu rumo pela mata, até chegar a um lago, vendo o reflexo da lua nas águas, ela pula sem pensar duas vezes na água, achando que seu amado tinha vindo buscá-la, porém com as águas fundas do lago, Naiá se afora. Jaci compadecido de sua morte e se seu amor, a transforma na Vitoria Regia a estrela da água que só floresce a noite.
Conto O Cágado e a Fruta:
O cágado foi o único inteligente capaz de garantir acesso a uma fruta muito difícil de ser comida. No entanto, uma onça esperta tentou aproveitar-se da inocência do cágado. No fim, ela logo aprendeu a lição dela. xistia na floresta uma fruta que todos os bichos tinham vontade de comer, Acontece que era proibido provar a tal fruta sem antes saber o seu nome. Somente uma mulher sabia o nome da fruta e ela morava longe da árvore.
Os animais com frequência iam à casa dela para perguntar, mas a distância era tanta que quando voltavam já não se lembravam mais do nome da fruta e não podiam comê-la. Todos iam e voltavam, e nada de acertar o nome. Faltava somente o cágado. Bichos das mais diferentes espécies foram chamar o cágado para provar da fruta. Alguns caçoavam muito dele, dizendo: "Até parece que andando devagar daquele jeito vai lembrar de alguma coisa quando voltar". Pois o cágado partiu para a casa da mulher com sua violinha.
Ao chegar, foi logo perguntando o nome da fruta. E a mulher falou: -boyoyôboyoyô-quizama-quizu. Que língua era aquela eu não sei, nem o cágado. Mas a mulher tinha mais um truque para fazer as pessoas esquecerem do nome, depois que cada bicho estava já distante da casa, ela gritava: "Ô amigo, o nome não é esse, não!" E dizia outros nomes bem estranhos. Os bichos se atrapalhavam e, quando chegavam ao pé de fruta, não sabiam mais o nome. Com o cágado foi diferente. Ele tirou a viola do saco e decorou o nome da fruta em forma de cantiga.
E lá se foi cantarolando até a árvore. De olho nos frutos, a onça lhe fez uma proposta: "Amigo cágado, você como não pode subir na árvore, deixe que eu suba para tirar as frutas, e você me dá algumas". O cágado ficou desconfiado por se tratar de uma onça, mas aceitou. E aconteceu o esperado: ela encheu um saco de frutas e saiu correndo, sem dar uma sequer àquele que chamou de amigo.
O cágado ficou uma arara de zangado com a onça. Correu (isso mesmo, correu!) atrás dela e conseguiu alcançá-la na beira do rio. Então, ele disse: "Onça, me dê o saco para eu atravessar. Sou melhor nadador, e você atravessa depois". A onça concordou, mas o cágado sabido, quando se viu na outra margem do rio, desapareceu, e a onça ficou do outro lado com cara de boba, porque não sabia nadar. Dizem que ela chamava pelo cágado, que respondia, mas ela não conseguia vê-lo. Sabe-se lá se ela achou que estava ouvindo vozes ou se morreu de raiva.(desconheço o autor)
Conto A Raposinha:
Um príncipe determinado a ajudar seu pai, mas com dificuldade em aceitar os sábios conselhos da raposinha. Após tantas tentativas, o príncipe finalmente começa a ver sua sorte mudar. No caminho ele depara com um grupo agredindo o corpo de um homem falecido que deixara dívidas.
O príncipe paga as dívidas e enterra o corpo do homem, cuja alma aparece ao rapaz na forma de uma raposa, que o ajuda a encontrar o remédio para curar o seu pai.
Fábula folclórica sobre uma onça e um boi, que vivem desconfiando um do outro. A peculiaridade é a presença de cascos de boi no lugar de suas patas, lhe dando uma aparência única e aterrorizante.
Ao contrário das onças comuns, que costumam ser solitárias, a lenda da 'Onça-Boi' relata que esses seres caçam em pares (um macho e uma fêmea), formando uma aliança na busca por presas.
O Mestre Gato
A pedido da onça, o gato ensinou-lhe a pular. Mas, conhecendo a onça, resolveu ensinar sem dar os principais truques. Uma brincadeira em forma de conto popular que mostra o que os mestres podem fazer do seu conhecimento, sem passá-los de modo absoluto aos aprendizes. A onça pediu ao gato para lhe ensinar a pular.
O gato rapidamente lhe ensinou. Depois, indo juntos para a fonte beber água, fizeram uma aposta para ver quem pulava mais. Chegando à fonte, encontraram lá o lagarto calango. Então, disse a onça para o gato: —Compadre, vamos ver quem, num só pulo, pula o camarada calango. —Vamos, disse o gato. —Você pula adiante, disse a onça.
O gato pulou em cima do calango e a onça pulou em cima do gato. Então, o gato pulou e se escapou. A onça ficou desapontada e disse: —Assim, compadre gato, é que você me ensinou?! Iniciou e não acabou... O gato respondeu: —Nem tudo os mestres ensinam aos seus aprendizes.
Cobra Norato:
Uma lenda da região da Amazônia. Uma história sobre duas serpentes gêmeas que nasceram de uma indígena e um boto. Cobra Norato é uma das serpentes. Segundo a lenda, Cobra Norato é um dos gêmeos nascidos do relacionamento entre uma índia e um boto cor-de-rosa. Diferentemente de sua irmã, Maria Caninana, com quem vive no rio Tocantins, Cobra Norato tem bom relacionamento com a população da região, auxiliando barqueiros e pescadores em dificuldade.
Cobra Norato, com sua pele reluzente que refletia as águas do Tocantins, era conhecido por sua bondade e sabedoria. Dizia-se que, ao contrário de Maria Caninana, que tinha um temperamento ardiloso e gostava de pregar peças nos ribeirinhos, Norato herdara o coração gentil de sua mãe indígena. Ele navegava os rios com graça, ajudando barqueiros perdidos a encontrar o caminho na escuridão da noite e salvando pescadores cujas redes se enroscavam nas correntezas traiçoeiras.
Porém, a lenda conta que a harmonia entre os gêmeos nem sempre foi pacífica. Maria Caninana, invejosa da popularidade do irmão, começou a espalhar rumores entre as comunidades ribeirinhas, dizendo que Norato usava sua bondade como fachada para atrair vítimas para o fundo do rio. Essas histórias criaram desconfiança, e muitos pescadores passaram a evitar Norato, temendo suas intenções.
Uma noite, durante uma tempestade que agitava o Tocantins, um jovem barqueiro chamado Japiim ficou preso em um redemoinho. Desesperado, ele gritava por socorro, mas ninguém ousava enfrentar a fúria do rio. Foi então que Cobra Norato surgiu das águas, seus olhos brilhando como duas luas. Com um movimento suave, ele guiou o barco de Japiim para a segurança da margem. Grato, o jovem perguntou por que Norato arriscava tanto pelos humanos, mesmo sendo mal compreendido.
Norato, em uma voz que parecia ecoar das profundezas do rio, respondeu: "Minha mãe me ensinou que o rio não vive sem a terra, e a terra não vive sem o povo. Sou parte dos dois mundos, e meu destino é protegê-los." Japiim, tocado pela sabedoria da serpente, espalhou a história por todas as vilas, reacendendo a confiança em Norato.
Mas a lenda não termina aí. Dizem que Maria Caninana, ao ver a fama do irmão crescer, planejou um desafio final para provar quem era o verdadeiro guardião do Tocantins. Ela convocou Norato para uma prova de coragem e astúcia: atravessar o rio em sua parte mais perigosa, onde as correntezas se cruzavam e os espíritos das águas sussurravam segredos antigos. O que Maria não sabia era que Norato, com sua conexão profunda com o rio e o povo, guardava um segredo que poderia mudar o destino dos gêmeos para sempre.
E assim, a história segue, com os ribeirinhos ainda contando, entre sussurros e fogueiras, o que aconteceu naquela travessia lendária...
Manoel da Bengala:
Um conto de fadas sobre o príncipe que tinha a bengala de ferro: o Manoel Bengala. Por ser grande, robusto e comilão, foi mandado embora pelo rei, que ordenou que o príncipe seguisse a vida sozinho. Um rei teve um filho que já nasceu muito grande e forte.
No fim de oito dias, o menino já comia um boi inteiro. O rei ficou muito assustado e mandou chamar os conselheiros para lhe dizerem o que fazer, pois iria acabar com toda a fortuna do pai. Os conselheiros foram da opinião que o rei mandasse o filho procurar a sua vida. O príncipe pediu que lhe fizessem uma bengala de ferro, muito grossa e pesada, um machado e uma foice, também grandes e pesados, e partiu.
Chegando à casa de um senhor de engenho, pediu serviço e o dono da casa o aceitou. Foi o moço derrubar uma roça, que deitou, em três ou quatro esforços com a foice, quase todas as matas do engenho. O dono ficou muito assustado e não o quis mais o seu serviço. Além disto, na hora de jantar, o príncipe não quis comer o que lhe deram, por não chegar nem para o buraco de um dente, e pediu um boi e muita farinha.
O senhor do engenho, pensando que ele não pudesse comer tudo, mandou dar-lhe para o experimentar. Ficou espantado quando o viu devorar tudo. Despediu-o. Voltou o príncipe para o palácio de seu pai. Aí esteve alguns dias, até que o rei mandou de novo reunir os conselheiros, que foram de opinião que o rei mandasse o príncipe pegar seis leões bravos nas matas. Isto era para ver se os leões matavam-no.
O moço pediu um carro e uma junta de bois. Chegando nas matas dos leões, passou lá seis dias. Em cada dia matava um boi do carro e pegava um leão, botava no lugar, e o amansava. Depois cortou umas árvores muito grandes, botou no carro e largou-se para trás. Quando o rei o viu, retornava o barulho das árvores e dos leões que vinham com Manoel da Bengala.
ssim foi chamado o príncipe, por causa da bengala de ferro. O rei ordenou-lhe que ganhasse o mundo e não lhe voltasse mais em casa. O príncipe partiu. Chegando adiante, viu um homem passando um rio cheio, mas sem se molhar, e disse: —Adeus, Passa-Vau. —Adeus, Manoel da Bengala.
Fábula da coruja e a águia
A coruja e a águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes. –Basta de guerra –disse a coruja. –O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra. –Perfeitamente –respondeu a águia. –Também eu não quero outra coisa.
–Nesse caso combinemos isto: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes. –Muito bem. Mas como vou distinguir os teus filhotes? –Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheio de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus. –Está feito! –concluiu a águia. Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
–Horríveis bichos! Vê-se logo que não são os filhos da coruja –disse ela, e comeu-os. Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar as contas com a rainha das aves. –Quê? –perguntou esta, admirada. –Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...
MORAL DA HISTÓRIA
Quem ama o feio, bonito lhe parece. Essa história nos ensina que é importante sermos honestos e dizer a verdade sobre nós mesmos e sobre as outras pessoas. A coruja exagerou ao descrever seus filhotes para a águia e isso acabou fazendo com que a águia não conseguisse distinguir os verdadeiros filhotes da coruja quando encontrou um ninho com três filhotes. A águia acabou comendo os filhotes da coruja e isso fez a coruja ficar muito triste. A moral da história é que a honestidade é fundamental em nossas interações com as pessoas ao nosso redor.
Fábula A Assembleia dos Ratos
Era uma vez uma colônia de ratos, que viviam com medo de um gato, resolveram fazer uma assembleia para encontrar um jeito de acabar com aquele transtorno. Muitos planos foram discutidos e abandonados. No fim um jovem e esperto rato levantou-se e deu uma excelente ideia; a de pendurar uma sineta no pescoço do gato. assim, sempre que o gato tivesse por perto eles ouviriam a sineta e poderiam fugir correndo.
Todos os ratos bateram palmas: o problema estava resolvido. Vendo aquilo, um velho rato que tinha ficado o tempo todo calado levantou-se de seu canto. O velho rato falou que o plano era muito inteligente e ousado, que com toda a certeza as preocupações deles tinham chegado ao fim. Só faltava uma coisa: quem ia pendurar a sineta no pescoço do gato.
