O Duelo Final
O Primeiro Confronto
Autor: Igidio Garra
Prólogo
O vento uivava pelas ruas empoeiradas de Valência, uma cidade esquecida no coração do deserto. O sol ardia no céu, lançando sombras longas que dançavam como espectros sobre o chão seco. Na praça central, dois homens estavam frente a frente, separados por poucos metros. Suas mãos pairavam sobre os coldres, olhos fixos um no outro, como predadores à espreita. A multidão ao redor prendia a respiração, sabendo que apenas um sairia vivo.
Eram eles: Caleb "Falcão" Duran e Wilton "Corvo" Montenegro. Lendas vivas, pistoleiros cuja fama ecoava por todo o Oeste. Mas não era apenas a reputação que os unia. Um passado sombrio, cheio de promessas quebradas e sangue derramado, os trouxera até aquele momento. Este não era apenas um duelo. Era o fim de uma era.
Capítulo 1: As Sombras do Passado
Caleb Duran nasceu em uma fazenda modesta nas colinas de São Rafael. Filho de um pastor e uma costureira, ele cresceu com a Bíblia em uma mão e sonhos de aventura na outra. Mas a tranquilidade de sua infância foi destruída aos 15 anos, quando um bando de foras da lei incendiou sua casa, matando seus pais. O jovem Caleb sobreviveu por milagre, mas algo dentro dele morreu naquela noite. Ele trocou a Bíblia por um pitola e jurou vingança.
Foi durante sua busca pelos assassinos que ele conheceu Wilton Montenegro. Wilton era o oposto de Caleb: carismático, astuto e com um sorriso que desarmava qualquer um. Filho de um comerciante mexicano e uma dançarina, Wilton aprendera desde cedo a sobreviver com sua lábia e, quando necessário, com sua pontaria. Os dois jovens se cruzaram em uma taberna empoeirada, ambos caçando o mesmo homem: Diego "Serpente" Vargas, o líder do bando que destruíra a vida de Caleb.
Unidos por um objetivo comum, Caleb e Wilton tornaram-se parceiros. Durante dois anos, cruzaram o deserto, enfrentando perigos e construindo uma amizade forjada no fogo. Juntos, encontraram Vargas e o mataram em um tiroteio brutal. Mas a vitória teve um custo. Durante a luta, Wilton tomou uma decisão que Caleb nunca perdoaria: para salvar a própria pele, ele deixou um aliado ferido para trás, condenando-o à morte. Caleb, que valorizava a lealdade acima de tudo, viu nisso uma traição imperdoável.
A partir daquele dia, os caminhos dos dois se separaram. Caleb tornou-se o "Falcão", um pistoleiro solitário cuja presença inspirava temor. Wilton, por sua vez, adotou o apelido, "Corvo" usando sua fama para enriquecer como caçador de recompensas. Mas, onde quer que fossem, suas lendas cresciam, e o destino parecia decidido a reuni-los.
A partir daquele dia, os caminhos dos dois se separaram, marcados pela amargura de uma confiança despedaçada. Caleb Duran, agora conhecido como o "Falcão", tornou-se um pistoleiro solitário, uma figura enigmática que atravessava o deserto como uma tempestade silenciosa. Sua presença inspirava temor: olhos afiados como lâminas, um casaco preto esfarrapado pelo vento e um revólver que parecia uma extensão de sua alma.
Ele escolhia seus trabalhos com cuidado, aceitando apenas aqueles que desafiavam sua habilidade ou alimentavam sua busca por redenção. Para Caleb, cada tiro era uma penitência, uma tentativa de expiar o passado e apagar a lembrança da traição de Wilton. As cidades por onde passava contavam histórias de um homem que falava pouco, mas cuja sombra era suficiente para calar até os mais valentões.
Wilton Montenegro, por outro lado, abraçou o apelido "Corvo" com um brilho nos olhos e um sorriso que escondia suas cicatrizes. Carismático e implacável, ele transformou sua fama em uma máquina de riqueza como caçador de recompensas. Vestido com um casaco de couro adornado com detalhes prateados, Wilton era uma presença magnética, capaz de encantar uma multidão em um saloon ou intimidar um fora da lei com um único olhar.
Ele liderava um pequeno grupo de mercenários, homens atraídos por sua lábia e pelo ouro que suas caçadas rendiam. Wilton não caçava apenas por dinheiro; cada captura era um palco para reforçar sua lenda, um lembrete ao mundo – e a si mesmo, de que ele era intocável. Mas, nas noites silenciosas, quando o uísque não afogava seus pensamentos, a memória do aliado abandonado e do olhar de desprezo de Caleb o assombrava.
Onde quer que fossem, suas lendas cresciam como fogo em mato seco. De Tucson a El Paso, de vilarejos esquecidos a cidades fervilhantes, os nomes do Falcão e do Corvo eram sussurrados com reverência e medo. Trovadores cantavam suas façanhas em baladas exageradas, enquanto jornais publicavam manchetes sensacionalistas: "Falcão Abate Bando em Silver Creek!" ou "Corvo Captura Rei do Crime em Doble Pass!".
Mas, por trás das façanhas, havia uma corrente invisível que os puxava um para o outro. Suas trilhas se cruzavam em coincidências eletrizantes, como se o próprio destino estivesse tramando um espetáculo grandioso! Um saloon enfumaçado onde ambos, por um capricho do acaso, erguiam seus copos na mesma noite, o ar crepitando com tensão. Uma recompensa suculenta que os lançava numa perseguição alucinante, cada um disposto a provar sua supremacia.
Um olhar afiado, trocado à distância em uma estrada empoeirada, sob o sol escaldante, carregado de promessas de vingança e glória. Cada encontro era um trovão anunciando a tempestade, um lembrete ardente de que a saga entre eles permanecia inacabada. O Oeste, com sua vastidão selvagem e cruel, não era apenas um palco era um coliseu impiedoso, decidido a arrastá-los, com sangue e fogo, para um ajuste de contas final que ecoaria pelas eras!
Capítulo 2: A Faísca da Rivalidade
Dez anos se passaram desde a traição. Caleb e Wilton se tornaram os maiores pistoleiros do Oeste, suas façanhas cantadas em saloons e impressas em jornais sensacionalistas. Mas a rivalidade entre eles era mais do que uma disputa de ego. Era pessoal cada um queria ser o melhor!
Tudo começou em Santa Clara, quando ambos foram contratados para capturar um ladrão de bancos chamado Tomás Rourke. O que deveria ser uma caçada simples virou um confronto público. Wilton, sempre teatral, desafiou Caleb em plena praça, propondo que o primeiro a capturar Rourke ganharia o direito de ser chamado "o melhor". Caleb, com seu temperamento frio, aceitou, mas não sem lançar um aviso: "Se cruzar meu caminho, Wilton, não haverá conversa."
A caçada terminou em um empate humilhante. Rourke escapou, e os dois pistoleiros, exaustos e feridos, culparam um ao outro pelo fracasso. A partir daí, cada trabalho, cada recompensa, cada duelo tornou-se uma competição. Os jornais adoravam a rivalidade, chamando-a de "a guerra entre o Corvo e o Falcão".
Mas, quanto a Caleb e Wilton, não era apenas uma guerra de reputação — era um embate titânico, uma cruzada feroz e implacável para provar, com sangue, suor e pólvora, quem estava certo! Era uma batalha épica, travada não apenas nos desertos escaldantes e nas cidades empoeiradas, mas nos corações atormentados de dois homens consumidos por seus passados. Cada disparo, cada confronto, era um grito ao céu, uma tentativa de apagar a traição que os dividira e reescrever o destino com suas próprias mãos.
Para Caleb, o "Falcão", era uma questão de honra, de redimir a lealdade que Wilton pisoteara com sua covardia. Para Wilton, o "Corvo", era a chance de provar que sua astúcia e carisma o tornavam mais que um traído, o tornavam um rei. Era uma luta para gravar na história do Oeste, com letras de fogo ardente, esculpidas nas rochas dos canyons e sussurradas nos ventos escaldantes, quem era o verdadeiro mestre! Caleb e Wilton, dois titãs do gatilho, não buscavam apenas a glória passageira, mas a consagração eterna como o homem supremo, cuja lenda brilharia como um sol implacável do deserto, incinerando dúvidas e iluminando os confins do território com sua grandeza.