O silêncio caiu sobre a assembleia. Os ratos, que momentos antes vibravam com a ideia do jovem, agora se entreolhavam, hesitantes. O velho rato, com sua voz calma, mas firme, continuou:
— A ideia é brilhante, mas um plano só funciona se for executado. Quem aqui está disposto a enfrentar o gato e colocar a sineta no pescoço dele?
O jovem rato, ainda cheio de confiança, deu um passo à frente.
— Eu pensei no plano, então eu mesmo posso executá-lo! — disse, com o peito estufado.
Os outros ratos murmuraram, alguns com admiração, outros com dúvida. Uma ratazana experiente, conhecida por sua cautela, levantou a voz:
— Coragem é importante, jovem, mas o gato não é um inimigo qualquer. Ele é rápido, astuto e tem garras afiadas. Precisamos de um plano para o plano. Como você pretende se aproximar sem virar o jantar dele?
O jovem rato coçou a cabeça, percebendo que não tinha pensado tão longe. Foi então que uma ratinha pequena, que raramente falava nas reuniões, ergueu a pata timidamente.
— E se trabalharmos juntos? — sugeriu ela. — Um de nós pode distrair o gato, enquanto outro tenta pendurar a sineta. Talvez com uma isca... algo que o gato não resista.
Os ratos começaram a cochichar, animados com a possibilidade. O velho rato, ainda de pé, balançou a cabeça lentamente, como se estivesse pesando as palavras.
— Um plano em equipe pode funcionar — disse ele. — Mas a sineta é pesada, e o gato não fica parado. Vocês já pensaram onde conseguir a sineta? E como treinar para essa tarefa tão arriscada?
A assembleia mergulhou em uma nova onda de discussões. Alguns ratos sugeriram roubar a sineta de um brinquedo humano esquecido no quintal. Outros propuseram praticar em segredo, usando cordas e objetos para simular o pescoço do gato. A ratinha, agora mais confiante, acrescentou:
— Podemos usar o cheiro de comida para atrair o gato até uma armadilha, onde ele fique preso por alguns instantes. Isso daria tempo para pendurar a sineta!
O jovem rato, inspirado, completou: — E se cavarmos um buraco coberto com folhas? O gato cai, fica atordoado, e pronto! Colocamos a sineta!
O velho rato ouviu tudo com atenção, mas seus olhos carregavam uma mistura de esperança e ceticismo. Quando a algazarra diminuiu, ele falou novamente:
— Vocês têm coragem e criatividade, isso é certo. Mas lembrem-se: o gato não é só uma ameaça, ele é um predador. Um erro, e não será só a sineta que estará em jogo. Escolham bem quem vai liderar, quem vai arriscar, e testem o plano quantas vezes puderem. Só assim saberemos se a sineta realmente será nossa salvação... ou apenas um sonho.
Com isso, o velho rato sentou-se, deixando a assembleia agitada com ideias, medos e determinação. A colônia agora tinha um caminho a seguir, mas o desafio verdadeiro estava apenas começando. Quem seria corajoso o suficiente para liderar? E será que o plano resistiria ao primeiro encontro com o temido gato?
A assembleia terminou com uma decisão: o plano da sineta seria posto em prática, mas exigiria trabalho em equipe e preparação minuciosa. O jovem rato, chamado Risto, foi escolhido como líder, mas todos concordaram que a ratinha tímida, chamada Lila, seria a estrategista, pois suas ideias pareciam combinar coragem com cautela. A ratazana experiente, chamada Mara, ficou responsável por supervisionar o treinamento, garantindo que nenhum rato subestimasse o perigo.
No dia seguinte, a colônia se reuniu em um canto escondido do celeiro, longe dos olhos do gato. O primeiro passo era conseguir a sineta. Um grupo de ratos exploradores, liderado por um rato ágil chamado Tico, foi enviado ao quintal dos humanos. Após uma busca arriscada, eles encontraram um brinquedo velho, uma bola colorida com uma pequena sineta dentro. Com muito esforço, rolaram a bola até o celeiro e, com mordidas precisas, conseguiram liberar a sineta. Era perfeita: leve o suficiente para ser carregada, mas com um som claro que ecoaria a cada passo do gato.
Enquanto isso, Lila desenhava na terra o plano da armadilha. A ideia era simples, mas exigia sincronia. Eles cavariam um buraco raso no caminho favorito do gato, perto da entrada do celeiro, e o cobririam com galhos finos e folhas secas. Para atrair o gato, usariam um pedaço de queijo roubado da cozinha dos humanos — uma isca irresistível. Quando o gato caísse no buraco, ficaria atordoado por alguns segundos, tempo suficiente para Risto, com a sineta amarrada a uma corda, pular sobre ele e prendê-la em seu pescoço.
— Mas como garantir que o gato não nos veja antes? — perguntou um rato nervoso.
— É aí que entra a distração — explicou Lila. — Dois ratos corajosos vão correr na frente do gato, levando-o direto para o buraco. Eles precisam ser rápidos e espertos para não serem pegos.
O treinamento começou imediatamente. Mara dividiu os ratos em grupos: os cavadores, que trabalhavam no buraco; os distraidores, que praticavam corridas em ziguezague para despistar o gato; e os lançadores, que ensaiavam com Risto como amarrar a sineta no menor tempo possível.
Para simular o pescoço do gato, usaram um rolo de corda grossa, balançando-o para imitar os movimentos de um felino irritado. Risto, no início, tropeçava mais do que acertava, mas com o tempo começou a dominar a técnica de jogar a corda com a sineta e puxá-la para apertar.
Os distraidores, liderados por Tico, eram o grupo mais arriscado. Eles treinaram em túneis improvisados, aprendendo a desaparecer em buracos estreitos assim que o "gato" representado por Mara balançando uma vassoura — se aproximasse. Tico, com sua velocidade, era perfeito para a tarefa, mas até ele admitia sentir um frio na barriga só de pensar no gato de verdade.
Após dias de preparo, o buraco estava pronto, camuflado com perfeição. O queijo foi colocado estrategicamente a poucos passos do alçapão, e a sineta, polida e leve, estava nas patas de Risto. A colônia se reuniu na véspera do grande dia, nervosa, mas esperançosa. Lila revisou o plano com todos:
Tico e eu seremos os distraidores. Vamos correr na frente do gato e levá-lo ao buraco. Quando ele cair, Risto pula com a sineta. Os outros ficam escondidos, prontos para ajudar se algo der errado. Alguma dúvida? Um silêncio pesado tomou conta. Até que o velho rato, que observava tudo de longe, levantou-se mais uma vez.
— Vocês fizeram um trabalho notável — disse ele, com um tom que misturava orgulho e preocupação. — Mas lembrem-se: o gato é mais do que garras e dentes. Ele é esperto. Ele pode desconfiar da isca ou ignorar a armadilha. Estejam prontos para improvisar, porque nenhum plano sobrevive intacto ao primeiro encontro com o inimigo.
Os ratos engoliram em seco, mas a determinação não vacilou. Naquela noite, mal dormiram, imaginando o momento em que enfrentariam o gato. Ao amanhecer, o felino apareceu, como sempre, espreitando pelo celeiro com seus olhos brilhantes. Tico e Lila trocaram um olhar, respiraram fundo e correram para a frente, iniciando o plano.
O gato, com um salto, começou a persegui-los, suas patas silenciosas tocando o chão. O coração de Risto batia forte enquanto ele esperava, escondido, com a sineta na pata. O plano estava em movimento — mas será que funcionaria? Ou o velho rato estava certo, e o gato já havia farejado a armadilha?
MORAL DA HISTÓRIA: Falar é fácil, fazer é que é difícil. As vezes não basta ter uma boa ideia, é preciso descobrir como fazê-la acontecer na prática. Isso significa que preciso considerar todos os detalhes e desafios que podem surgir ao tentar transformar uma ideia em realidade. (Esopo)
Dona Labismina:
Um conto de fadas sobre um rei, uma filha em forma de cobra e uma princesa que seguia todos os conselhos da cobra, a Dona Labismina. Uma vez, uma rainha casada já há muito tempo, que nunca tinha tido filhos e tinha muita vontade de ter, disse: - Permita Deus que eu para nem que seja uma cobra. Passados tempos, apareceu grávida. E, quando deu à luz, foi uma menina com uma cobrinha enrolada no pescoço.
Toda a família dela ficou muito desgostosa, mas não se podia tirar a cobrinha do pescoço da criança. E foram crescendo a menina e a cobrinha juntas. E a menina tomou muita amizade pela cobrinha. Quando já mocinha, ela costumava ir passear à beira do mar. E, lá, a cobra a deixava e fugia para as ondas. Mas a princezinha se punha a chorar, até que a cobra voltava e se enrolava outra vez no seu pescoço. E iam as duas para o palácio, onde ninguém sabia disso. Assim foram vivendo as duas, até que, um dia, a cobra entrou no mar e não voltou mais.
Mas ela disse à irmã que, quando se visse em perigo, chamasse por ela. A cobra tinha o nome de Labismina, e a princesa o de Maria. Passados anos, caiu doente a rainha e morreu. Mas, na hora de morrer, a rainha tirou do dedo uma joia e deu ao rei dizendo: -Quando tiveres de casar outra vez, deve ser com uma princesa em que esta joia der, sem ficar nem frouxa nem apertada.
Depois de alguns tempos, o rei quis se casar. E mandou experimentar a joia nos dedos das princesas de todos os reinos. E não encontrou nenhuma em que o anel coubesse, Por causa da forma que lhe tinha recomendado a rainha. Mas só faltava a princesa Maria, a sua filha. E o rei chamou-a. E botou a joia no seu dedo. E a joia ficou muito boa. Então, ele disse à filha que queria se casar com ela. E, como a palavra de rei não volta atrás, a moça ficou muito desgostosa.
E vivia só chorando. A princesa Maria, então, foi ter com Labismina, na praia do mar. Gritou por ela. E a cobra veio. Maria contou-lhe o caso, e a cobra respondeu: -Não tenha medo. Diga ao rei que você só vai se casar com ele se ele lhe der um vestido da cor do campo, com todas as suas flores. Assim fez a princesa. E o rei ficou muito maçado. Mas lhe disse que iria procurar. E levou nisto muito tempo, até que, afinal, conseguiu.
Aí a princesa tornou a ficar muito triste e foi ter com a irmã que lhe disse: Diga ao rei que tu só vai se casar com ele se ele lhe der um vestido da cor do mar, com todos os seus peixes. A princesa assim fez. E o rei ainda mais aborrecido ficou. Levou muito tempo a procurar, até que arranjou. A moça foi ter outra vez com a Dona Labismina, que lhe disse:
-Diga ao rei que tu só vai se casar com ele se ele lhe der um vestido da cor do céu, com todas as suas estrelas. Ela assim disse ao pai, que ficou desesperado. Mas prometeu arlranjar. E levou nisso ainda mais tempo do que nas duas outras vezes. Até que conseguiu. A princesa, quando o pai lhe deu o último vestido, se viu perdida. E correu para o mar, onde embarcou num navio que Dona Labismina tinha preparado durante o tempo em que o rei andou arranjando os vestidos. Antes da partida da princesa Maria, Labismina lhe recomendou que ela seguisse naquele navio e, em seguida, saltasse no reino onde o navio parasse.
Lá naquela terra distante, ela encontraria um casamento com um príncipe. E, ainda, que, na hora de se casar, chamasse por ela três vezes, que ela se desencantaria numa princesa também. E, depois disso, Maria seguiu viagem. No reino em que o navio parou, ela saltou em terra. Não tendo do que viver, foi pedir um emprego à rainha, que a encarregou de guardar e criar as galinhas do rei. Passados tempos, houve três dias de festa na cidade.
Todos os do palácio iam à festa, mas a criadeira de galinhas ficava. Só que, logo no primeiro dia, depois que todos saíram, ela se penteou, vestiu o seu vestido da cor do campo, com todas as suas flores, e pediu a Labismina uma bela carruagem. E foi também à festa. Todos de lá da festa ficaram muito embasbacados de ver moça tão bonita e rica. Mas ninguém sabia quem era. O príncipe, filho do rei, ficou logo muito apaixonado por ela.
E, antes de terminar a festa, a moça partiu. E meteu-se na sua roupinha velha. E foi cuidar das galinhas. O príncipe, quando chegou ao palácio, disse à rainha: - A senhora viu, minha mãe, que moça bonita apareceu hoje na festa? Quem me dera eu me casar com ela. Só que aquela moça parecia com a criadeira de galinhas. -Não diga isso, meu filho. Aquela pobre podia ter roupa tão fina e rica? Vai ver como ela está lá embaixo e esmolambada. O príncipe foi onde estava a criada e lhe disse:
- Ó criadeira de galinhas, eu hoje vi na festa uma moça que só se parecia com você. -Oxente, príncipe, meu senhor, você está querendo mangar de mim? Quem sou eu? No outro dia, nova festa. E a criadeira de galinhas foi, às escondidas, com o seu vestido cor do mar, com todos os seus peixes, e numa carruagem ainda mais rica. Ainda mais apaixonado ficou o príncipe, sem saber de quem. No terceiro dia, a mesma coisa. E a criadeira de galinhas levou o vestido da cor do céu, com todas as suas estrelas.
O príncipe ficou tão entusiasmado que foi se pôr ao pé dela e lhe atirou no colo uma joia, que ela guardou. Chegando ao palácio, o príncipe caiu doente de paixão. E foi para a cama. Não queria tomar nem um caldo. A rainha rogava a todas as pessoas para lhe levarem algum caldo, para ver se ele aceitava. E era mesmo que nada. Afinal, só faltava a criadeira de galinhas. E a rainha mandou-a chamar, para levar o caldo ao príncipe.
E ela respondeu: - Oxente, rainha minha senhora, a senhora está também querendo caçoar de mim? Quem sou eu para o príncipe, meu senhor, aceitar preparar um caldo da minha mão? O que eu posso fazer é preparar um caldo e mandar a ele. A rainha logo concordou. E a criada preparou o caldo. E botou, dentro da xícara, a joia que o príncipe lhe tinha dado na igreja. Quando ele meteu a colher e viu a joia, pulou da cama de tão contente.
E disse para todos que já estava bom e que queria se casar com aquela moça que servia de criadeira de galinhas. Mandaram-na chamar. E, quando ela veio, já foi toda pronta, como quando ia à festa. E houve muita alegria e muito banquete. E a Princesa Maria se casou com o príncipe. Mas só que ela se esquecera de chamar pelo nome de Labismina, que não se desencantou. E, por isso, até hoje o mar dá urros e se enfurece às vezes.
O Menino e o Padre:
Um menino inocente (ou muito danado) oferece ao padre algo para ele beber. Entretanto, na gentileza do menino se escondia o fato de que a bebida não estava nada própria para ser tomada. Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escuta, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava.
É doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olho Falava-se de cemitérios? De telefones? Não me lembro. De qualquer modo, a amiga -bom, agora me recordo que a conversa era sobre flores -ficou subitamente grave, sua voz murchou um pouquinho. -Sei de um caso de flor que é tão triste! E sorrindo: -Mas você não vai acreditar, juro.
Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende nem disso: estamos possuídos de universal credulidade. E daí, argumento máximo, a amiga asseverou que a história era verdadeira. - Era uma moça que morava na Rua General Polidoro, começou ela. Perto do Cemitério São João Batista. Você sabe, quem mora por ali, queira ou não queira, tem de tomar conhecimento da morte.
Toda hora está passando enterro, e a gente acaba por se interessar. Não é tão empolgante como navios ou casamentos, ou carruagem de rei, mas sempre merece ser olhado. A moça, naturalmente, gostava mais de ver passar enterro do que não ver nada. E se fosse ficar triste diante de tanto corpo desfilando, havia de estar bem arranjada. Se o enterro era mesmo muito importante, desses de bispo ou de general, a moça costumava ficar no portão do cemitério, para dar uma espiada. Você já notou como coroa impressiona a gente?
Demais. E há a curiosidade de ler o que está escrito nelas. Morto que dá pena é aquele que chega desacompanhado de flores -por disposição de família ou falta de recursos, tanto faz. As coroas não prestigiam apenas o defunto, mas até o embalam. Às vezes ela chegava a entrar no cemitério e a acompanhar o préstimo até o lugar do sepultamento. Deve ter sido assim que adquiriu o costume de passear lá por dentro.
Meu Deus, com tanto lugar pra passear no Rio! E no caso da moça, quando estivesse mais amolada, bastava tomar um bonde em direção à praia, descer no Mourisco, debruçar-se na amurada. Tinha o mar à sua disposição, a cinco minutos de casa. O mar, as viagens, as ilhas de coral, tudo grátis. Mas por preguiça pela curiosidade dos enterros, sei lá por quê, deu para andar em São João Batista, contemplando túmulo. Coitada! (...)."
O Presente de Aniversário
O homem por detrás do balcão, olhava a rua de forma distraída, enquanto uma garotinha se aproximava da loja, ela amassou o narizinho contra o vidro da vitrina. Os seus olhos da cor do céu, brilharam quando viu determinado objeto. Ela entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesas azuis. -É para minha irmã. Você pode fazer um pacote bem bonito? O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou: -Quanto dinheiro você tem? Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós.
Colocou-o sobre o balcão, e feliz disse: - Isto dá, não dá? (Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.) -Sabe, continuou, eu quero dar este presente para minha irmã mais velha. Desde que morreu nossa mãe, ela cuida de nós e não tem tempo para ela. Hoje é aniversário dela e tenho certeza que ela ficará feliz com o colar que é da cor dos olhos dela. -O homem foi para o interior da loja.
Colocou o colar em um estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde. -Tome! Disse para a garota. Leve com cuidado. Ela saiu feliz saltitando pela rua abaixo. Ainda não acabara o dia, quando uma linda jovem de cabelos loiros e maravilhosos olhos azuis adentrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido embrulho desfeito e indagou: - Este colar foi comprado aqui? -Sim senhora. -E quanto custou? -Ah! Falou o dono da loja.
O preço de qualquer produto da minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o freguês. -A moça continuou: -Mas minha irmã somente tinha algumas moedas. E esse colar é verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagar por ele. O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem. - Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar. Ela deu tudo que tinha! O silêncio encheu a pequena loja, e lágrimas rolaram pela face da jovem, enquanto suas mãos tomavam o embrulho.
Ela retornava ao lar emocionada... A verdadeira doação é dar-se por inteiro sem restrições. Gratidão de quem ama não coloca limites para os gestos de ternura. E a gratidão, é sempre a manifestação de Deus para com pessoas que tem riqueza de emoções e altruísmo. Seja sempre grato, mas não espere pelo reconhecimento de ninguém. Gratidão, assim como amor é, também dever que não apenas aquece quem recebe, como reconforta quem oferece. "Somos anjos de uma asa só, precisamos nos abraçar para alçar vôo juntos"
Fábula: O Leão e o Rato:
Certo dia, estava um Leão a dormir a sesta quando um ratinho começou a correr por cima dele. O Leão acordou, pôs-lhe a pata em cima, abriu a bocarra e preparou-se para o engolir. -Perdoa-me! -gritou o ratinho -Perdoa-me desta vez e eu nunca o esquecerei. Quem sabe se um dia não precisarás de mim? O Leão ficou tão divertido com esta ideia que levantou a pata e o deixou partir. Dias depois o Leão caiu numa armadilha.
Como os caçadores o queriam oferecer vivo ao Rei, amarraram-no a uma árvore e partiram à procura de um meio para o transportarem. Nisto, apareceu o ratinho. Vendo a triste situação em que o Leão se encontrava, roeu as cordas que o prendiam. E foi assim que um ratinho pequenino salvou o Rei dos Animais.
O Leão, agora livre, olhou para o ratinho com gratidão nos olhos. "Quem diria, pequeno amigo, que tu, tão frágil, serias capaz de tamanha façanha?" disse ele, com a voz cheia de admiração. O ratinho, com um sorriso tímido, respondeu: "Às vezes, a força não está no tamanho, mas no coração."
A partir daquele dia, o Leão e o ratinho tornaram-se inseparáveis. Onde quer que o Leão fosse, o ratinho o acompanhava, ora correndo entre suas patas, ora descansando em seu dorso. Juntos, enfrentaram muitas aventuras. Quando o Leão usava sua força para proteger a floresta, o ratinho usava sua astúcia para resolver problemas que o tamanho do Leão não podia alcançar. E assim, a amizade deles cresceu, mostrando a todos os animais que a verdadeira grandeza vem da união e do respeito mútuo.
Os outros animais da floresta, que antes zombavam do ratinho por sua pequenez, começaram a enxergá-lo com novos olhos. A notícia da façanha do ratinho espalhou-se, e até os mais poderosos passaram a tratar os menores com consideração. A floresta tornou-se um lugar mais harmonioso, onde todos se ajudavam, independentemente de suas diferenças.
Esta fábula nos lembra que a amizade verdadeira não conhece barreiras. Quando colaboramos e valorizamos as qualidades uns dos outros, criamos um mundo mais justo e acolhedor. Pequenos gestos de bondade podem transformar vidas e inspirar mudanças, provando que, juntos, somos sempre mais fortes.
MORAL DA HISTÓRIA: A história nos ensina que não devemos subestimar os outros e que devemos tratar todas as pessoas com gentileza e respeito, independentemente do seu tamanho, aparência ou poder. A história mostra que atos de bondade e ajuda mútua são importantes para criar laços de amizade e solidariedade entre as pessoas, e não porque esperamos receber algo em troca. (Jean de La Fontaine)
O Homem Pequeno:
Um conto de fadas sobre uma terra de uma família de gigantes, cheia de encantamentos, onde um príncipe vai parar por acaso, Uma vez um príncipe saiu a caçar com outros companheiros e entraram pela mata. O príncipe, que se chamava Don João, adiantou-se dos companheiros e se perdeu. Depois de muito andar, avistou um muro muito alto, que parecia uma montanha, e para lá se dirigiu. Quando lá chegou, notou que estava numa terra estranha, pertencente a uma família de gigantes.
O dono da casa era um gigante enorme, que quase dava com a cabeça nas nuvens, tinha uma mulher também gigante e uma filha gigante de nome Guimara. Quando o dono da casa viu a D. João, gritou: Oh, homem pequeno, o que está fazendo aqui? O príncipe contou-lhe a sua história, e então o gigante disse: Pois bem, ficará aqui como criado. O príncipe lá ficou e, passados tempos, Guimara se apaixonou por ele. O gigante, que desconfiou da situação, chamou um dia o príncipe e lhe disse: Oh, homem pequeno! Tu disseste que te atrevias a derrubar numa só noite o muro das minhas terras e a levantar um palácio? Não, senhor meu amo. Mas, como manda, eu obedeço.
O moço saiu e foi ver Guimara, que lhe disse: Não é nada. Eu vou e faço tudo. Assim foi: Guimara, que era encantada, deitou abaixo o muro. No outro dia, o gigante foi ver bem cedo a obra e ficou admirado. Oh, homem pequeno? Sim? Foste tu que fizeste esta obra ou foi Guimara? Senhor, fui eu, não foi Guimara. Se meus olhos viram Guimara, e Guimara viu a mim, mau fim tenha eu. Passou-se. Depois de alguns dias, o gigante, que andava com vontade de matar o homem pequeno, lhe desafiou:
Oh, homem pequeno! Tu disseste que te atrevias a fazer da ilha dos bichos bravos um jardim cheio de flores de todas as qualidades e, com um cano a deitar, despejando água, tudo numa noite? Senhor, eu não disse isto, mas, como vossemecê, ordena eu irei fazer. Saiu dali mais morto do que vivo e foi falar com Guimara, que lhe disse: Não tem nada. Eu hoje faço tudo de noite. Assim foi. De noite, ela fugiu de seu quarto e, com o homem pequeno, trabalhou toda a noite, de maneira que no outro dia lá estava o jardim cheio de flores e com um cano despejando água. O gigante, dono da casa, foi ver a obra e ficou muito espantado.
Então, formou o plano de ir à noite ao quarto de Guimara e ao do homem pequeno para os matar. A moça, que era adivinha, comunicou isto a D. João e convidou-o para fugir, deixando nas camas, em seu lugar, duas bananeiras cobertas com os lençóis para enganar o pai. Tarde da noite fugiram montados no melhor cavalo da estrebaria, o qual caminhava cem léguas de cada passada. O pai, quando os foi matar, não os encontrou. Disse o caso à mulher, que lhe aconselhou que partisse atrás montado no outro cavalo que caminhava cem léguas de cada passada.