Cada disparo, cada confronto, era um passo rumo à imortalidade, uma batalha para garantir que seus nomes fossem cantados em saloons, impressos em cartazes e lembrados por gerações, enquanto o outro, derrotado, seria relegado às sombras do esquecimento, reduzido a uma nota de rodapé na saga do Oeste, perdido e sempre na poeira do tempo!
Capítulo 3: O Chamado de Valência
Em 1878, um telegrama chegou às mãos de Caleb enquanto ele descansava em um saloon em Tucson. Era um convite do prefeito de Valência, uma cidade assolada por uma guerra entre duas famílias poderosas: os Martinez e os Cortez. As ruas de Valência haviam se tornado um campo de batalha, e o prefeito prometia uma fortuna para o homem que trouxesse paz. Caleb, cansado da vida errante, viu nisso uma chance de encerrar sua carreira com um último grande feito.
O que ele não sabia era que Wilton recebera o mesmo convite. Quando os dois se encontraram em Valência, a tensão era palpável. O prefeito, desesperado, propôs um acordo: trabalhariam juntos para acabar com a guerra, dividindo a recompensa. Mas ambos sabiam que a verdadeira batalha seria entre eles.
Durante semanas, Caleb e Wilton mergulharam nas entranhas da guerra entre as famílias Martinez e Cortez em Valência, movendo-se como sombras pela cidade assolada. Com uma combinação de astúcia e força bruta, eles desmantelaram as operações criminosas das famílias: interceptaram carregamentos de armas escondidos em carroças de feno, infiltraram-se em reuniões secretas nos porões de saloon e desbarataram redes de informantes que mantinham os Martinez e os Cortez sempre um passo à frente.
Cada confronto com os capangas, homens durões armados com facas, revólveres e um ódio cego pela lealdade comprada, era uma prova de sua habilidade. Caleb, com sua precisão letal, derrubava inimigos com um único tiro, seus olhos frios como o aço de seu Colt. Wilton, por outro lado, usava sua lábia para extrair informações de traidores antes de despachá-los com um floreio teatral, seu revólver girando no dedo como se fosse uma extensão de seu carisma.
Trabalhar juntos, porém, era como caminhar sobre brasas. Cada plano traçado à luz de lampiões, cada emboscada bem-sucedida, trazia ecos de um passado onde a confiança entre eles era inabalável. Caleb lembrava das noites sob as estrelas, dividindo uísque e sonhos ao redor de uma fogueira, quando Wilton contava histórias exageradas que o faziam rir apesar de si mesmo.
Wilton, por sua vez, via nos silêncios de Caleb o amigo que outrora o admirava, antes que tudo desmoronasse. Mas essas memórias eram facas de dois gumes. Para Caleb, a traição de Wilton, o momento em que ele abandonara um aliado ferido para salvar a própria pele, era uma ferida que sangrava a cada olhar, a cada palavra. Ele via no brilho arrogante dos olhos de Wilton, em suas provocações disfarçadas de piadas, uma recusa em reconhecer o erro, uma afronta que o fazia cerrar os punhos.
Wilton, com sua postura descontraída, o chapéu inclinado de forma provocadora e um sorriso sarcástico que parecia desafiar o mundo, lançava comentários mordazes que cortavam como facas. Durante uma emboscada tensa nas colinas de Valência, enquanto capangas dos Martinez disparavam de trás das rochas, ele zombou da "seriedade de coveiro" de Caleb, rindo alto ao vê-lo ajustar o coldre com precisão metódica sob uma chuva de balas.
Cada palavra, cada gesto de Wilton, como o jeito que ele girava o revólver após abater um inimigo ou a maneira que erguia uma sobrancelha ao questionar as estratégias de Caleb, era um teste deliberado, uma provocação para romper a frágil fachada de cooperação. A tensão entre eles crescia como uma tempestade no horizonte, um redemoinho de ressentimentos antigos e orgulhos feridos, pronto para engolir tudo em seu caminho. Cada capanga derrotado, cada operação desmantelada, como a destruição de um depósito de armas dos Cortez ou a captura de um contrabandista-chave dos Martinez, era uma vitória amarga, pois apenas adiava o inevitável.