O gigante partiu e, quando ia chegando perto dos fugitivos, Guimara se virou riacho e D. João um negro velho, o cavalo num pé de árvore, a sela numa leira de cebolas e a espingarda, que levavam, num beija-flor. O gigante, quando chegou ao riacho, se dirigiu ao negro velho, que estava tomando banho: Oh, meu negro velho! Você viu passar aqui um moço com uma moça? O negro não prestava atenção, mergulhava n'água e, quando levantava a cabeça, dizia: —Plantei estas cebolas, não sei se me darão boas!
Foi assim muitas vezes, até que o gigante se cansou e se dirigiu ao beija-flor, que lhe voou em cima, querendo furar-lhe os olhos. O gigante desesperou-se e voltou para casa. Chegando lá contou a história à sua mulher, que lhe disse: Como você é tolo, marido! O riacho é Guimara, o negro velho é o homem pequeno, a leira de cebola a sela, o pé de árvore o cavalo e o beija-flor a espingarda. Corra para trás e vá pegá-los. O gigante tornou a partir em velocidade até chegar perto deles, que se haviam desencantado e seguido a toda a pressa.
Quando eles avistaram o gigante, a moça se transformou numa igreja, D. João num padre, a sela num altar, a espingarda no missal e o cavalo num sino. O gigante entrou pela igreja adentro, dizendo: Oh seu padre, o senhor viu passar por aqui um moço com uma moça? O padre, que fingia estar dizendo missa, respondeu: Sou um padre ermitão, Devoto da Conceição, Não ouço o que me diz. Dominus vobiscum. Foi assim muitas vezes, até que o gigante se aborreceu e voltou para trás frustrado.
Chegando em casa, contou a história à mulher, que lhe disse: —Oh, marido! Você é muito tolo! Corra já, volte, que a igreja é Guimara, o padre é o homem pequeno, o missal a espingarda, o altar a sela, o sino o cavalo. O homem pequeno e Guimara se desencantaram e seguiram a toda a pressa. O gigante partiu rapidamente, botando as serras abaixo pelo caminho. Quando estava, de novo, quase a pegá-los, Guimara largou no ar um punhado de cinza e gerou-se no mundo uma neblina tal que o gigante não pode seguir e voltou.
Depois disto, os fugitivos chegaram ao reino de D. João. Guimara, então, lhe pediu que, quando entrasse em casa, para não se esquecer dela por uma vez, que não beijasse a mão de sua tia. O príncipe prometeu, mas, quando entrou no palácio, a primeira pessoa que lhe apareceu foi sua tia, a quem ele beijou a mão, e se esqueceu, por uma vez, de Guimara, que o tinha salvado da morte. A moça lá ficou na terra estranha, perdendo o seu encanto. Então, ficou peO Papagaio Real: Um conto de fadas no estilo brasileiro. Nessa história, os pássaros transformam-se em príncipes, há um rei e duas irmãs, uma generosa e outra malvada.
O Jabuti e a Raposa: Uma fábula do folclore brasileiro, em que a raposa, que se acha muito esperta, rouba a flauta do jabuti. Mas ele sabe como atrair a raposa para buscar seu instrumento musical.
O Piolho e a Pulga: Esta historinha apresenta uma sucessão de eventos caóticos de uma maneira divertida e poética através de dois personagens. Certo dia, um piolho e uma pulga estão em uma cozinha preparando um mingau dentro de uma casca de ovo e, de repente, o piolho acaba caindo dentro da mistura e se queimando.
O Sapo com Medo D'Água: O sapo esperto que afirma temer a água. Sua esperteza salva a sua vida, enganando dois meninos que queriam matá-lo
A Madrasta: Um conto de fadas brasileiro: um viúvo conhece uma nova mulher, que é uma madrasta má. Ela resolve colocar fim na vida das três filhas dele, mas um milagre salva as meninas.
A Princesa Roubadeira: Uma princesa que adora fazer negociações e trocas, mas que acaba por se dar mal. De tanto querer vencer os presos, é ela que é vencida.
O Doutor Sabetudo: Um camponês descobre como ficar rico: ele precisa colocar um letreiro na porta que diga: "sou o Doutor Sabetudo". E não é que isto bastou para ele enriquecer, esperteza não é conhecimento de causa.
A Combuca de Ouro: Um rico resolveu dar a um pobre honesto uma cumbuca de vespas, mas, quando chegou nas mãos do pobre, virou uma cumbuca de ouro. Um conto popular pernambucano que usa elementos fantasiosos para transformar as vespas em ouro, dando uma lição ao rico que tinha más intenções.
A ÁRVORE: Que possui um amigo muito especial, o passarinho. Certo dia, a árvore ao ver o passarinho falou: -Amigo passarinho, você é muito importante para mim. Você carrega as sementes e come os bichos que estragam as minhas folhas. O passarinho piou e disse: - Árvore amiga, eu lhe devo minha vida. Aqui eu faço o meu ninho. Aqui eu pego a minha comida, aqui eu fico seguro dos perigos. A árvore logo disse: -Nessa vida, um amigo ajuda o outro.
Aprender na Caminhada
Na caminhada da vida, aprendi que nem sempre temos o que queremos. Porque nem sempre o que queremos nos faz bem. Foi preciso as dores, para que eu aprendesse com as lágrimas. Foi necessário o riso, para que eu não me enclausurasse com o tempo. Foi preciso as pedras, pra que eu construísse meu caminho.
Foram fundamentais as flores, para que eu me alegrasse na caminhada. Foi imprescindível a fé, para que eu, não perdesse a esperança. Foi preciso perder, para que ganhasse de verdade. Foi no silencio que fui ouvido com clareza. Pois sem provas não tem aprovação. E a vitória sem conquista é ilusão. E a maior virtude dos fortes, é o PERDÃO.
E assim, segui pela trilha da vida, carregando as lições que o tempo me trouxe. Foi preciso o vento, que às vezes soprou forte contra mim, para que eu aprendesse a firmar meus passos. Foram necessárias as noites escuras, quando a solidão parecia eterna, para que eu valorizasse a luz de um novo dia. Foi essencial o amor, mesmo com suas imperfeições, para que eu entendesse que o coração só cresce quando se entrega.
Houve momentos em que o peso dos erros tentou me parar, mas foi na humildade de reconhecê-los que encontrei força para continuar. Cada queda me ensinou que o chão não é o fim, mas o começo de um novo levantar. E cada sonho, mesmo os que não se realizaram, me mostrou que o importante é manter os olhos no horizonte.
Aprendi que a paciência é a arte de esperar pelo que vale a pena, e que a gratidão transforma o pouco em muito. No final, percebi que a caminhada não é sobre chegar a um destino perfeito, mas sobre carregar no peito a coragem de seguir, com o perdão como guia e a esperança como chama que nunca se apaga.
Na guerra...
-Meu amigo ainda não regressou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para ir buscá-lo -disse um soldado ao seu superior. - Permissão negada - respondeu o oficial -Não quero que você arrisque a sua vida por um homem que provavelmente está morto. O soldado, desconsiderando a proibição, saiu, e uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo.
O oficial ficou furioso. -Eu te disse que ele já estava morto! Agora, por causa da sua indisciplina, eu perdi dois homens! Me diga: valeu a pena ir até lá para trazer um cadáver? E o soldado moribundo respondeu: - Claro que sim, senhor! Quando encontrei o meu amigo, ele ainda estava vivo e pôde me dizer: "Eu tinha certeza de que você viria!"
O oficial, ainda com a raiva pulsando em suas veias, ficou em silêncio por um momento, encarando o soldado moribundo. A resposta do homem ecoava em sua mente, carregada de uma lealdade que ele, em sua rigidez, não havia compreendido. O campo ao redor estava quieto, exceto pelo vento que carregava o cheiro de pólvora e o lamento distante dos feridos.
O soldado, com a respiração cada vez mais fraca, ergueu os olhos para o oficial. — Senhor... ele sabia que eu não o abandonaria. E isso... isso fez tudo valer a pena. — Sua voz tremia, mas havia uma paz em seu rosto, como se a missão cumprida tivesse aliviado o peso da morte iminente.
O oficial, endurecido por anos de guerra, sentiu algo se quebrar dentro de si. Ele se ajoelhou ao lado do soldado, a fúria dando lugar a um respeito relutante. — Você é um tolo... mas um tolo corajoso — murmurou, quase para si mesmo. — Descanse agora. Você fez mais do que eu teria feito.
Enquanto o soldado fechava os olhos pela última vez, o oficial olhou para o corpo do amigo que ele trouxera. No rosto do morto, havia um leve sorriso, como se, mesmo na morte, ele carregasse a certeza de que não fora esquecido. O oficial se levantou, ordenando que os corpos fossem preparados com honra. Pela primeira vez em muito tempo, ele questionou se a disciplina que tanto valorizava era mais importante que o laço entre homens que enfrentavam a morte juntos.
A guerra continuou, implacável, mas aquela história correu entre os soldados. O ato de um homem que desafiou ordens por lealdade tornou-se um sussurro de esperança em meio ao caos, lembrando a todos que, mesmo na escuridão, a amizade podia ser mais forte que o medo.
A cartomante, de Machado de Assis:
O enredo do conto A Cartomante gira em torno de um triângulo amoroso composto por um casal -Vilela e Rita -e um amigo de infância muito próximo do rapaz - Camilo. Com medo de ser descoberta, Rita é a primeira a consultar uma cartomante. Camilo, que inicialmente zomba da amante, afasta-se do amigo após começar a receber cartas anônimas a falar daquela relação extraconjugal.
Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Depois de receber um bilhete do amigo dizendo que precisava falar com ele urgentemente, Camilo fica aflito e, assim, antes de ir à casa de Vilela, resolve fazer o mesmo que a amante e também vai à cartomante, que o tranquiliza.
Camilo vai à casa do amigo confiante de que a relação continuava em segredo, mas encontra Rita morta e ensanguentada. O conto termina com a morte de Camilo, assassinado por Vilela com dois tiros de revólver. Existem momentos em nossas vidas que jamais iremos esquecer, momentos marcantes, coisas que fizemos que nunca esqueceremos, as vezes coisas boas as vezes ruins, coisas que nem sempre queremos recordar, mas sempre voltam.
A nossa cabeça, coisas que por mais que o tempo passe sempre lembraremos pois são coisas que mudaram nossas vidas e mesmo que mudemo-nos de cidade, de amigos, e até nosso jeito, sempre iremos recordar, momentos esses que muitas vezes queremos viver de novo e muitas queríamos que nem mesmo tivessem acontecido, mas aconteceram e só podemos fazer de tudo para esquece-los ou para nunca deixa-los irem embora de nossas mentes!
A FIGURA DO GAÚCHO:
Por trás dos acontecimentos, Simões Lopes Neto mostra os valores do gaúcho através dos costumes do campo (os carretões puxados por bois) e por meio dos juízos de valores do narrador-personagem. Como já dito, Blau fica espantado com o desfecho que os homens deram ao animal, a ponto de concluir que o bicho da história era o homem. Nesse sentido, o narrador-personagem apresenta características pessoais conferidas ao homem gaúcho, como a honra, a valorização dos animais, a indignação com a cobiça.
O tipo de discurso usado pelo narrador, como um homem decidido, crítico, honroso, etc., também se assemelha a caricatura gaúcha. A história da morte do boi, não foi um simples causo, foi algo que marcou a sua vida "Olhe, nunca me esqueço dum causo que vi". Assim sendo, Blau faz questão de se posicionar, como vimos nas duas últimas frases do conto, que inclusive reitera o início do texto e confirma a sua tese. O discurso foi construído para que o interlocutor se convencesse que bicho mau é o homem.
Blau, com sua voz firme e carregada de convicção, prossegue o relato como se ainda pudesse enxergar a cena diante dos olhos, o peso daquele "causo" gravado em sua alma. Ele se inclina um pouco, como quem quer garantir que o ouvinte não perca uma palavra, e continua:
"Pois é, meu amigo, aquele boi, tão forte, tão leal, puxando o carreto com a força dos seus lombos, não merecia aquele fim. Era um bicho que servia, que dava o couro e a carne pra nós, que carregava o peso do mundo nas costas sem nunca reclamar. E o que fizeram com ele? Por cobiça, por ganância, uns homens que se diziam donos da razão o sacrificaram sem dó. E eu te digo: não foi o boi que perdeu a dignidade ali, foram eles."
O narrador faz uma pausa, o olhar perdido no horizonte, como se revisse cada detalhe daquele dia. A indignação ainda pulsa em suas palavras, mas há também um traço de melancolia, como se ele soubesse que aquele episódio não era único, que a maldade do homem se repete em tantas outras histórias. Ele cruza os braços, o gesto de quem se firma em suas verdades, e retoma:
"Eu era jovem ainda, mas ali aprendi uma lição que carrego até hoje. O gaúcho, quando é de verdade, não se dobra à cobiça. Ele respeita o que é vivo, seja homem, seja bicho. A honra não é só pra ostentar facão na cinta ou falar alto na roda. Honra é olhar pro mundo e não deixar a ganância mandar no coração. Mas nem todo mundo entende isso... E aquele boi, coitado, pagou o preço da ruindade alheia."
Blau sacode a cabeça, como se quisesse afastar a lembrança amarga, mas logo ergue o queixo, decidido a encerrar o causo com a mesma clareza com que começou. "Por isso eu digo e repito: bicho mau é o homem. Não é o lobo, não é a cobra, não é o boi. É o homem que esquece o que é certo, que troca o respeito por um punhado de nada. E esse causo, meu amigo, eu conto pra que ninguém esqueça: a gente tem que ser mais que bicho, tem que ser humano de verdade."
Com essas palavras, Blau se cala, deixando o peso da história pairar no ar. Seu tom, ao mesmo tempo crítico e reflexivo, reforça a caricatura do gaúcho que Simões Lopes Neto tão bem constrói: um homem de valores firmes, que observa o mundo com olhos atentos e não teme apontar suas falhas. O conto, mais que um relato, torna-se uma lição moral, um convite para que o ouvinte questione suas próprias ações e o que realmente significa ser humano.
O Rei e a Bruxa
Conta a lenda que um Rei, ao caçar na floresta, foi mortalmente ferido, sendo salvo por uma bruxa velha e feia. Em sinal de gratidão o Rei disse a ela que poderia pedir o que quisesse. Ela, então, diz que quer se casar com ele. O amigo mais próximo do Rei, sabendo da dificuldade que isso traria, se oferece para casar-se em seu lugar. A bruxa aceita. Realizadas as núpcias, na noite em que se consumaria a união, o amigo do Rei vê entrar em seus aposentos a mais linda mulher do mundo.
A bruxa, transformada em princesa, diz à ele que pode escolher tê-la bela, de dia ou à noite. O bom homem, enternecido pelo oferecimento, diz a ela que a escolha não pode ser dele, mas dela. Em razão disso, a bruxa horrenda passa a apresentar-se, para seu amado e o mundo, tão bela durante o dia quanto durante à noite.
A história se espalhou pelo reino como fogo em palha seca, e a beleza da antiga bruxa, agora princesa, tornou-se lenda. O povo, maravilhado, atribuía ao amor desinteressado do amigo do Rei o milagre da transformação. Mas nem tudo era tão simples nos corredores do castelo.
O Rei, embora aliviado por não ter de cumprir a promessa, começou a sentir um peso no coração. Via a felicidade do amigo, agora casado com uma mulher de beleza incomparável e sabedoria profunda, e uma ponta de inveja se instalava. Ele, que sempre fora o centro das atenções, agora dividia os olhares com o casal que parecia abençoado pelos deuses. Durante os banquetes, enquanto a princesa encantava a todos com sua graça, o Rei se pegava em silêncio, observando.
A princesa, porém, não era apenas bela. Sua magia, antes usada para curar ou transformar, agora se manifestava em gestos sutis: ela parecia prever conflitos antes que eclodissem, aconselhava com precisão e trazia harmonia ao reino. Mas, à noite, quando se recolhia com seu esposo, confidenciava-lhe um segredo: sua transformação não era eterna. A magia que a mantinha bela dependia do equilíbrio entre o amor verdadeiro e a ausência de ciúmes ou desconfiança. "Se o coração de alguém próximo se corromper", disse ela, "minha forma antiga pode retornar."
O amigo do Rei, leal e sábio, prometeu proteger esse equilíbrio. Ele redobrou seus esforços para manter a paz no reino, mediando disputas e aproximando o Rei da corte. Mas a semente da inveja já germinava. Uma noite, durante um conselho, o Rei, embriagado por vinho e ressentimento, deixou escapar uma insinuação: "Será que a beleza dela não é apenas um truque para nos cegar?"
O silêncio caiu sobre a sala. A princesa, presente, apenas sorriu, mas seus olhos carregavam uma tristeza antiga. Naquela noite, o amigo do Rei a encontrou chorando em seus aposentos. "A dúvida foi plantada", disse ela. "Se crescer, tudo estará perdido."
Determinado a salvar o amor e o reino, o amigo decidiu agir. Ele convenceu o Rei a embarcar com ele em uma caçada, como nos velhos tempos, para reacender a amizade que os unia. Na floresta, longe dos olhos da corte, ele confrontou o Rei com honestidade, falando do peso da inveja e da força da gratidão. O Rei, tocado pelas palavras e pela lealdade do amigo, caiu em prantos, confessando seus temores de ser esquecido.
A partir daquele dia, o Rei mudou. Ele passou a valorizar o amigo e a princesa, reconhecendo que a verdadeira magia não estava na beleza dela, mas na bondade que unia os três. A princesa, livre do veneno da dúvida, brilhou ainda mais, e o reino viveu uma era de prosperidade nunca vista.
Mas a floresta, testemunha silenciosa, guardava seus próprios segredos. Dizem que, em noites de lua cheia, uma figura encapuzada ainda caminha entre as árvores, murmurando feitiços antigos. Seria a bruxa, vigiando para que o equilíbrio nunca mais fosse rompido? Ou apenas uma história para assustar os viajantes? Isso, ninguém sabe ao certo.
O Manantial:
Mariano chega a cidade com sua filha Maria Altina, sua sogra, a irmã da sogra, uns negros e uma negra chamada Mãe Tanásia. Eles criaram as meninas nas palmas de suas mãos e quando, pela primeira vez, ela apareceu na cidade, muitos rapazes se enamoraram por ela mas o que mais lhe agradou foi André, que lhe deu uma rosa vermelha, a qual sempre estava presa em seu cabelo.
Havia outro rapaz que também gostava muito de Maria Altina, era o filho de Chico Triste, o Chicão. Chicão sempre tentava agradar a moça com presentes do tipo: ovos de perdiz, pequenos filhotes de mula, veadinhos, gatos... Vendo que a moça não se agradava muito com seus presentes, ele a enviou filhotes de avestruz com as asas e patas cortadas. A moça se apavorou e ficou com medo do rapaz.
Quando a notícia do casório de Maria Altina com André espalhou-se pela cidade, Chicão se enfureceu e foi até a casa da menina. Estavam lá apenas a Mãe Tanásia, uma das velhas na cozinha fazendo beijus e Maria sentada na varanda confeccionando um timãozinho (casaquinho). De repente ouviu-se um grito vindo da cozinha, era a avó gritando "Bandido! Bandido!" e depois ouviu-se um grito final. Maria foi socorrê-la e deparou-se com Chicão que tentou repontar a rapariga (abusar dela).
Ela conseguiu fugir dele e correu com o cavalo para o meio do Manantial, acabou caindo no lodaçal e morreu, só sobrou a rosa que estava em seu cabelo boiando no lodaçal, atrás dela Chicão também caiu no lodaçal e ficou preso, com lama até os suvacos. Mãe Tanásia que viu tudo, saiu correndo para a casa do Brigadeiro Machado onde estava acontecendo um batizado e estavam presentes, Mariano e a outra velha.
No caminho ela encontrou Chicão afundado na lama. Quando ficaram sabendo do ocorrido todos foram até o Manantial e Mariano quis matar Chicão. Deu um tiro no ombro dele e a mãe de Chicão implorou que Mariano não o matasse. Então Mariano pulou no lamaçal e enforcou Chicão, que afundado na lama, levou Mariano consigo que também faleceu.
Com o padre missioneiro, fizeram uma oração para os falecidos e velaram a velha morta. Blau Nunes conta que passara pelo lamaçal outras vezes e a rosa continuava lá, bonita e viva, como se estivesse sendo alimentada pelo sangue do coração de Maria Altina que continuava ali. (Carlos Drummond de Andrade).
O Carvalho e Eu
O local estava deserto quando sentei-me para ler embaixo dos longos ramos de um velho carvalho. Desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois tinha a impressão que o mundo estava tentando me afundar. E se não fosse razão suficiente para arruinar o dia, um garoto ofegante chegou perto de mim, cansado de brincar. Ele parou na minha frente, cabeça pendente, e disse cheio de alegria: - Veja o que encontrei! Na sua mão uma flor. E que visão lamentável!
Estava murcha com muitas pétalas caídas... Querendo ver-me livre do garoto com sua flor, fingi pálido sorriso e virei-me. Mas ao invés de recuar, ele sentou-se ao meu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa: - O cheiro é ótimo, e é bonita também... Por isso a peguei.
Pegue-a, é sua! A flor à minha frente estava morta ou morrendo. Nada de cores vibrantes como laranja, amarelo ou vermelho, mas eu sabia que tinha que pegá-la, ou ele jamais sairia de lá. Então estendi-me para pegá-la e respondi: - Era o que eu precisava... Mas, ao invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar sem qualquer razão. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego, e que não podia ver o que tinha nas mãos.
Senti minha voz sumir. Lágrimas despontaram ao sol, enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor daquele jardim. - De nada... - respondeu sorrindo. E então voltou a brincar sem perceber o impacto que teve em meu dia. Sentei-me e comecei a pensar como ele conseguiu enxergar um homem auto-piedoso sob um velho carvalho. Como ele sabia do meu sofrimento auto-indulgente? Talvez no seu coração ele tenha sido abençoado com a verdadeira visão.
Através dos olhos de uma criança cega, finalmente entendi que o problema não era o mundo, e sim EU! E por todos os momentos em que eu mesmo fui cego, agradeci por ver a beleza da vida e apreciar cada segundo que é só meu. Então levei aquela feia flor ao meu nariz e senti a fragrância de uma bela flor, e sorri enquanto via aquele garoto com outra flor em suas mãos prestes a mudar a vida de um insuspeito senhor de idade... As melhores coisas da vida são vistas com o coração!
A Pereira e as Estações do Ano
Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que os seus filhos aprendessem a não julgar as coisas de modo apressado, por isso, ele mandou cada um viajar para observar uma pereira que estava plantada num distante local. O primeiro filho foi lá no Inverno, o segundo na Primavera, o terceiro no Verão e o quarto e mais jovem, no Outono.
Quando todos eles retornaram, ele reuniu-os e pediu que cada um descrevesse o que tinham visto. O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida. O segundo filho disse que ela era recoberta de botões verdes e cheia de promessas. O terceiro filho discordou.
Disse que ela estava coberta de flores, que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria dizer que eram a coisa mais graciosa que ele tinha visto. O último filho discordou de todos eles; ele disse que a árvore estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas...
O homem, então, explicou a seus filhos que todos eles estavam certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore... de cada vez. Ele falou que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa, por apenas uma estação, (peírodo) e que a essência de quem eles são e o prazer, a alegria e o amor que vêm daquela vida, podem apenas ser medidos ao final, quando todas as estações estiverem completas.
Se tu desistires quando for Inverno, você perderá a promessa da Primavera, a beleza do Verão, a expectativa do Outono. Pequena como as outras e sempre triste sem vida.
A Lenda da Mandioca:
Acredito que seja do conhecimento da maioria que a mandioca é um alimento genuinamente brasileiro, para ser mais exata ele vem do norte do Brasil, sendo cultivado pelos índios como um de seus principais alimentos, pré-colonização. Em minhas pesquisas encontrei duas versões em interessantes, uma acredito que seja do conhecimento de todas a outra nem eu fazia ideia, porém achei interessante compartilhar as duas.