O verdadeiro confronto não era contra os inimigos de Valência, mas contra o abismo que os separava: a traição de Wilton, ainda uma ferida aberta no coração de Caleb, e o orgulho de Wilton, que se recusava a ceder ou pedir perdão. Enquanto desmontavam as redes criminosas com eficiência mortal, os olhares trocados entre eles, carregados de desconfiança e memórias de uma amizade perdida, prometiam que o ajuste de contas estava próximo, tão certo quanto o nascer do sol no deserto.
Capítulo 4: O Duelo
A guerra em Valência terminou com a prisão dos líderes das duas famílias. A cidade, exausta, celebrou a paz, but para Caleb e Wilton, o trabalho estava incompleto. Durante uma discussão acalorada no saloon, Wilton desafiou Caleb para um duelo final. "Chega de jogos, Corvo", disse ele, com um brilho nos olhos. "Vamos resolver isso de uma vez por todas."
Caleb aceitou o desafio, mas não por orgulho ou vaidade. Uma determinação sombria o movia, um desejo ardente de encerrar o ciclo de ódio que os consumia como um fogo lento, corroendo suas almas por anos. A praça central de Valência, com suas pedras gastas e a sombra irregular da igreja, foi escolhida como o palco daquele confronto fatídico. Ao meio-dia, quando o sol escaldante pairava no zênite, a cidade inteira se reuniu, uma multidão inquieta de rostos ansiosos e sussurros abafados, todos cientes de que estavam prestes a testemunhar o fim de uma era.
O ar estava pesado, carregado com o cheiro de poeira e tensão, enquanto os moradores se aglomeravam nas varandas e becos, olhos fixos nos dois pistoleiros.
Quando o sino da igreja tocou, seu clangor grave reverberando pelas ruas desertas, um silêncio sepulcral caiu sobre Valência. Era como se o próprio tempo tivesse parado, prendendo a respiração. Caleb, o Falcão, estava de um lado da praça, seu chapéu de aba larga projetando uma sombra sobre os olhos penetrantes, a mão direita pairando a poucos centímetros do coldre, os dedos crispados, prontos para o movimento letal.
Do outro lado, Wilton, o Corvo, mantinha sua postura confiante, mas havia uma tensão sutil em seu rosto, um leve franzir de sobrancelhas que traía o peso daquele momento. Seus olhos se encontraram, e naquele instante, o mundo ao redor desapareceu, não havia multidão, não havia cidade, apenas eles, dois homens presos em um destino inexorável.
Por uma fração de segundo, o passado ressurgiu como um espectro cruel. Caleb viu as noites ao redor da fogueira, o crepitar das chamas iluminando o rosto jovem de Wilton enquanto contava histórias exageradas, arrancando risadas raras do Falcão. Viu os momentos de camaradagem, os juramentos de lealdade feitos sob um céu estrelado, e então, a traição, o instante em que Wilton virou as costas, deixando um aliado para morrer, partindo o coração de Caleb com a frieza de sua escolha.
Wilton, por sua vez, viu o olhar de decepção de Caleb, um peso que carregava em segredo, mascarado por sua arrogância. A dor, a culpa, o orgulho, tudo isso pulsava entre eles, tão palpável quanto o calor do deserto. O vento soprou, levantando uma nuvem de poeira que dançou entre os dois, e o momento se esticou, cada batida de coração ecoando como um tambor de guerra.
A multidão na praça central de Valência estava petrificada, o ar denso com a expectativa de um momento que entraria para a história. Alguns, com o coração na garganta, fecharam os olhos, incapazes de suportar a tensão; outros, hipnotizados, fixavam o olhar nos dois pistoleiros, como se o próprio tempo tivesse parado. O sol do meio-dia, cruel e implacável, lançava reflexos ofuscantes sobre as pistolas nos coldres, enquanto o vento carregava o leve tilintar de esporas, um som que parecia ecoar como um presságio.