Então vamos lá! Reza a lenda Tupi que que certa vez uma índia, teve uma linda filha chamada Mani. Mani era uma menina alegre e adorada por todos. Era a alegria de sua tribo, contudo, certo dia ela não conseguiu se levantar, parecia estar muito doente. O pajé da tribo foi chamado, mas nada pode fazer para salvar a jovem índia. Sua mãe desolada, enterrou a filha dentro de sua oca, o que era costume de algumas tribos, ao enterrar sua filha, a índia percebeu um sorriso tranquilo e sereno na criança. Era como se dissesse que estava tudo bem.
Após alguns dias no local onde teriam enterrado Mani, começou a nascer Era uma planta viçosa e bonita, assim como a indiazinha. Na esperança de ser sua filha viva, a mãe cava no local, mas no lugar de sua filha encontra a raiz que serviu de alimento para aquela tribo. Por isso o nome mandioca; é a junção de Mani e oca. Linda história. A outra versão não é tão "romantizada" conta a lenda de um casal de índios que teve dois filhos o pequeno Zôkôôiê e uma menina chamada Atiôlô. O pai Zatiamare, adorava seu filho, porém desprezava a filha. Isso a deixava muito triste e inconsolável.
Sabendo que nunca teria o amor de seu pai, a pequena Atiôlô, pede a sua mãe que a enterre viva, quem sabe assim seria útil para o seu povo. Depois de muita insistência a mãe concede o desejo da filha. Então a mãe a enterra na mata. De tempos em tempos a mãe ia visitar o tumulo da filha e cuidar da terra em volta, sempre a mantendo cuidada e irrigada, com esses cuidados a índia Kôkôtêrô, percebeu que começou nascer uma planta muito bonita e viçosa, a mandioca, um alimento gostoso e nutritivo que supriu as necessidades daquela tribo.
Eu não encontrei evidência de tal, mas para mim a primeira versão foi suavizada pelos colonizadores, afim, de criar uma história mais bonita e que chamasse mais a atenção, do que o desprezo de um pai para como uma filha.
Mapinguari, O monstro da Amazônia:
Já ouvi falar de bicho feio, mas o Mapinguari é de dar medo em qualquer um. Algumas histórias contam que o monstro da floresta tem quase 2 metros de altura o corpo coberto de pelos, outros dizem que sua carapaça é parecida a pelo de jacaré, que tem apenas um olho e que sua boca enorme fica na altura do estomago, pouco acima do umbigo e para completar essa figura bizarra, ele possui cascos de burro voltado para trás (Daí a origem do seu nome indígena Mapinguari, ou seja, "aquele que tem os pés virados".).
A lenda conta que os índios quando chega a uma idade bem avança sofre algum tipo de metamorfose e se transforma nesse bicho horrendo. Eles vagam sozinhos pela floresta deixando um rasto de destruição por onde passam e que seus gritos são parecidos com os de caçadores. Contam que se alguém responder aos seus gritos, ele vai atrás e ranca a cabeça de sua vítima e engole, por sua bocarra. Não deve ser uma cena nada agradável.
Os antropólogos não descartam a possibilidade de haver aqui algum simbolismo psicológico ancestral do tipo "aí está o que acontece quando o sujeito vira bicho e perde a cabeça" -, mas o mais provável mesmo é que o Mapinguari simplesmente goste de comer cérebro. Já ouvi falar de bicho feio, mas o Mapinguari é de dar medo em qualquer um.
Algumas histórias contam que o monstro da floresta tem quase 2 metros de altura o corpo coberto de pelos, outros dizem que sua carapaça é parecida a pelo de jacaré, que tem apenas um olho e que sua boca enorme fica na altura do estomago, pouco acima do umbigo e para completar essa figura bizarra, ele possui cascos de burro voltado para trás Daí a origem do seu nome indígena Mapinguari, ou seja, "aquele que tem os pés virados".
A lenda conta que os índios quando chega a uma idade bem avança sofre algum tipo de metamorfose e se transforma nesse bicho horrendo. Eles vagam sozinhos pela floresta deixando um rasto de destruição por onde passam e que seus gritos são parecidos com os de caçadores. Contam que se alguém responder aos seus gritos, ele vai atrás e ranca a cabeça de sua vítima e engole, por sua bocarra. Não deve ser uma cena nada agradável.
Os antropólogos não descartam a possibilidade de haver aqui algum simbolismo psicológico ancestral do tipo "aí está o que acontece quando o sujeito vira bicho e perde a cabeça" -, mas o mais provável mesmo é que o Mapinguari simplesmente goste de comer cérebro.
Fábula: A Raposa e a Cegonha
A Raposa convidou a Cegonha para jantar e lhe serviu sopa em um prato raso. -Você não está gostando de minha sopa? - Perguntou, enquanto a cegonha bicava o líquido sem sucesso. -Como posso gostar? - A Cegonha respondeu, vendo a Raposa lamber a sopa que lhe pareceu deliciosa. Dias depois foi a vez da cegonha convidar a Raposa para comer na beira da Lagoa, serviu então a sopa num jarro largo embaixo e estreito em cima.
-Hum, deliciosa! -Exclamou a Cegonha, enfiando o comprido bico pelo gargalo -Você não acha? A Raposa não achava nada nem podia achar, pois seu focinho não passava pelo gargalo estreito do jarro. Tentou mais uma ou duas vezes e se despediu de mau humor, achando que por algum motivo aquilo não era nada engraçado.
A Raposa, ainda irritada, voltou para casa com a barriga vazia e o orgulho ferido. Enquanto caminhava, resmungava para si mesma: "Que truque sujo! A Cegonha fez de propósito para me humilhar!" Mas, no fundo, ela sabia que havia recebido o troco por sua própria travessura. Afinal, fora ela quem primeiro serviu a sopa no prato raso, sabendo que a Cegonha não poderia comê-la.
Dias depois, a Raposa, que não era de guardar rancor por muito tempo, começou a refletir. "Talvez eu tenha sido um pouco... mesquinha", pensou. Decidiu então procurar a Cegonha para fazer as pazes. Chegando à beira da lagoa, encontrou a Cegonha pescando tranquilamente.
— Cegonha, posso falar com você? — perguntou a Raposa, com um tom mais humilde.
A Cegonha ergueu o bico e olhou para ela, curiosa. — Claro, Raposa. O que foi?
— Sobre aquele jantar... Acho que nós duas jogamos alguns truques, não é? — disse a Raposa, coçando a orelha com certa timidez. — Que tal um novo jantar, juntas, mas dessa vez com comida que nós duas possamos aproveitar?
A Cegonha sorriu, surpresa com a sinceridade da Raposa. — Boa ideia, Raposa. Vamos fazer um banquete de verdade, sem pratos rasos ou jarros estreitos.
E assim, no dia seguinte, as duas se reuniram. A Cegonha trouxe peixes frescos da lagoa, e a Raposa preparou uma torta de frutas silvestres. Sentaram-se juntas, comeram, riram e compartilharam histórias até o sol se pôr. Daquele dia em diante, aprenderam que uma amizade verdadeira vale mais que qualquer truque ou revanche.
E a moral da história? Às vezes, um gesto de bondade pode transformar uma rixa em uma grande amizade. às vezes recebemos na mesma moeda por tudo aquilo que fazemos.
Fábula: O Lobo e o Cordeiro
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo, também bebendo da água. -Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo -disse o lobo, que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar a fome.
-Senhor -respondeu o cordeiro -não precisa ficar com raiva porque eu não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o que o senhor está falando. -Você agita a água -continuou o lobo ameaçador -e sei que você andou falando mal de mim no ano passado.
-Não pode -respondeu o cordeiro -no ano passado eu ainda não tinha nascido.O lobo pensou um pouco e disse: -Se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo. -Eu não tenho irmão - disse o cordeiro -sou filho único. -Alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue. Então ali, dentro do riacho, no fundo da floresta, o lobo saltou sobre o cordeiro, agarrou-o com os dentes e o levou para comer num lugar mais sossegado. MORAL: A razão do mais forte é sempre a melhor (Jean de La Fontaine)
Veja como é a criação do mundo na mitologia japonesa;
A mitologia japonesa não possui só uma versão. Tem vários livros, poemas e contos com fatos, personagens e datas conflitantes, tendo mais de duas versões sobre um único conto. A maioria dos contos são tirados de dois livros. O primeiro é o Kojiki, a crônica mais antiga do Japão, compilado há muito tempo, em 712 depois de Cristo, chamada "Registro de Coisas Antigas". Já o segundo é o Nihongi, que representa as "Crônicas do Japão" e foi compilado em 720 depois de Cristo.
As lendas nesses compilados não são simples contos, porque são cheios de simbolismos. Inclusive, são levados muito a sério, em vários casos, como na descendência da família imperial. Com isso, criou-se o mundo segundo a mitologia japonesa a partir do Caos, assim como na mitologia nórdica. O Caos era ilimitado e sem forma, sem fronteiras. Dele, uma massa límpida e transparente se formou, virando o Céu, que veio a ser a "Planície dos Céus Elevados". Nela, se materializou a "Deidade do Augusto Centro do Céu". Logo depois, os Céus criaram a "Elevada Augusta Deidade Produtora de Maravilhas" e, em seguida, "Divina Deidade Produtora de Maravilhas".
Dessa forma, considera-se essas três divindades as Três Deidades Criadoras. Enquanto isso, tudo que era pesado se assentou gradualmente, criando a Terra, o que demorou um período incrivelmente longo até que tudo se tornasse sólido. Dizem que o estágio primordial da Terra assemelhava-se a uma mancha de óleo flutuante, como uma água-marinha na água. De repente, dois seres imortais nasceram das entranhas da Terra: "Deidade Príncipe Primogênito do Agradável Jorro do Tubo" e a "Deidade Celestial Eternamente Pronta".
Com as três divindades anteriores, os cinco são considerados como as Divindades celestiais especiais. Então, muitos deuses nasceram e cresceram. Logo após, os últimos deuses a nascer foram as Deidades "Aquele que é convidado" e "Aquela que convida", que foram responsáveis por criar o arquipélago japonês. Eles também tinham a função de preencher o mundo e criar condições de vida.
Caipora, protetor das matas:
Para muitos estudiosos, o Caipora (ou Caapora) é uma simples derivação do Curupira. Caapora, em tupi, significa "habitante do mato", denominação fiel deste ser que, nos primórdios da colonização portuguesa, foi ignorado pelos jesuítas, tão hábeis em recensear os mil disfarces de que se valeu o Diabo para introduzir-se nas matas brasileiras. Pertencente à mesma classe dos entes protetores da floresta.
Ele desenvolveu, contudo, um tipo próprio bastante diferenciado do Curupira: enquanto este se apresenta como um moleque franzino e de pés invertidos, o Caipora toma a figura de um brutamontes com o corpo coberto de pelos e montado num gigantesco porco-do-mato. Em outros momentos é contado que caipora é uma mulher, uma índia. Em ambas as lendas o caipora é um protetor das matas e animais, tendo o poder de ressuscitar animais que foram abatidos por caça.
Para mim a caipora sempre será uma índia de tamanho pequeno de pele avermelhada, com roupas que mistura as origens africanas, já que várias de nossas lendas tem base na matriz africana e cabelos vermelhos que sempre fala por rimas, quem aí tiver mais de 30 anos com certeza vai se lembrar desse personagem do extinto programa de TV Castelo Rá-Tim-Bum, exibido pela TV Cultura. Sempre terei em minhas memorias essa imagem dessa celebre criatura das matas amazônicas. Para muitos estudiosos, o Caipora (ou Caapora) é uma simples derivação do Curupira.
Caapora, em tupi, significa "habitante do mato", denominação fiel deste ser que, nos primórdios da colonização portuguesa, foi ignorado pelos jesuítas, tão hábeis em recensear os mil disfarces de que se valeu o Diabo para introduzir-se nas matas brasileiras. Pertencente à mesma classe dos entes protetores da floresta. Ele desenvolveu, contudo, um tipo próprio bastante diferenciado do Curupira: enquanto este se apresenta como um moleque franzino e de pés invertidos, o Caipora toma a figura de um brutamontes com o corpo coberto de pelos e montado num gigantesco porco-do-mato. Em outros momentos é contado que caipora é uma mulher, uma índia.