Caleb, o Falcão, mantinha sua postura rígida, os olhos cinzentos cravados em Wilton com uma intensidade que cortava como uma lâmina. Wilton, o Corvo, exibia um meio-sorriso, mas seus olhos traiam a gravidade do momento, brilhando com uma mistura de desafio e algo mais profundo, talvez arrependimento. As mãos de ambos, calejadas e precisas, moldadas por anos de duelos mortais, pairavam a centímetros dos colts, os músculos retesados como cordas de um arco prestes a disparar.
Cada batida de coração parecia durar uma eternidade, cada gota de suor escorrendo pelas têmporas era uma contagem regressiva. O sino da igreja, que marcara o início do confronto, ainda ressoava em ecos distantes, e o silêncio que se seguiu era tão opressivo que até o farfalhar das roupas da multidão parecia abafado. De repente, em um piscar de olhos, mais rápido que o pensamento, as pistolas foram sacadas, o brilho do aço reluziu como um raio sob o sol impiedoso, cortando a luz em fragmentos cegantes.
Epílogo
O som dos gatilhos sendo puxados ecoou como trovões gêmeos, e naquele instante fugaz, o destino de Valência, das lendas do Falcão e do Corvo, e de uma rivalidade forjada em sangue e traição ficou suspenso no ar, à mercê de um único, irreversível momento mortal. A poeira se ergueu em véus dourados sob o sol ardente, do meio-dia e quando o silêncio voltou, a praça central de Valência parecia congelada no tempo. Dois corpos permaneciam de pé, mas apenas por um instante. Wilton, o Corvo, cambaleou, sua mão apertando o peito onde o sangue escorria, manchando sua camisa impecável. Caleb, o Falcão, ficou imóvel, o ombro direito sangrando, o colt ainda fumegante na mão.
A multidão, atônita, não ousava se mover. O sino da igreja tocou uma última nota, como se lamentasse o desfecho. Wilton caiu de joelhos, o sorriso irônico que sempre o definira agora tingido de algo, sua a propria noção muito mais profundo, possivelmente arrependimento, todavia era aceitação. "Você sempre foi... o melhor, Falcão", murmurou, a voz fraca, antes de tombar na terra seca. Caleb, om o rosto endurecido pela dor física e emocional, guardou a pistola no coldre, ignorando o sangue que escorria por seu braço. Ele não olhou para a multidão, nem para o corpo de Wilton. Seus olhos fixaram-se no horizonte, onde o deserto se estendia, vasto e indiferente.
Nos dias que se seguiram, Valência tentou retomar sua rotina, mas o duelo marcara a cidade para sempre. Os jornais do Oeste publicaram manchetes sensacionalistas, chamando o confronto de "O Fim dos Pássaros de Rapina". Cantadores de saloon transformaram a história em baladas, cada uma mais exagerada que a anterior, mas nenhuma capturava a verdade: o peso de uma amizade destruída, o custo de uma traição pelo virar as costa ao parceiro em um tiroteio, como fizera Wilton, o vazio de uma vitória.
Caleb deixou a cidade ao amanhecer do dia seguinte, sem aceitar a recompensa oferecida pelo prefeito. Montado em seu cavalo preto, ele desapareceu na imensidão do deserto, levando consigo suas cicatrizes e seus silêncios. Dizem que o Falcão nunca mais sacou uma arma. Alguns afirmam que ele se estabeleceu em uma cabana isolada nas montanhas, vivendo como um eremita, assombrado pelas memórias passadas e noites ao redor da fogueira, companhia dos coites.
Outros juram que ele cruzou a fronteira, buscando redenção em terras desconhecidas. A lenda do Corvo e do Falcão sobreviveu, contada em sussurros por vaqueiros e em gritos por crianças brincando de pistoleiros. Mas, para aqueles que testemunharam o duelo em Valência, a verdade era clara: aquele não fora um confronto de velocidade ou habilidade, mas um acerto de contas com o passado, um epitáfio para dois homens que, no fundo, nunca deixaram de ser irmãos, o que causou ainda mais dor ao agoira velho Falcão. Fim!