Em ambas as lendas o caipora é um protetor das matas e animais, tendo o poder de ressuscitar animais que foram abatidos por caça. Para mim a caipora sempre será uma índia de tamanho pequeno de pele avermelhada, com roupas que mistura as origens africanas, já que várias de nossas lendas tem base na matriz africana e cabelos vermelhos que sempre fala por rimas, quem aí tiver mais de 30 anos com certeza vai se lembrar desse personagem do extinto programa de TV Castelo Rá-Tim-Bum, exibido pela TV Cultura. Sempre terei em minhas memorias essa imagem dessa celebre criatura das matas amazônicas.
Akuanduba, o deus da flauta:
Esta divindade da mitologia brasileira é típica dos índios araras, que habitavam a margem do rio Iriri, no Estado do Pará. De acordo com a lenda, Akuanduba toca a flauta para garantir o equilíbrio do mundo. Caipora, divindade protetora da floresta: Esta não é uma divindade específica, mais correto seria dizer que é um "tipo de divindade". Essas criaturas têm o dom de imitar qualquer som e a usam para enganar caçadores e fazer com que se percam na mata.
Desse modo, são tidas como protetoras das matas e dos animais. De modo geral, as Caiporas andam em bando. Além disso, elas têm um senso de humor bem peculiar, tendo como passatempo pregar peças em qualquer um que ande desavisado pela mata. Por isso, há uma lenda de que antes de entrar na floresta é preciso presentear a Caipora.
Akuanduba, com sua flauta melodiosa, não apenas mantém o equilíbrio do mundo, mas também guia os espíritos da floresta em harmonia. Conta a lenda que, em noites de lua cheia, ele se junta às Caiporas em uma dança ritualística, onde os sons de sua flauta se misturam aos ecos travessos delas, criando uma sinfonia que encanta e confunde quem ousar adentrar a mata sem permissão.
As Caiporas, sempre astutas, aproveitam essas ocasiões para intensificar suas brincadeiras. Dizem que certa vez um caçador, ignorando o costume de oferecer fumo ou cachaça à Caipora, entrou na floresta carregando apenas sua arrogância. As Caiporas, percebendo a afronta, começaram a imitar o choro de uma criança perdida. O caçador, confuso, correu em círculos, guiado pelos sons falsos, até que, exausto, caiu aos pés de uma árvore.
Quando abriu os olhos, viu-se rodeado por dezenas de Caiporas rindo e dançando, enquanto Akuanduba, ao longe, tocava uma melodia que parecia zombar de sua presunção. Para evitar tais armadilhas, os indígenas sempre ensinam: antes de entrar na mata, ofereça algo à Caipora — um maço de tabaco, um gole de bebida ou até uma prece. E, acima de tudo, respeite a floresta, pois Akuanduba está sempre ouvindo, e sua flauta pode tanto proteger quanto castigar.
Iara, deusa das águas:
A lenda da Iara já é conhecida dos brasileiros e conta sobre uma índia que virou uma espécie de sereia protetora das águas. Além disso, ela é dona de uma voz tão boa, bonita e tocante que o homem que a ouve morre de paixão por ela. Sua aparição é relatada por muitos pescadores.
Dizem que em noites de lua cheia, quando o rio fica tão calmo que parece um espelho prateado, Iara emerge das profundezas com um brilho que ofusca até as estrelas. Seus cabelos negros, longos como as correntezas, dançam na superfície, e seus olhos, profundos como o leito do rio, guardam segredos que nenhum mortal jamais desvendou. Pescadores experientes, calejados pelo sol e pelo vento, juram que já a viram, mas poucos ousam contar suas histórias em voz alta, temendo que o simples mencionar de seu nome a convoque.
Certa vez, num vilarejo às margens do rio Amazonas, um jovem chamado Manoel, conhecido por sua coragem e curiosidade, decidiu desafiar a lenda. Ele não acreditava nas histórias dos mais velhos, que falavam de homens que, hipnotizados pela canção de Iara, abandonavam tudo — redes, barcos, até suas próprias famílias — para segui-la até o fundo das águas, de onde nunca retornavam. "É só uma história para assustar crianças", dizia Manoel, rindo, enquanto preparava seu barco para uma pescaria noturna.
Naquela noite, o céu estava limpo, e a lua cheia iluminava o rio como um caminho de prata. Manoel remava em silêncio, o som da água batendo suavemente contra o casco do barco era sua única companhia. De repente, uma brisa fria soprou, e ele sentiu um arrepio que não explicava. Foi então que ouviu. Primeiro, um sussurro, tão leve que poderia ser confundido com o vento. Depois, uma melodia, tão doce e envolvente que parecia abraçar sua alma.
Era ela. A voz de Iara. Manoel tentou tapar os ouvidos, mas era como se a música viesse de dentro dele. Ele olhou para o rio e a viu: Iara, com metade do corpo fora d'água, os cabelos flutuando como uma cortina viva, os lábios entreabertos soltando notas que faziam o coração acelerar. Ela não era apenas bela — era algo além da beleza, algo que fazia o mundo parecer pequeno diante dela.
"Iara...", ele murmurou, sem perceber. Ela sorriu, um sorriso que misturava ternura e perigo, e estendeu a mão na direção dele. Manoel sabia que não deveria se aproximar, mas seus braços pareciam agir por vontade própria, guiando o barco em direção à sereia. O que ele não sabia era que Iara não era apenas uma criatura de paixão cega. Ela era a guardiã do rio, e aqueles que sucumbiam à sua voz eram julgados por suas intenções. Homens de coração puro podiam receber sua bênção; os gananciosos, que feriam as águas com redes pesadas e poluição, encontravam um destino bem diferente.
Enquanto o barco de Manoel se aproximava, a melodia de Iara mudou. Tornou-se mais grave, como se o próprio rio estivesse falando. Manoel sentiu um peso no peito, e imagens começaram a surgir em sua mente: o rio cristalino de sua infância, agora turvo por causa das dragas dos garimpeiros; os peixes que sumiam, as margens que desmoronavam. Ele percebeu, com um aperto no coração, que a canção de Iara não era só um chamado — era um aviso.
De repente, a voz parou. Iara mergulhou, e o rio ficou em silêncio. Manoel piscou, como se despertasse de um sonho. Seu barco estava parado, intacto, mas ele tremia. Olhou ao redor, e a lua ainda brilhava, impassível. Ele não sabia se havia passado minutos ou horas ali. Só sabia que algo havia mudado dentro dele.
Quando voltou ao vilarejo, Manoel não contou a ninguém o que viu — ou o que sentiu. Mas, a partir daquele dia, ele se tornou diferente. Passou a proteger o rio com uma determinação que ninguém entendia. Falava com os pescadores, confrontava os garimpeiros, plantava árvores nas margens. Alguns diziam que ele havia enlouquecido; outros, que ele tinha sido tocado pela própria Iara.
E, nas noites de lua cheia, quando o rio ficava calmo demais, Manoel às vezes parava e olhava para a água. Não dizia nada, mas seus olhos brilhavam com um segredo. Porque, no fundo, ele sabia: Iara ainda estava lá, observando, cantando, protegendo. E ele, de alguma forma, havia prometido ajudá-la.
Kianumaka-Manã, a deusa onça:
Kianumaka-Manã, a Deusa Onça, é uma figura fascinante do folclore brasileiro, especialmente entre os povos indígenas do norte de Minas Gerais, como os Xakriabá, e os fazendeiros locais. Conhecida também como Onça Cabocla ou Mulher Onça, ela é a personificação da liberdade e da força selvagem, uma guerreira de espírito indomável que carrega a potência das onças-pintadas, com suas pintas marcando sua pele como símbolo de poder.
A lenda, registrada pelo antropólogo Romeu Sabará em 1976, apresenta duas versões que entrelaçam o humano e o sobrenatural. Na primeira, uma mãe e sua filha caminham juntas. Faminta, a filha promete caçar e pede à mãe que coloque um galho em sua boca quando ela retornar correndo. Transformada em onça, ela mata uma novilha, mas a mãe, assustada, foge sem cumprir o pedido. A filha, então, permanece como onça para sempre, escondendo-se de dia e atacando o gado dos fazendeiros à noite. Com o tempo, os fazendeiros, em respeito ou medo, oferecem a ela o ferro de marcar seu gado, e ela deixa de atacá-los.
Na segunda versão, uma índia chamada Yndaiá, indignada com a invasão de suas terras e a perseguição de seu povo, pede aos companheiros que invoquem um espírito para encantá-la. À noite, como onça, ela caça o gado dos invasores, mas insiste que a carne seja compartilhada com os indígenas. Em uma dessas noites, sua mãe não encontra o galho para desfazer o encanto, e Yndaiá, incapaz de voltar à forma humana, refugia-se em uma caverna sagrada. Lá, durante danças rituais à meia-noite, ela se revela como a bela índia, celebrada por seu povo ao lado da onça que também é.
Kianumaka-Manã transcende a mera lenda; ela é um símbolo de resistência e conexão com a natureza. Sua história reflete o conflito entre indígenas e colonizadores, mas também a busca por equilíbrio, como quando os fazendeiros cedem à sua presença. É uma deusa que abençoa os guerreiros, mas também ensina que a força deve servir à justiça, distribuindo o que caça para os necessitados.
Em alguns contos, ela se envolve com o índio Arakuni, uma paixão trágica que termina em morte e ressurreição sob um eclipse, com a ajuda da deusa Jaci, reforçando seu papel como figura de transformação. Essa deusa onça é mais que um mito: é um lembrete da potência da liberdade e da luta por um lugar no mundo, rugindo contra a opressão e dançando sob a luz da lua!
Amazonas, as índias guerreiras:
Quem dia que em terras tupiniquins haveria mulheres guerreiras, dotas de habilidades de luta e eximias arqueiras e vou ainda mais longe, essa tribo só de mulheres é que possivelmente foi o motivo do rio amazonas ter esse novo. Algum tempo atrás eu tinha lido o assunto, mas acabei não dando muita importância, na época até achei que seria algum erro ou alguma história mal contada.
Mas agora pesquisando a fundo as lendas brasileiras, descubro que as lendas são verdadeiras. Segundo alguns relatos as índias guerreiras existiram mesmo, mas infelizmente a história delas sofreu muitas alterações, principalmente dos expedicionários espanhóis. Na lenda, as icamiabas eram mulheres altas, musculosas, de pele clara, cabelos compridos e negros, foram encontradas quando expedicionários espanhóis, liderados pelo espanhol Francisco Orellana, chegaram em 1542 à região que hoje é conhecida por Amazônia.
Eram conhecidas pelos povos indígenas como icamiabas, mas devido os seus costumes, logo foram associadas às guerreiras Amazonas, da mitologia grega. Segundo Frei Gaspar Carvajal, essas mulheres lutavam nuas, com apenas os arcos cobriam "suas vergonhas" e lutavam como homens, habilidades de luta que ele jamais tinha visto. Tanto que elas saíram como vencedoras no embate que tiveram contra os espanhóis as margens do rio Nhamundá.
Outro relato que se assemelha as guerreiras gregas é a forma que as icamiabas se reproduziam, aí já não sabemos se é real ou apenas invencionismo dos colonizadores, uma vez por anos guerreiros de tribos vizinhas eram convidados para um "festival da lua", deusa que as índias adoravam, para terem relações sexuais com elas. Após o nascimento das crianças, os meninos eram entregues as tribos dos guerreiros e as meninas ficavam para ser treinadas.
Independente dessas histórias serem reais ou não, acho muitíssimo valido repercutir essa lenda como todas as outras que temos espalhadas pelo nosso país. Acredito que como estamos vivendo um momento de empoderamento da mulher, uma mitologia como essa poderia fazer a diferença para várias meninas de todo o país. (Transcrição de: LADYLENE APARECIDA)
Mitologia celta origem:
Os celtas foram um conjunto de povos que existiu de 600 a.C. a 600 d.C. e que surgiu a partir da evolução cultural de populações que habitavam na Europa Central. Com o tempo, esses povos espalharam-se por todo o continente europeu e chegaram até a região da Ásia Menor, na atual Turquia.
A mitologia celta foi registrada no período medieval pelos primeiros monges cristãos na Irlanda, e foram recitados nas cortes dos reis como uma forma de história coletiva. Na Inglaterra, foram os invasores normandos que se interessaram pelas lendas locais de um rei mágico chamado Arthur.
Costuma-se dividir a mitologia celta em três classes, segundo as crenças a elas associadas - a Goidélica, irlandesa e escocesa; a Britânica Insular, galesa e da Cornuália; e Britânica Continental, da Europa Continental.
-Sucellus: era o mais importante no panteão celta. Considerado o rei dos deuses, representava a fertilidade, a agricultura e as florestas. -Cernuno: deus dos animais. Os celtas acreditavam que esta divindade possuía a capacidade de assumir a forma de animais. -Taranis: deus do trovão. Teutates: deus protetor da tribo. Era considerado um guerreiro. -Epona: deusa galo-romana da terra, associada à fertilidade do solo.
Era representada junto a um cavalo. -Goibniu: deus da arte e da ourivesaria. - Arianrhod: deusa do lar. -Tan Hill: deusa do fogo. -Fand: deusa do mar. -Lugh: deus guerreiro e artesão. Possuía a capacidade de confeccionar armas com poderes mágicos. -Belenus: deus do fogo e da luz. -Dagda: deus da sabedoria e da magia. -Morrigan: deusa da guerra. -Chuchulain: embora faça parte da mitologia celta, não é um deus.
Ele é um guerreiro herói, que possui uma lança cheia de pontas com a qual ataca os inimigos. -Manannán Mac Lir: deus do mundo dos mortos e dos mares. - Macha: deusa da sabedoria, da guerra e da morte. -Aine de Knockaine: deusa-fada da fertilidade e do amor na mitologia irlandesa. -Maponus: deus associado à juventude.
Foi cultuado, principalmente, na região norte da Grã-Bretanha e na Gália. Era filho da deusa Dea Matrona. -Maeve: deusa da caça e da guerra na Irlanda. - Brigid: deusa da sabedoria e das artes.- Aengus: deus associado à juventude e ao amor. - Aengus: deus celta da juventude e do amor.
As Pirâmides Egípcias
As pirâmides do Egito exercem enorme fascínio, seja pela sua beleza, pela sua história ou mesmo pelos seus mistérios. Apesar dos avanços nos estudos sobre essas incríveis estruturas de pedra construídas há milhares de anos, ainda restam muitos enigmas arqueológicos à espera de decifração. (Revisão por Juliana Bezerra • Professora de História Escrito por Carlos Neto)!
Vejamos o que os cientistas descobriram até agora:
1. O que são e para que serviam as pirâmides do Egito: As pirâmides são túmulos de antigos faraós (os reis do Egito Antigo), bem como de seus cônjuges e até de suas mães. Uma das últimas pirâmides descobertas por arqueólogos, em 2008, teria sido construída há cerca de 4.300 anos para abrigar os restos mortais da mãe do faraó Teti, que deu início à 6ª dinastia do Antigo Egito. Mas nem sempre foi consenso que as pirâmides são túmulos.
No século XVIII chegou-se a acreditar que as pirâmides poderiam ter servido para outros fins, como refúgio ou grandes silos para armazenamento de alimentos. Mas essas teorias não vingaram. Está comprovado que as pirâmides são gigantescos mausoléus servindo para assegurar a existência do faraó após a morte.
2. Quantas pirâmides existem no Egito:Com a descoberta de 2008, são ao todo 123 pirâmides conhecidas, sendo que nem todas se encontram de pé ou em bom estado de conservação como as famosas pirâmides de Gizé. Por exemplo: em 2017, foram encontradas, na necrópole Dahchur, ao sul do Cairo, ruínas de uma pirâmide de aproximadamente 3.700 anos de idade.
Portanto, são restos de uma antiga estrutura descobertos por meio de escavações arqueológicas. Nomes das três pirâmides mais conhecidas. As pirâmides mais famosas do Egito são as três pirâmides de Gizé. A menor é a Miquerinos, depois vem a Quéfren e a maior de todas é a Quéops. Esses são os nomes dos faraós para os quais as pirâmides foram construídas.
3. Qual a maior das pirâmides egípcias: A maior de todas as pirâmides é a de Quéops, localizada na cidade de Gizé, a apenas 20 km da capital Cairo. Também conhecida como a Grande Pirâmide de Gizé, esse túmulo foi construído por volta de 2.584 a.C. e possui impressionantes 145 metros de altura com 230 metros de largura! Isso equivale a um prédio de mais de 40 andares. Incrível, não é mesmo.
Esse colosso da Antiguidade é composto por 2,6 milhões de blocos de pedras talhadas com volume médio de 1,3 m³ cada. Ao lado dessa magnífica construção, há outras duas pirâmides, que compõem a chamada necrópole (ou cemitério) de Gizé: a dos faraós Quéfren e Miquerinos, além da Esfinge. A pirâmide do faraó Quéops é a mais antiga e a única das Sete Maravilhas do Mundo Antigo que se encontra praticamente preservada até hoje. Porém, a múmia do faraó nunca foi encontrada.
4. Por que as pirâmides são assim: Em outras palavras: por que construir túmulos nesse formato e gigantescos, maiores que muitos edifícios modernos. Em primeiro lugar, é preciso olhar para o formato das pirâmides. São estruturas que apontam para cima, simbolizando a ascensão ao céu. O tamanho também tem a ver com isso: quanto mais alta a pirâmide, mais próxima do céu. A grandiosidade das pirâmides tem a ver com poder A grandiosidade e o luxo desses túmulos se explicam pela importância política e religiosa das pessoas que eram sepultadas ali dentro.
O faraó, além de ser a principal liderança política do Egito Antigo, era considerado filho de algum deus do panteão egípcio. Alguns faraós, inclusive, chegaram a ser cultuados como deuses já em vida. Portanto, esses túmulos representavam todo seu poder político e religioso que detinha. Daí a grandiosidade e o luxo das pirâmides. Essas estruturas de pedra foram feitas para durar.
Além disso, a crença de que o espírito permanecia vivo após a morte caso o corpo fosse preservado -o que explica a mumificação - fez com que fossem construídos túmulos feitos para durar e para não serem violados. Assim, as pirâmides são refúgios feitos para resistirem à passagem do tempo e para evitar saques. A mastaba, tipo de túmulo usado pela nobreza, era mais vulnerável à ação de ladrões. Não nos esqueçamos de que nas pirâmides, além do corpo embalsamado do faraó, também eram armazenados os bens terrestres necessários na vida no Além.
Mitos e Lendas: Região Norte:
A região norte do país é uma das mais que tem influência da cultura indígena. Suas lendas são baseadas em seres extraordinários que protegem a mata e os animais, outras para prevenir os índios mais novos se aventurassem no meio da mata fechada ou fossem em lugares que eram perigosos.
Boto Cor de Rosa, o Homem-Boto: Como a lenda acima, acredito que a lenda do boto foi muito influenciada pelos colonizadores, até para explicar o "surgimento" de mulheres gravidas, que não sabiam quem era o pai de seus filhos.
Reza a lenda que em noites quentes de baile, nas cidades ribeirinhas, o boto cor de rosa, se transformava em um galante rapaz, vestido de roupas brancas e com um chapéu de mesma cor, que por nada ele tirava da cabeça, contam que era para esconder o orifício de respiração do boto.
Seu único objetivo depois que sai do seu habitat e seduzir as moças principalmente as consideradas puras e castas, e engravidá-las. Ninguém sabe explicar se as crianças nascidas têm algum elemento de seu pai boto. O olho seco do boto-tucuxi é usado até hoje como talismã para atrair o amor das mulheres que se recusam a cair na lábia dos homens despidos de qualquer encanto.
Anhangá, o deus do submundo
Além de ser a divindade do submundo, Anhangá também é tido como o deus dos mortos. De acordo com as narrativas indígenas, ele costuma castigar as más pessoas de forma cruel. Além disso, ele é visto como um inimigo de Tupã e o único a rivalizar em poder. No entanto, na cultura tupi-guarani, a aparição de Anhangá é considerada um mal presságio. Ele também protege os animais da caça desenfreada, preservando o equilíbrio da natureza.
Anhum, deus da melodia: responsável pelo o sacro Taré, instrumento que avisa quando os deuses estão chegando. De acordo com a lenda, ele emite um som único e nunca antes visto. Além disso, teria sido ele o responsável por trazer a música à humanidade.
Picê, deusa das artes e da poesia: Por fim, o último Deus da mitologia brasileira. De acordo com a lenda, Picê trouxe mais alegria para as pessoas por meio de seus versos.
O Leão Apaixonado, Fábula de Esopo:
Certa vez um leão se apaixonou pela filha de um lenhador e foi pedir a mão dela em casamento. O lenhador não ficou muito animado com a idéia de ver a filha com um marido perigoso daquele e disse ao leão que era uma honra, mas muito obrigado, não queria. O leão se irritou; sentindo o perigo, o homem foi esperto e fingiu concordava: -É uma honra, meu senhor. Mas que dentões o senhor tem!
Que garras compridas! Qualquer moça ia ficar com medo. Se o senhor quer casar com minha filha, vai ter que arrancar os dentes e cortar as garras. O leão apaixonado foi correndo fazer o que o outro tinha mandado; depois voltou à casa do pai da moça e repetiu seu pedido de casamento. Mas o lenhador, que já não sentia medo daquele leão manso e desarmado, pegou um pau e tocou o leão para fora de casa.
O leão, humilhado e ferido, cambaleou para longe da casa do lenhador, com o coração partido e o corpo enfraquecido. Sem dentes nem garras, ele não conseguia caçar, e sua força, outrora temida, agora era apenas uma lembrança. Vagou pela floresta, faminto e solitário, enquanto os outros animais, que antes o respeitavam, zombavam de sua fraqueza.
Mas o amor, mesmo cego, às vezes ensina. Um dia, o leão encontrou uma lebre sábia, que, com pena, lhe ofereceu comida e conselho:
— Leão, o amor não exige que tu te destruas. Quem te ama de verdade não pede que abra mão do que te faz ser quem é.
O leão refletiu. Decidiu que, se sobrevivesse, nunca mais sacrificaria sua essência. Com o tempo, aprendeu a viver com sua nova realidade, usando a inteligência em vez da força bruta. Tornou-se um líder diferente, respeitado não pelo medo, mas pela sabedoria que a dor lhe trouxe.
Enquanto isso, a filha do lenhador, que nunca soube do sacrifício do leão, cresceu infeliz, presa às escolhas do pai, que a afastava de qualquer pretendente. O lenhador, por sua vez, viveu temendo o dia em que outro animal, menos tolo que o leão, viesse bater à sua porta.
Final: O leão encontrou paz ao redescobrir seu valor, mas o lenhador e sua filha carregaram o peso de uma vida sem coragem para amar ou confiar.
Moral atualizada: O amor cega, mas a sabedoria ilumina. Perder a cabeça pode machucar, mas perder a si mesmo é o maior erro. Quem perde a cabeça por amor, sempre acaba mal.
Cabra e o Asno
Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse: -Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te deem umas férias. Aceitou o asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo.
Vendo-o o amo, chamou o veterinário e lhe pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que necessitava uma infusão com o pulmão de uma cabra, pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então degolaram a cabra e assim curaram o asno, quem age por maldade, acaba por sofrer do próprio veneno.
O asno, agora recuperado, percebeu o erro da cabra e a tragédia que a inveja pode causar. Triste pelo destino da companheira, decidiu mudar sua forma de ver o mundo.
Com o tempo, mostrou-se um animal generoso, ajudando os outros do estábulo e carregando sua carga sem reclamar. O amo, notando a mudança, passou a cuidar melhor do asno, dando-lhe comida de qualidade e mais momentos de descanso.
A história se espalhou entre os animais da fazenda, tornando-se um exemplo de como a bondade e a gratidão sempre encontram recompensa. O estábulo, antes cheio de rivalidades, tornou-se um local de amizade e respeito, onde todos viviam em harmonia.
Moral: A verdadeira felicidade surge quando se aprende a valorizar o que se tem e a agir com bondade.